Capítulo 10

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— Por que aquele tal de Nicholas não apareceu mais para cuidar dos cavalos? Está bancando o preguiçoso. Como imaginei! Esses jovens não dão valor ao trabalho. Facilmente esmorecem. — Sr. Callum resmungava, enquanto preparava-se para escovar a crina dos cavalos.

— A Srta. Alessia está concentrada cuidando dos estudos do rapaz — Sra. Callum tomou o partido de defendê-lo. — Sabe como ela é uma alma caridosa e gosta de ajudar aos demais. Além disso, você tem um novo ajudante para auxiliá-lo no trabalho, ou o Sr. Parrish não é hábil para o trabalho? Não deveria reclamar tanto, marido.

Sr. Callum fez uma careta de que não estava muito convencido com a explicação de sua esposa, e nem conseguia imaginar a razão por uma senhorita refinada perder tempo com um rapaz de origem humilde, mas ele não disse mais nada, apesar de estar com uma estranha sensação de que sua esposa escondia algo dele.

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Enquanto isso, Alessia enxergava-se em uma difícil missão: como deixaria um jovem simples de trejeitos moderados e aparência modesta, polido o suficiente para enganar suas amigas, a sua madrinha, e a sociedade em geral? Apesar de estar nervosa estava bem certa de sua decisão. Não iria voltar atrás de maneira alguma. Confessar a verdade, para ela, era por demais humilhante.

Analisava, reunida com a sua fiel confidente, Cecilia, o convite cheio de ornamentos e mui perfumado que recebeu naquela manhã.

— Isso não é nada bom. Fui convidada para um piquenique organizado pela família Evans e estou sendo notificada a revelar meu noivo para todos. Justo os Evans! Minha tia Agnes detesta essa família. Ela os considera tão alegres e extrovertidos ao ponto de serem irritantes. Ainda não tenho uma opinião formada sobre eles, mas somente por minha tia pensar assim, causa-me um pouco de desconforto.

— Quando será realizado o piquenique, Srta. Alessia? — Cecilia perguntou.

— Daqui a duas semanas. Significa que tenho poucos dias para tornar o Sr. Whitehouse um cavalheiro respeitável.

Nicholas sentia-se como um objeto de estudos. Estava em pé, plenamente constrangido, diante das moças loiras, que jaziam sentadas no canapé, ambas com uma expressão compenetrada como se analisassem inerentemente o rapaz. Depois de um longo suspiro, Alessia levantou-se, andou ao redor do rapaz, a mão abaixo do queixo e uma sobrancelha arqueada.

— Como bem pensava. Terei muito, mas muito trabalho. — Alessia suspirou, frustrada. — Não será impossível transformá-lo em um cavalheiro apresentável, porém será demasiado difícil.

Cecilia apenas concordava com a cabeça.

— O que há de errado comigo, senhorita? Devo ser um caso incorrigível devido a maneira de como se refere a mim.

— São suas roupas — ela disse, por fim. — Desagradam-me muito. Suas vestes estão completamente ultrajantes, Sr. Whitehouse. Simplesmente não posso deixá-lo sair por aí vestido deste jeito. Mesmo com a Sra. Callum lavando suas vestes, elas estão demasiado desgastas para serem usadas. Além do mais, temos de trabalhar a sua postura e seus modos, que digo com absoluta razão, não são nada cavalheirescos. Céus, é muito trabalho que temos pela frente!

Alessia tocou a ponta do casaco dele, puxando-o um pouco, constando os buracos na barra que muito assemelhavam-se a mordidas de ratos.

— Veja só isto. De forma alguma permitirei que vista este casaco novamente. Está proibido, Sr. Whitehouse.

— Ora, Raio de Sol, nem todos nós temos condições para comprar roupas adequadas. Eu, por exemplo, sou apenas um pobre, miserável, cego e nu.

— Raio de Sol? — Cecilia comentou com muito bom humor. — É assim que chama a Srta. Alessia? Estão neste nível de intimidade tão grande?

Colina dos Ventos VerdesOnde histórias criam vida. Descubra agora