Abriram-se, então, as cortinas carmesins para o verdadeiro espetáculo. Os pecados do passado ressoando como sombras que nos perseguem.
— Está mentindo! — a voz de Arthur preencheu o ambiente. — Como assim você não é a minha mãe? Como assim ele é o meu irmão?
As máscaras caíam como as folhas vermelhas de um bordo em pleno outono. Cameron e Edgar, usando de seu bom senso devido a gravidade da situação, a Sra. Callum e o Sr. Callum decidiram cuidar de seus afazeres, e Lady Farrell achara a apresentação estridente e confusa, e sem mais ou menos, recolheu-se para os seus aposentos, meramente insatisfeita com aquela nada conveniente celebração de fim de ano (mas apreciara muito o robalo e o salmão que comera horas antes). Logo mais, Fanny, Tessa, Leofrick e Cameron partiram, visto que aquilo tratava-se de uma tensa discussão familiar. Antes de partir, o rapaz deu um leve aceno para Cecilia. Edgar foi o único que ainda ficou, vide que temia que Arthur perdesse a cabeça mais uma vez.
Arthur tinha o semblante incrustado no mais denso espanto. Mal conseguia acreditar nas palavras que brotaram dos lábios de Charlotte.
— Está mentindo, mãe! — Arthur esbravejou, o sangue sobressaindo seus lábios.
— Já lhe disse, Arthur, eu não sou a sua mãe. Não posso mais suportar viver em uma mentira.
— A chamei de mãe pela vida inteira. Se não és a minha mãe, então, quem é?
— Elizabeth Saint-Clair, minha irmã mais velha. Ela é a verdadeira mãe de vocês.
— Então, você... é...
— Sou a sua tia. Sua e de Nicholas.
Charlotte tinha os olhos mui marejados. Tocou a face de Arthur que estava muito eufórico, mas ele apartou a mão dela em um movimento brusco, lançando-a para o lado. Alden aproximou-se dela, afagando os seus ombros, consolando-a.
— É verdade, Artie — Alden tentava tranquilizá-lo. — Nicholas é o seu irmão. E a Sra. Charlotte é a sua tia.
— Você também estava a par disto, Alden? — Arthur olhou-a atônito.
— A Sra. Charlotte contou-me pouco tempo atrás. Mantive segredo até então. — Alden tinha a voz acuada.
— Todos mentiram para mim. Todos me enganaram. Até você, Alden! — ele não conseguia mais esconder a decepção em sua voz.
— Por favor, Arthur, não brigue com a pobre Alden. Ela só fez aquilo que eu lhe pedi. — Charlotte queria achegar-se ao coração de Arthur.
O jovem Saint-Clair sentou-se na beira do palanque, completamente desolado.
Nicholas jazia igualmente inconsolável. Sequer deu-se conta de Alessia jazia ao seu lado, segurando em uma de suas mãos. Charlotte virou-se para o rapaz de olhos cor de mel, as lágrimas ardendo no olhar dele.
— Meu sobrinho — Charlotte disse de forma mais serena.
As palavras se esfarelavam em seus lábios carmim. O tempo estava parado, suspenso por uma frágil teia. A voz de Charlotte tornou a preencher o ambiente mais uma vez.
— Pedir perdão nunca será o suficiente. Sem dúvida, sequer sou digna em pedir perdão para ti.
A garganta de Nicholas estava quase se fechando, estava ressecada, quase sangrando. Ele queria gritar, fazer seus ânimos explodirem em fúria, chorar, ter alguma reação, mas somente conseguia ficar estático sem nem mesmo conseguir respirar direito. A única coisa que não o fazia desabar perante realidade cruenta era estar de mãos dadas à Alessia, seu fio de sanidade.
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Colina dos Ventos Verdes
Ficción histórica"Ele é o meu noivo!" Foi esta a frase que selou o destino de Alessia. Uma pequena mentira que logo seria uma grande dor de cabeça. Alessia Victoria Kingstone sofre pressões por parte de sua madrinha, uma lady muito rígida, e de suas amigas bajulador...