Capítulo 41

999 150 100
                                    

Assim que a inelutável tarde de domingo chegara, com ela viera a aflição que formava um embrulho no estômago de Alessia. 

Depois de passar o sábado inteiro trancada em seus aposentos, necessitava encarar a realidade.

Ela havia escrito algumas palavras em sua mão esquerda, em um débil indício de como iniciar uma conversa com Nicholas. A palma ficou suada ao ponto das palavras se apagarem e ficar apenas um borrão escuro indescritível em sua pele. Ela estava exasperada para falar com ele outra vez, e principalmente, para falar a respeito do beijo que tiveram na madrugada anterior, a madrugada inesquecível de sábado.

Mas o que deveria ser uma simples conversa para resolver o mal-entendido entre eles, arrastou-se em uma manhã de fugas e desencontros frustrantes. Era como se Nicholas lhe escorregasse por entre os dedos como a areia da praia. O sumiço do rapaz, se é que poderia chamar-se assim, perdurou-se durante o dia inteiro, até a chegada de Alden, Arthur, e Fanny, na Colina dos Ventos Verdes, e patentemente Alessia entendera a desfeita dele em não querer falar consigo como algo desprezível.

Nicholas não conversou com Alessia a respeito do famigerado beijo, e ela tinha até mesmo a impressão de que o rapaz a ignorava. Não era impressão. Ele estava mesmo a ignorando, o que muito magoou Alessia. Desdenhava dela, era assim que ela achava.

No entanto, aquele era um jogo que podia ser jogado por dois. Alessia era toda sorrisos com os convidados que sempre compareciam à mansão, e evitava cruzar olhares com Nicholas, embora não fosse difícil para ele.

— Não venho com boas notícias, infelizmente — Arthur disse. — A senhorita Felicia Byrne renunciou em continuar na peça. Declinou. Enviou-me um recado completamente irritada, não poupando toda a espécie de adjetivos ásperos, sobre como não estávamos valorizando o talento raro dela. A Srta. Clementine Smith sentiu-se culpada por achar que, por causa dela, a amiga recusa-se a fazer parte da peça. E, então, ela também saíra da peça por não se achar suficiente para o papel. Exageradamente, limpava as lágrimas inexistentes em minha frente e assoava o nariz, em uma chamativa tentativa em causar algum tipo de compaixão para si mesma. Mas eu estava ocupado demais com o curso da peça, para ter de me importar com seu gesto falho, e ela logo desistiu de tentar dramatizar. 

Para Alessia, duas pessoas a menos na peça teatral significaria que novamente deveria mudar os rumos da história o que, mais uma vez, era um completo desastre para ela. Modificaria tanto a sua criação que no fim do dia mal a reconheceria.

— Uma pena elas terem saído — Alden foi a primeira a falar, de maneira muito amena. — Isso significa que os personagens delas provavelmente serão reescritos.

— Oh, temo que não há mais tempo — Alessia disse, apressada, temendo ter de reescrever a peça novamente. — Eu posso substituir Felicia na peça, afinal, Amina é uma personagem com poucas falas, poderei decorá-las rapidamente em uma noite. E me esforçarei para vestir a máscara de uma mulher rancorosa e desagradável.

— E eu talvez posso ficar no lugar da Srta. Smith — Cecilia também falou, mui tímida, sentindo-se quase uma intrusa. — Quero substituí-la, já que o papel dela era ser a amiga coadjuvante de Micaela, e não exigirá que eu decore as falas com tanto ímpeto. 

— Perfeito, Cecilia — Fanny batia palminhas. — Afinal, eu tinha o desejo ardente de que você fosse participar da peça.

— Melhor assim! Achei a Srta. Felicia Byrne extremamente equivocada — Arthur disse, friamente. — Ela colocou-se um valor que não possui. Estou farto de ter que lidar com pessoas superestimadas e de ego estupidamente inflado. Mal sabia ela que seu papel era curto, ninguém veria este "talento raro" que a Srta. Byrne tanto se gaba.

Colina dos Ventos VerdesOnde histórias criam vida. Descubra agora