Vinda a soberba, virá também a afronta, mas com os humildes está a sabedoria¹. Alessia tremeu-se dos pés a cabeça quando rememorou-se de tal versículo. Seu orgulho e ira a colocara naquela situação tão confusa, e por si mesma, precisava reparar os danos. E a pobrezinha bem que tentou falar com Nicholas em muitas oportunidades perdidas, mas faltava-lhe a coragem em encará-lo. Era tamanha a sua vergonha pela mentira que falou para suas amigas (e já não as considerava tão amigas assim), que por muitas vezes, facilmente desistia de conversar com ele.
Sê valente, assim ela pensava com seus botões.
Gaguejava, desviava o olhar, fugia, enquanto a mentira ganhava forma na fofoca que espalhava-se como fogo na palha seca na boca das damas solteiras e casadas de Hertforshire, pois a promessa que Clementine e Felicia fizeram à ela facilmente quebrou-se e espalharam para todos os cantos sobre o noivo de Alessia Kingstone. E mesmo sem qualquer detalhe específico, as tais aumentavam os pormenores. Diziam que o rapaz era filho de um príncipe de um país pequeno, que Alessia era demasiado exigente e por isso se casaria com alguém de uma linhagem real. Uma pequena mentira tornou-se uma bola de neve gigantesca.
Nicholas estava reunindo feno no celeiro quando Alessia surgiu diante dele. Estava cabisbaixa, os cílios arqueados quase encostando nas bochechas. Suspirou e ergueu o olhar para ele, fingindo um sorriso no rosto.
— Bom trabalho, Sr. Whitehouse. Nunca vi o feno tão organizado.
— Obrigado. Mas acredito que o Sr. Callum não gostou nada de minha ajuda, pois recusou-se a falar comigo durante a manhã inteira. Ademais, quero agradecê-la pelo quartinho dos fundos. É um espaço muito agradável. A Sra. Callum sempre põe algumas margaridas em um pequeno vaso, pois ela diz que é para enfeitar o quarto. Ontem, a Srta. Cecilia presenteou-me com um pote de geleia de morango, e orgulhou-se em dizer que fora ela mesma quem o fizera.
Percebeu que Alessia jazia distraída, apertando as mãos muito ansiosamente. Parou de reunir o feno para dar atenção à ela.
— Srta. Kingstone, algo errado?
— Creio que eu cometi um erro. Um grande erro.
O coração de Alessia estava deveras apertado, como se uma mão invisível e cruel o espremesse sem misericórdia. Seu maior desejo era sumir, ficar de tamanho minúsculo e esconder-se em um buraco.
— Se você contasse algo que não deveria para alguém, uma mentirinha boba, e incluísse uma pessoa que nada sabe sobre isso em tal mentira, o que você faria, Sr. Whitehouse?
— Acho que diria a verdade. É sempre o melhor caminho.
Alessia piscou os olhos. A verdade era o melhor caminho e ela acreditaria nisso. Aproximou-se de Nicholas e olhou no fundo de seus olhos, mergulhando naquele tom de mel tão atraente e selvagem.
— Sr. Whitehouse, eu acabei revelando para algumas pessoas, sem intenção alguma, por favor, não me tenha como maldosa...
Esperou-a completar sua ideia.
— Eu disse para as minhas amigas que você era o meu noivo!
Nicholas arregalou os olhos, totalmente perplexo com o que ouvira. Esperou tratar-se de uma brincadeirinha por parte dela, mas pela seriedade do olhar da moça mesclado com arrependimento logo viu que era, em verdade, algo muito grave.
— E por qual razão a senhorita faria algo assim? Não acredito que diria algo tão sério para contar vantagem sobre outras pessoas.
— Foi exatamente isto. Quis cantar minha vitória para elas. Eu estava com tanta raiva pelos comentários maldosos delas, que não pensei no peso das palavras que iriam sair de minha boca. Quis posar de superior, elegante, impressioná-las por possuir um noivo, e agora estou com uma corda no pescoço.
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Colina dos Ventos Verdes
Historical Fiction"Ele é o meu noivo!" Foi esta a frase que selou o destino de Alessia. Uma pequena mentira que logo seria uma grande dor de cabeça. Alessia Victoria Kingstone sofre pressões por parte de sua madrinha, uma lady muito rígida, e de suas amigas bajulador...