Capítulo 17

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Os convidados praguejavam, pulantes e eufóricos atrás do ágil suíno, pois todos queriam ter a oportunidade de agarrar o colar de diamantes para si. As damas levantavam as saias para correr melhor, e esqueciam até mesmo dos modos, os cavalheiros aparentavam terem retornado à infância.

Pela balbúrdia que tornou-se o piquenique, Alessia entendera porque Lady Farrell não gostava dos Evans. E antes mesmo de começar a caça ao leitão, Alessia afastou-se de todos e foi para os pomares com maçãs escarlates, no entanto, não poderia imaginar que um certo cavalheiro desaforado havia a seguido.

O Sr. Hughes, era um jovem de seus vinte e três anos, herdeiro de terras e palácios, e também, era um homem que não sabia — e nem tolerava — perder.

Oh, e como Alessia estava ficando aborrecida com a petulância daquele homem. Ela teria de ser uma tola para não notar os olhares dele semelhantes à lâmina de uma afiada navalha sobre ela. Ao que parecia, ainda jazia aborrecido por não ter sido ele, o seu precioso escolhido. Ou isso, ou ainda não a perdoara pela troça que Alessia fizera, entregando para ele uma peluda taturana dentro uma enfeitada caixinha de presentes. 

E lá estava ela, parada diante do pomar, mantendo uma boa distância do cavalheiro persistente. 

— Quero ficar sozinha, Sr. Hughes. Acaso não sabe respeitar a privacidade de uma dama comprometida, e além de lançar olhares nada sutis, precisa persegui-la? Acho que já demos nosso assunto por encerrado. Não tenho quaisquer interesses em suas conversas pertinentes.

— Apenas queria falar com a senhorita a sós, se me permite.

— O que queres afinal, Sr. Hughes? O que tens de conversar com tanta urgência comigo? Já tiveste minha atenção por hoje.

— Soube de antemão que o Sr. Evans organizaria a famigerada caça ao leitão. Ele faz isso todos os anos. Sempre faz o animalzinho correr desembestado com alguma joia valiosa para atiçar os convidados entediados.

— E? — Alessia estava incomodada com aquele sujeito. — Disto também sei.

— Como eu soube que este ano o leitão correria com um colar de diamantes, tratei de adiantar-me nesta corrida. Desta vez, não serei passado para trás. — Hughes tirou do bolso do casaco um colar cravejado com pequenas pérolas e com uma grande pedra translúcida que formava um arco-íris sob os raios de sol.

— O que significa tudo isto? Como conseguiu o colar se ninguém ainda pegou o leitão?

— Ontem mesmo, ordenei que meu criado trocasse os colares, enquanto o leitão ainda estava em sua jaula. O colar que o leitão está mantendo em seu pescoço e todos estão ouriçados correndo atrás, é falso. Este é o verdadeiro.

— E creio que tenha ameaçado vosso pobre criado com a morte, suponho. Usou de trapaça apenas para impressionar a si mesmo?

— Não, Srta. Kingstone, peguei este colar exclusivamente para ti!

— Para mim? — Alessia mantinha-se desconfiada. — Creio não necessitar dele, caro senhor. Não posso aceitá-lo.

— Recusa o meu presente sincero, Srta. Kingstone?

— Lamento — Alessia fez uma pequena pausa, notando a tensão na face dele, e então, retornou a falar. — Ademais, não deveria estar no piquenique, Sr. Hughes? Tenho quase certeza de que alguma dama deve estar a procurá-lo neste momento para uma afável conversa. Não quero soar como uma mulher de caráter miserável, mas não posso aceitar seu presente, não seria o certo.

— Dispensa-me como se eu fosse um trapo velho. Novamente isto?! — a aura de calma do rapaz esvaiu-se. — Pelo que vejo não temes o poder de minha soberana linhagem. Zombou de meus nobres sentimentos, Srta. Kingstone. Tratou-me como um nada. És uma dama mimada que não teme a ira de um homem magoado. 

Colina dos Ventos VerdesOnde histórias criam vida. Descubra agora