Colina dos Ventos Verdes

Capítulo 21

As árvores, outrora adornadas com folhas verdejantes, renderam-se à magia do outono, trocando suas vestes pela paleta de tons dourados, vermelhos e alaranjados. As folhas de bordo tingiam o ar conforme caíam ao chão, levadas pela brisa. Assemelhavam-se a uma lembrança vulnerável.

Já não mais se falava a respeito do afamado piquenique da família Evans, pois, outra vez, Alessia era assunto no vilarejo, o que deixava-a extremamente incomodada. Quando não falavam a respeito de sua solteirice, agora, comentavam a respeito de seu noivo. Era um ultraje! As pessoas não tinham outra coisa para fazer, além de fofocar a respeito da vida alheia.

Passado algum tempo após as revelações de Nicholas, Alessia estava completamente sentimental pelo rapaz. Por vezes, distraía-se a ler um livro qualquer, e pegava-se a lembrar das confidências dele. E, também, não conseguia parar de lembrar em como Nicholas relatou a respeito de seu aniversário, e principalmente, da bondosa dama que sempre lhe trazia guloseimas em uma data tão especial. De fato, a moça ansiava em fazer algo por ele.

Jazia distraída, sentada na janela acolchoada da sala de estar com o livro aberto sobre as pernas, olhando para além da vidraça que ela embaçava com seu hálito quente e perdurava a fazer desenhos aleatórios com a ponta dos dedos. Por mais que quisesse, não conseguia fugir de seus pensamentos razoáveis. Assustou-se quando uma moeda dourada atravessou seu campo de visão, trazendo-a de volta à realidade.

— Um xelim por seus pensamentos, Raio de Sol — Nicholas disse, brincando com a moeda, movendo-a de um dedo para o outro.

— Ora, como és atrevido, Sr. Whitehouse. Somente por causa disto não lhe direi o que se passa em minha mente.

— Não sejas tão maldosa.

Ela tamborilava os dedos em cima da capa do livro, divertindo-se com a expressão curiosa dele.

— Não é decente que um cavalheiro conheça tão perpetuamente os pensamentos íntimos de uma dama. Às vezes, é bom uma mulher guardar certos segredos de um homem, sobretudo de um homem, e se desvelar aos poucos.

— Direta como uma flecha. Mas, não você não poupou-me noutra noite, exigindo saber tudo sobre o meu fatídico passado. Esgotou os meus segredos, Raio de Sol.

— Isto é diferente — Alessia corou. — A minha vida não é excitante como a sua. No mais, guarde seu xelim.

— Entrego-te a moeda mesmo assim. De nada me serve um xelim.

Ela recebeu a moeda, e assim que o rapaz retirou-se, por impulso, ela fechou-a em sua mão e apertou a moeda contra o peito. Naqueles dias, o jovem estava meio inquieto, embora disfarçasse muito bem com seus sorrisos arrebatadores e seu jeito descontraído, porventura estava naquele estado de inquietação pelo aparecimento de Arthur Saint-Clair que o incomodava, e Alden Fitzberg que um dia foi a sua musa. E era naquilo que Alessia pensava. Dois amigos de infância que amavam a mesma mulher, e estavam destinados a serem inimigos. Somente por imaginar que Nicholas amava Alden, novamente, o coração de Alessia apertou-se impiedosamente dentro do peito.

Ora, eles estavam envolvidos em um pacto, uma mentira sobre um falso noivado. Ela não deveria importar-se tanto com ele, pois no fim das contas, nada passava de uma mera ilusão. Ou talvez não. Decerto, o Sr. Franklin estivesse certo quando a confrontou pela última vez. Ela havia criado uma história fantasiosa, e agora, acabara por acreditar que era verdadeira.

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Como Alessia prometera para ele, assim que passado fosse o piquenique dos Evans, Nicholas teria os seus tão sonhados dias de folga, e mais do que depressa, combinou de não desperdiçá-los.