Capítulo 40

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Por mais que quisesse, Alessia não conseguira dormir tranquilamente naquela madrugada. 

Sua mente relembrava-a inúmeras vezes do beijo de Nicholas. O toque dos lábios dele nos seus em nada era parecido com o que lera nas histórias de romance. A sensação que a marcara sequer poderia ser descrita pelo mais apaixonado dos poetas. Seu rosto estava quente e rubro, apertou o travesseiro contra o peito, o coração martelando fortemente deixando-a inquieta com o amalgamado de emoções que levavam-na do céu ao chão em um piscar de olhos.

 Temia que seu espetacular alvorecer pintado em tons de lilás e laranja se transformasse em uma tempestade sem cores.

Sem qualquer razão, chorara pela madrugada adentro. Seus sentimentos por Nicholas lhe sufocavam o peito, tornando tudo agridoce. Pensava em como sua mentira havia ficado fora de controle, e em como aquilo também a atingira, pois estava absolutamente apaixonada por Nicholas Whitehouse. 

E ela havia quebrado a única promessa válida que fizera quando iniciou sua torrente de meias verdades.

Cecilia adentrou o quarto de Alessia, notando que a outra já havia passado metade da manhã deitada, e temeu que ela pudesse estar adoentada outra vez. Deparou-se com um cômodo por pouco tomado pela escuridão, com alguns fachos de luz do sol que entravam preguiçosamente pelas brechas das cortinas. 

Entre as muitas mantas e lençóis, avistou a cabeça loira sobre o travesseiros de plumas, entretanto, Alessia tinha os olhos bem abertos e jazia mais desperta do que todos naquela manhã, embora ainda estivesse de chambre, um pequeno detalhe que passaria despercebido por outros olhos, mas que chamou a atenção de Cecilia.

— Preocupei-me pois não a vi na sala das refeições, e temi que estivesse com febre novamente. Aliás, como não marcamos nenhum ensaio da peça para hoje, cogitei de que desejavas dormir até mais tarde. Entretanto, Srta. Alessia, não posso permitir que desperdice teu sábado isolada na escuridão de seus aposentos.

— Ainda bem que é você que está aqui, e não o Sr. Whitehouse.

— E por que o Sr. Whitehouse adentraria os seus aposentos? 

— Da última vez em que eu fiquei com febre, ele ficou comigo até o mais tardar, contando-me suas histórias passadas. Querida Ceci, minha querida Ceci, venha aqui. Faça-me companhia nesta manhã tão solitária.

Cecilia chegou mais perto da moça com o corpo afundado na cama, e notou que os olhos de Alessia estavam inchados, com uma levíssima tonalidade violácea, um óbvio sinal de que passara a noite em claro a prantear.

— Está sentindo-se mal, Srta. Alessia? E, peço-te, que nem mesmo tente falar que a senhorita encontra-se bem, pois sei perfeitamente que tem algo errado com a senhorita.

— Nem eu mesma sei como estou sentindo-me, Ceci. É uma sensação estranha esta que assola-me. É como se eu pudesse voar mesmo não possuindo asas. Sinto que posso escalar a montanha mais alta, nadar no oceano mais profundo, atravessar o deserto mais impiedoso. É uma flama que abrasa em meu peito, e que de forma alguma causa-me queimaduras. É, também, um sabor agridoce, ou que pode ser totalmente azedo, mas ainda assim, pode tornar-se mais doce que o próprio mel. É como sentir tudo e nada ao mesmo tempo.

— Céus, e por qual razão está desta forma? Quer dizer, existe uma explicação para que estejas tão vermelha e molenga? Suponho que tenha exagerado na leitura de vossos livros e ficou lendo até tarde da noite, ou talvez, esteja sentindo-se pressionada pela peça de teatro, e pelas constantes mudanças exigidas pelos demais.

— Antes fosse, querida Ceci, antes fosse. O que experimentei não pode ser explicado com a melhor das teses escrita pelo mais sábio dos professores. Venha para mais perto de mim, sim?! Minhas confissões não podem passar destas quatro paredes. Ouça-me atentamente, minha adorada amiga, eu lhe peço. O que lhe direi poderá ser por demais escandaloso.

Colina dos Ventos VerdesOnde histórias criam vida. Descubra agora