Um olhar de compaixão

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Josh

Paro a moto um pouco afastada do destino e seguro na mão de Sam, a guiando para um caminho cheio de folhas e flores em volta.

- Que lugar bonito - ela observa as flores de diferentes espécies.

- Guarde seus elogios, ainda não chegamos.

Quando termino de falar, contemplamos uma área mais aberta, que ainda é rodeada de folhas e flores, no meio desse lugar contém um banco simples de madeira.

Sam solta um sorriso sincero e olha ao redor maravilhada.

- Como você encontrou esse lugar? - ela me encara com brilho nos olhos.

- Quando o meu pai e minha mãe discutiam, ela me trazia aqui as vezes, isso só acontecia quando a briga era muito feia. Minha mãe usava esse lugar para se acalmar, para pensar, para tirar o peso da realidade das costas. Então, eu decidi trazer você aqui.

Sam me encara confusa, sem entender aonde eu quero chegar com isso.

- Vem aqui - pego na sua mão de novo e caminho até o banco, nos sentamos e encaramos um ao outro.

- Eu reconheço que não sou a melhor pessoa para você conversar, para falar sobre como anda a sua vida, para desabafar. E eu não espero que faça isso Sam, não espero que confie em mim, não espero que que você me perdoe. Porque eu não estou aqui para arrumar as coisas. Apenas quero conversar com você, quero estar aqui quando você precisar.

Ela pisca várias vezes tentando absorver todas as palavras que saíram da minha boca.

Sei que pode ser um pouco tarde para ser amigo dela, para apoia-lá, mas eu gosto de estar com ela. Sinto como se fosse a coisa certa a se fazer.

- Josh, eu...quero sim a sua companhia e valorizo a sua sinceridade. E que saber de uma coisa? Por muito tempo eu te culpei, e te odiei. Mas também culpei a mim mesma, me senti impotente por não conseguir te chacoalhar e dizer "Ei Josh, esse não é você", me senti irritada por você não se importar, me senti triste por você ir embora de repente. Eu não quero jogar tudo em cima de você e nem resolver todo esse drama de uma só vez. Quero esclarecer que fomos dois idiotas! Você por me afastar sem nem contar o que estava acontecendo, e eu por ir embora sem ter lutado o bastante por você.

Ela me olha com as sobrancelhas franzidas, com os olhos perdidos...como se estivesse tentando entender toda essa confusão.

- Eu devia ter ficado Josh, eu devia... - Sam para de falar quando eu lhe dou um abraço, por alguns segundos ela fica sem me retribuir, presumo que seja o choque. Mas logo ela passa os braços pelo meu pescoço, me abraçando apertado.

De alguma forma, o meu coração esquenta apenas com esse simples abraço, me sinto extremamente feliz de poder conversar com ela e resolver, em parte, a nossa história.

Nos separamos do abraço e ela dispara uma pergunta sobre algo que me aterroriza até hoje.

- Mas afinal, por que você agiu daquela forma?

- É que... - ela nota o meu desconforto.

- Se não quiser, não precisa me dizer Josh. Não tem problema.

- Não, eu tentei ignorar esse acontecimento por muito tempo, e de qualquer maneira você merece saber - dou uma pausa e olho para a grama verde em meus sapatos.

- Lembra que eu te disse que meus pais discutiam? - ela balança a cabeça dizendo que sim - Não eram brigas simples, muitas vezes essas brigas passavam dos limites. Meu pai sempre foi muito impulsivo e tem um sério descontrole de raiva, ele...batia muito na minha mãe e as vezes em mim também. Quanto mais minha mãe tentava me defender, mais ela apanhava. Eu me sentia horrível por não conseguir ajuda-lá...eu tentei várias vezes Sam, eu juro que tentei. Teve um dia que ele passou de todos os limites cabíveis, minha mãe respondeu ele no meio das agressões e ele ficou louco de raiva, bateu tanto nela que ela começou a cuspir sangue e implorar misericórdia... - lágrimas descem pelo meu rosto e eu as limpo rapidamente, quando eu conto essa história é como se eu estivesse revivendo ela de novo.

Sam me olha com um olhar de compaixão e coloca sua mão na minha bochecha, me incentivando a continuar.

- Depois que a briga terminou eu corri para a minha mãe que estava na chão desmaiada e cheia de hematomas, eu disse para ele sair de lá, para ele sumir. Achei que ele ia me bater, que ia acabar comigo como fez com a minha mãe, mas o que ele fez foi pior. Ele disse que eu era como ele, que um dia eu ia entender o que ele fazia por nossa família, que um dia eu ia ter uma esposa e ia ter que educar ela como ele fazia, disse que eu era exatamente como ele e foi embora. Após sair da nossa casa naquele dia, ele nunca mais voltou. Descobrimos que ele foi preso em outro estado por um crime envolvendo assassinato, minha mãe prestou queixa contra ele e o que era 25 anos de cadeia, virou prisão perpétua.

- Você não é igual a ele Miller, nunca vai ser.

Seguro e solto a respiração, me sentindo mais leve.

- Me desculpe por não ter te contado, foi uma época muito difícil pra mim. Tentei tirar isso da cabeça, tentei fazer coisas diferentes para me distrair e esquecer por pelo menos alguns minutos.

- Não precisa se desculpar por nada! Isso foi horrível Josh, eu sinto muito por você ter passado por isso, por eu não ter percebido antes...

- Está tudo bem Sam, como você disse...somos dois idiotas - sorrimos um para o outro.

Sam encosta sua cabeça em meu ombro e conta como é sua vida em Nova York, os lugares legais que visitou, a cafeteria incrível que tem perto da sua casa, a faculdade de Arte que ela quer tanto fazer e os amigos nova-iorquinos que fez por lá.

A vida dela parece ser tão feliz em NY...não há nenhuma razão para não voltar para lá quando a Lisa chegar de viagem. Não tem nada que segure ela aqui e isso me causa um sentimento ruim. Talvez eu esteja sendo um completo egoísta? Sim. Mas eu não me incomodo nenhum pouco de ser assim.

Olho no meu celular e já são 13:40, chamo Sam para irmos embora e a levo para casa.

Vou em direção a minha casa pensando sobre as horas que passei com Sam hoje. Parece que quando estou com ela, nem vejo o tempo passar.

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