Capítulo 3 - Terei que Superar

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Fiquei pensando o resto da semana sobre os tais motivos de minha mãe. Não imaginava quais poderiam ser as justificativas para o fato dela esquecer que eu existo e não contar-me nada.

Estava tão entretida sentindo raiva que, num piscar de olhos, o dia de sua cirurgia chegou.

Fomos para o hospital. Ocorreu um imprevisto com papai e ele não pode permanecer conosco. Deixou-nos a porta daquele imenso prédio e voltou para o trabalho. Eu e mamãe entramos.

A recepção dava-me calafrios. Havia muitas pessoas sentadas a espera de algo que não interessava-me saber o que era. O sol não adentrava o local. Era tudo tão frio e perturbador...

Não conseguia esconder meu nervosismo. Andava de um lado para outro enquanto minha mãe ficava sentada, serena e tranquila, esperando sua vez.

Estava com medo... Medo de perdê-la!

O que seria de minha vida sem ela? Não gosto nem de pensar.

Tudo bem, eu e minha mãe não somos o exemplo perfeito de uma relação mãe-e-filha digna de filmes, mas eu a amo e não sei o que faria sem sua presença.

Enquanto estava mergulhada no desespero de meus pensamentos ouvi ao fundo, longe do meu mundo paralelo, uma voz rouca que dizia:

_ Senhora Rebeca?

_ Sim? – mamãe respondeu.

_ Você será encaminhada à sala de cirurgias agora. 

Meu coração deu um salto mortal em meu peito e eu desabei em lágrimas.

Não consegui conter-me! Senti que algo de ruim iria acontecer.

Corri e dei-lhe um abraço apertado.

_ E-eu te amo! – consegui dizer por entre soluços e lágrimas.

_ Eu também te amo, minha filha! – ela deu-me um longo abraço e, neste momento, desejei que o mundo parasse.

Queria ficar para sempre em seus braços. Queria dormir sob seu olhar. Queria aproveitar mais os momentos bons que tivera com ela!

"Lucy, calma!" Pensei, tentando acalmar a mim mesma. "Ela vai ficar bem!" 

Meus pensamentos foram interrompidos:

_ Senhora Rebeca? – era a voz rouca que saía de trás do balcão. – O doutor está esperando.

_ Fique bem, minha filha. – disse ela, com a voz incrivelmente serena e calma como sempre.

Mamãe virou-se, andou lentamente até o corredor que adentrava o hospital, parou, deu uma última olhada em mim e partiu.

Um forte sentimento de tristeza caiu sobre meu coração.

Meu mundo ficou frio. Não conseguia conter-me... Uma péssima sensação tomava conta de cada parte de meu corpo.

Voltei a chorar.

2 horas se passaram. Eu já havia parado de chorar e acabara de acordar de um cochilo.

_ Senhorita Lucy?

_ Sim? – respondi ainda um pouco sonolenta.

_ O médico quer falar com você em sua sala. – era aquela voz rouca.

Levantei e fui andando.

_ Senhor? – falei, abrindo a porta do escritório do doutor.

Esperava ver minha mãe lá dentro, em algum lugar, sentada, com seu sorriso sincero, pronta para dar-me um abraço. Mas ela não estava lá. A única coisa que vi foi um cômodo branco e vazio, ocupado apenas por uma mesa e algumas cadeiras. 

O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora