Capítulo 5 - Ele Não Se Recupera

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A chuva caía calma, mas fria. Cheguei em casa após meia hora de caminhada. Fui direto para o banho.

Tantas coisas iam e voltavam a minha mente. A água quente que acariciava meu corpo fazia-me relaxar, mas, assim que saí do banheiro, o mundo real recaiu sobre mim novamente.

Estava tão cansada, tão exausta, que vesti meu pijama, arrumei minha cama e fui me deitar.

Não estava em meus planos dormir tão profundamente, mas foi isso que aconteceu. Apaguei.

Devo ter sonhado umas cinco vezes pelo menos, sendo que todos os sonhos tinham uma mesma ideia geral: uma menina contra um exército enorme. Eu não via nada nitidamente, mas tinha total certeza de que a cena era horripilante!

Estremecia diante do que teria que fazer, mesmo sem saber ao certo o que seria. Sabia que tinha de derrotá-los, mas como?

Todos os sonhos acabavam pela metade.

De repente, no meio de uma dessas terríveis e confusas passagens, tudo desapareceu e eu me vi numa sala totalmente branca. Uma mulher estava sentada a minha frente.

_ Os sonhos são visões. – murmurou ela.

Arregalei os olhos. Era a voz que falava comigo em minha cabeça!

Possuía cabelos dourados na altura dos ombros e olhos castanhos que fitavam meu rosto. Era alta e com um físico desenvolvido. Qualquer um que a olhasse poderia afirmar que seu treinamento não era nem um pouco "leve".

_ São visões do passado, – recomeçou ela. – porém, são muito suas também.

Tentei falar "muito minhas?", mas nenhum som saía de minha boca.

_ Muito suas sim, pois isso irá acontecer com você também... Isto é, se você optar pelo nosso lado.

"Optar por que lado? Do que está falando?"

_ Agora você tem de acordar. Se sua avó vir-te dormindo tão profundamente, pensará que morreu.

O chão se abriu sob meus pés. Queria gritar, mas não conseguia.

Ouvi, por fim, a voz sussurrando em minha cabeça:

_ Sem tempo para perguntas.

Acordei num sobressalto e quase caí da cama.

Levantei com cuidado, ainda um pouco atordoada por conta da confusão que se passara durante meu cochilo. Caminhei lentamente até a porta, a abri e me estiquei para ver se havia alguém lá embaixo, sem precisar descer as escadas.

Não havia ninguém. Desci e fui direto para a cozinha. Abri a geladeira, peguei um suco de caixinha que estava jogado lá dentro, enchi meu copo e fui sentar no sofá.

Fiquei lá por uns dez minutos, em silêncio, sem pensar em nada, apenas olhando para a televisão desligada.

Os acontecimentos retornavam a minha mente, forçando-me a conter as muitas lágrimas que queriam escorrer. O alto controle começava a fazer falta no momento em que a raiva de papai tomava conta de meu sistema nervoso. Como ele podia culpar-me? 

Estava dando o último gole em meu suco quando ouvi carros estacionando e o portão da garagem se abrindo.

Dei um pulo. Ainda estava com o pijama que havia vestido quando cheguei, meu cabelo devia estar um ninho de ratos e minha cara não era das melhores.

Engoli meu suco tão rápido que engasguei. Coloquei o copo em cima da mesinha de centro da sala e saí correndo. Tossindo desesperadamente, perdi-me em meus passos e tropecei no meio da escada. Agarrei-me ao corrimão tão rapidamente que evitei o contato de meu corpo com os degraus, mas meu joelho machucado não se livrou do impacto. Ele se chocou com tanta força na escada que voltou a sangrar. Eu abafei um grito.

O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora