Capítulo 12

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Alessia despertara ansiosa pelo novo dia. Sentia-se radiante, e ao mesmo tempo, bem encrencada. Firmou o pé direito no chão e tratou de pentear o cabelo com o pente que estava posto em cima da sua mesinha de cabeceira. Suspirou profundamente encarando a luz do sol que escapava gloriosa por entre as brechas das cortinas. Era o seu ritual de todas as manhãs. Caminhou até ao toucador, lavando pacientemente o rosto na bacia com água. Foi até o biombo branco de madeira estampado com pequeninas flores cor-de-rosa e livrou-se por fim de sua camisola.

Ainda trajando apenas sua roupa de baixo — que nada mais era que ceroulas femininas e uma blusa de algodão com cordões na frente — sentou-se no acolchoado da janela de seu quarto que dava diante para o jardim. As flores cresceram de maneira tão desgovernada que quase invadiram seus aposentos. Apesar da Sra. Callum desejar arrancar as flores pela raiz, Alessia não deixara que a senhorinha fizesse tal maldade e permitiu que as flores crescessem livremente e enfeitassem a parte de fora da janela de seu quarto. Sentia-se lisonjeada somente ao acordar e sentir o perfume das mesmas. Observava as borboletas que vangloriavam-se de seu voo além da vidraça.

Nicholas estava esforçando-se naqueles dias, prestando a devida atenção em cada mínimo detalhe, e aprendendo com afinco como agir tal qual um cavalheiro. Alessia esboçou um enorme sorriso no rosto. Quiçá, orgulhosa por ele.

Com a ajuda de Cecilia, pudera escolher um vestido que usaria naquela manhã.

💠

Nicholas despertara no dia seguinte, sob o som dos pássaros que voavam alegremente sobre os abetos. Eram nove horas da manhã, assim indicava o grande relógio de pêndulo que ocupava seu lugar ao lado do aparador de madeira com taças vazias e uma garrafa decorada de rum. Ele deu-se finalmente conta de que havia dormido, e dormido demasiado, na poltrona. Sobre ele, uma manta de lã o cobria. Tal pessoa que fizera isso era por demais cautelosa, pensou logo, na Sra. Callum. Sentia uma leve dor no pescoço. Foi uma péssima ideia ter cochilado ali, no entanto, o rapaz já havia dormido em lugares muito mais desconfortáveis. Becos sujos e mesas de tavernas eram os típicos lugares das quais adormecia e não sentia orgulho nisto.

Espreguiçou-se, ainda zonzo pelo sono, quando foi surpreendido pelas portas da sala de estar abrindo-se perante ele e deparando-se com uma dama de cabelos curtos e loiros, que resplandecia em seu vestido de brocado esverdeado. Ela parecia surpresa por contemplá-lo ali.

— Pensei que você tivesse dormido em vosso quarto, Sr. Whitehouse. Se eu soubesse, teria o acordado.

— Sinto muito. Eu dormi por cinco minutos, e acabei adormecido por uma noite inteira.

— Não faz mal. Estavas mesmo cansado. Admito que estendi demais as lições e não as amenizei para ti.

— Creio que não posso ficar em guarda baixa. Não seria adequado se me pegassem dormindo pelos cantos. Seria uma confusão dos infernos.

— Linguajar, Sr. Whitehouse, linguajar.

Ela sorriu, mas escondeu seu sorriso virando a cabeça para o lado. Após, voltou-se para ele, muito decidida.

— Temos um dia inteiro pela frente — Alessia bateu palminhas, mui impetuosa. — Lave o rosto e tome o desjejum.

Nicholas levantou as mãos, completamente rendido. Mesmo não admitindo, estava acostumando-se a obedecer aquela dama tão mandona.

(...)

E, assim foi. Após o desjejum e uma muda de roupa, Nicholas desceu as escadas e foi até a biblioteca, seu lugar de encontro com a garota que pensava ser algum arauto do conhecimento. Assim que abriu a porta, deparou-se com Alessia estava sentada ao chão, e ao redor dela em um círculo perfeito, jaziam espalhados no chão dos seus aposentos alguns folhetos amassados. Para alguns olhares despercebidos, apenas pedaços de papel sem importância. Para ela, um tesouro perdido.

Colina dos Ventos VerdesOnde histórias criam vida. Descubra agora