Capítulo 1

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— Você vai se casar, mocinha!

Uma voz autoritária percorria pelas paredes e pilastras da Colina dos Ventos Verdes. Uma senhora de cenho franzido encarava com altivez uma jovem dama, que jazia sentada a ler um livro sem qualquer preocupação, pois tal sentença imposta pela outra já era familiar para ela.

Este era o ultimato que Alessia Kingstone escutava desde os seus quinze anos de idade, e paulatinamente, começava a ficar enfastiada com tamanha petulância de sua madrinha. Palavras ácidas vindas diretas dos lábios de Lady Agnes Farrell, a única pessoa que ainda tolerava seu temperamento.

Aos poucos, a jovem dama aborrecia-se com a pressão causada pela senhora mais velha. Escutou a sentença dada por Lady Farrell, enquanto fingia ler a página de um livro passando cuidadosamente a ponta do dedo na língua e em seguida, a folhear a folha de papel, ficando estagnada em uma única frase, pois era impossível ler quando havia uma senhorinha irritada cobrando-lhe atenção. Aquilo muito irritava Lady Farrell. O pouco caso que sua afilhada fazia sobre as questões matrimoniais.

Segundo a lady, Alessia era uma moça de riquezas deslumbrantes, bens estes deixados pelos seus finados pais, mas de beleza trivial ou sequer chamativa. Verdade que possuía um rosto de feições belas e cativantes olhos castanhos, contudo, a garota havia se livrado de suas longas mechas loiras. O cabelo pendia curto, na altura da linha do queixo. Não era decente, segundo Lady Farrell, que uma dama mantivesse as madeixas tão ridicularmente pequenas. A pele dela era mui pálida, devido ao fato de quase nunca sair das comodidades da Colina dos Ventos Verdes.

Lady Farrell desejava que Alessia se casasse muito em breve. Não pelo motivo altruísta em almejar contemplar sua afilhada feliz, mas porque temia que ela morresse solteira afundada em um marasmo de solidão. Não necessitava dizer em voz alta, mas Alessia sentia que sua madrinha desejava que ela se casasse o mais rápido possível, porque a via como um fardo. Lady Farrell mantinha a face severamente presa no mais puro azedume. Ela era esbelta, apesar da idade não demonstrava sinais do tempo, tinha fios grisalhos sobre os cabelos loiros, os olhos azuis mui altivos, porém ainda tinha uma beleza jovial. Trajava roupas elegantes, um pesado casaco de pele, e um rufo em seu pescoço, embora tal moda já houvesse passado. Lady Farrell era uma mulher deveras vaidosa, e almejava o mesmo da afilhada.

Sua madrinha não poupava palavras para falar a respeito de como Alessia deveria casar, e acima de tudo, esconder seus medos e receios.

— Como poderei casar-me com um homem arrogante que despreza meus sentimentos e acusa-me de ser dramática demais?

— Querida Alessia, para tais questões complicadas, resguarde o silêncio. Suas opiniões fortes e a sua língua extremamente afiada são um repelente perfeito para os néscios.

— Nunca seria feliz sabendo que abri mão de minhas opiniões e de meu intelecto, para agradar as convicções erradas de outrem. Detesto pensar que passei por cima de meus conceitos para afagar o ego de outra pessoa. Pois, se não respeitam o que eu tenho a dizer, como poderei respeitá-lo de volta?

— Como eu disse, tens a língua afiada. Diga-me, Alessia, todo este rancor tem a ver com algum pretendente presunçoso que não a ouviu suficiente declarar seu amor à leitura e às artes?

— Prefiro não comentar. Todos são tão mesquinhos e deploráveis que muito me fazem almejar uma vida de eterna solidão.

Ademais, Alessia possuía a saúde mui frágil. Era uma dama que adoecia com a menor mudança de tempo, devido a isto, era ausente em piqueniques, bailes ou qualquer evento em que houvesse uma multidão de pessoas. Adorava a tranquilidade e o silêncio, pois fora acostumada a uma vida pacata desde cedo. Um homem que casasse com ela a acharia mui monótona e se cansaria dela em tempo recorde, assim ela pensava.

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