Ao despertar naquela manhã, Nicholas esfregou os olhos cansados e sentou-se na cama, bocejando preguiçosamente, a espera de recobrar as energias perdidas. O cabelo mui desgrenhado caía sobre os olhos. Não sentia mais dores no corpo ou qualquer sinal de febre. No entanto, estranhava o ambiente dos aposentos da qual dormira, pois não conhecia o lugar da qual descansara e, ademais, perdera plenamente a noção do tempo.
Seria ultrajante passar mais um dia naquela residência, a depender da bondade alheia, pois como ele descobrira da forma mais difícil, não existiam favores de graça ou boas ações que não fossem cobradas mais tarde. Desconheceu as vestes que trajava (um roupão de algodão), pois alguém trocou sua vestimenta enquanto ainda estava atormentado pela febre, e notou que as roupas que dantes jazia vestido estavam sobre uma cadeira no canto do quarto. Para a sua surpresa, estavam bem lavadas, pois as manchas de sangue e lama haviam sumido, e foram dobradas com muito esmero. Vestiu a calça desbotada, a camisa com alguns furos e o casaco surrado em prontidão e saiu do quarto. Jazia descalço, pois como havia se lembrado anteriormente, deixou suas botas para trás, enterradas em uma poça de lama.
Assim que pôs o pé para fora do quarto, reparou no silêncio que jazia na mansão. Não haviam criados a andar pelos corredores, ou mesmo, vozes de pessoa. Pensou ele, que estava em uma mansão mal-assombrada, devido a quantidade exagerada de quadros e pinturas penduradas nas paredes com faces de pessoas deprimidas, vestidas em trajes de cores sombrias. Os olhares deles pareciam segui-lo conforme andava pelas alas. Era como se as pessoas naqueles retratos de molduras funestas o vigiassem e Nicholas sentiu uma desfavorável sensação de mal-estar. Continuou a andar pelo imenso lugar até descer as escadarias e deparar-se com o hall da casa. Seguiu por outro caminho que ele lembrava vagamente em ter passado dias antes, quando fora castigado pela chuva e quase morto por suas feridas, e então, recordou-se de que estava a caminho da cozinha. Outrossim, o cheiro convidativo da comida subiu-lhe as narinas e atiçou seu estômago, fazendo barulhos nada graciosos. Prosseguiu sua andança em aventurar-se pela casa.
A Sra. Callum foi até o caldeirão, suspenso sobre a abrasante lareira, mexendo a colher de pau. Parecia se divertir enquanto flutuava pela cozinha, salpicando um tempero e outro no ensopado borbulhante. No momento em que seus olhos fitaram a silhueta do rapaz a encará-la parado na entrada da cozinha, como se fosse um espantalho, a senhorinha quase gritou.
— Que susto, meu rapaz! Pensei que era um mero desconhecido. Quase não o reconheci. Acho que espichastes com o tempo que passou deitado. Ora, não deverias estar descansando? É quase um milagre que tenha se recuperado tão fácil.
— Queira perdoar-me, senhora, mas onde encontra-se a senhorita desta casa?
— A menina Alessia acordará um pouco mais tarde. A pobrezinha passou boa parte da noite a ler e quando percebeu, havia virado metade da madrugada. Sempre digo para ela não ficar lendo tão tarde, pois pode acabar estragando a visão dela. Mas, ela fica tão contente quando por fim conta o resumo do que leu. Sua expressão passa de angustiada a emocionada, de triste para exultante em um piscar de olhos. O que gostaria de tratar com ela, meu jovem?
— Não quero ser uma pedra no sapato de ninguém, e como me sinto melhor, creio que seja a hora de partir.
— De forma alguma vai partir de estômago vazio! Acha que eu não notei que estava com os olhos pregados no caldeirão? Trate de sentar-se, que vou preparar um desjejum para ti. E nem pense em ir embora da Colina dos Ventos Verdes sem provar de minha comida.
— Mas, senhora...
— Menino, não seja teimoso. Ninguém entra em minha cozinha e sai daqui com fome.
Nicholas ficou quieto, enquanto a Sra. Callum preparava a pequena mesa redonda de madeira. Pôs os ovos cozidos para ele, chá, cogumelos e torradas com geleia de morango, enquanto gabava-se de que fora Cecilia, sua filha, quem fizera a tal geleia. O rapaz fartou-se e comeu tudo sem reclamar. Então, a Sra. Callum notou que o rapaz jazia descalço.
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Colina dos Ventos Verdes
Fiksi Sejarah"Ele é o meu noivo!" Foi esta a frase que selou o destino de Alessia. Uma pequena mentira que logo seria uma grande dor de cabeça. Alessia Victoria Kingstone sofre pressões por parte de sua madrinha, uma lady muito rígida, e de suas amigas bajulador...