Fiquei pensando o resto da semana sobre os tais motivos de minha mãe. Não imaginava quais poderiam ser as justificativas para o fato dela esquecer que eu existo e não contar-me nada.
Estava tão entretida sentindo raiva que, num piscar de olhos, o dia de sua cirurgia chegou.
Fomos para o hospital. Ocorreu um imprevisto com papai e ele não pode permanecer conosco. Deixou-nos a porta daquele imenso prédio e voltou para o trabalho. Eu e mamãe entramos.
A recepção dava-me calafrios. Havia muitas pessoas sentadas a espera de algo que não interessava-me saber o que era. O sol não adentrava o local. Era tudo tão frio e perturbador...
Não conseguia esconder meu nervosismo. Andava de um lado para outro enquanto minha mãe ficava sentada, serena e tranquila, esperando sua vez.
Estava com medo... Medo de perdê-la!
O que seria de minha vida sem ela? Não gosto nem de pensar.
Tudo bem, eu e minha mãe não somos o exemplo perfeito de uma relação mãe-e-filha digna de filmes, mas eu a amo e não sei o que faria sem sua presença.
Enquanto estava mergulhada no desespero de meus pensamentos ouvi ao fundo, longe do meu mundo paralelo, uma voz rouca que dizia:
_ Senhora Rebeca?
_ Sim? – mamãe respondeu.
_ Você será encaminhada à sala de cirurgias agora.
Meu coração deu um salto mortal em meu peito e eu desabei em lágrimas.
Não consegui conter-me! Senti que algo de ruim iria acontecer.
Corri e dei-lhe um abraço apertado.
_ E-eu te amo! – consegui dizer por entre soluços e lágrimas.
_ Eu também te amo, minha filha! – ela deu-me um longo abraço e, neste momento, desejei que o mundo parasse.
Queria ficar para sempre em seus braços. Queria dormir sob seu olhar. Queria aproveitar mais os momentos bons que tivera com ela!
"Lucy, calma!" Pensei, tentando acalmar a mim mesma. "Ela vai ficar bem!"
Meus pensamentos foram interrompidos:
_ Senhora Rebeca? – era a voz rouca que saía de trás do balcão. – O doutor está esperando.
_ Fique bem, minha filha. – disse ela, com a voz incrivelmente serena e calma como sempre.
Mamãe virou-se, andou lentamente até o corredor que adentrava o hospital, parou, deu uma última olhada em mim e partiu.
Um forte sentimento de tristeza caiu sobre meu coração.
Meu mundo ficou frio. Não conseguia conter-me... Uma péssima sensação tomava conta de cada parte de meu corpo.
Voltei a chorar.
2 horas se passaram. Eu já havia parado de chorar e acabara de acordar de um cochilo.
_ Senhorita Lucy?
_ Sim? – respondi ainda um pouco sonolenta.
_ O médico quer falar com você em sua sala. – era aquela voz rouca.
Levantei e fui andando.
_ Senhor? – falei, abrindo a porta do escritório do doutor.
Esperava ver minha mãe lá dentro, em algum lugar, sentada, com seu sorriso sincero, pronta para dar-me um abraço. Mas ela não estava lá. A única coisa que vi foi um cômodo branco e vazio, ocupado apenas por uma mesa e algumas cadeiras.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)
FantasiLucy é jovem. Em seus plenos 15 anos perde a mãe e o pai, tendo que ir morar com os avós. Em uma nova cidade, se depara com o passado desconhecido de sua família, sendo lançada em direção a um iminente futuro, que sempre esteve a sua espreita. Em me...