Capítulo 8 - A Partida

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Quando chegamos ao hospital, fui correndo procurar notícias de meu pai.

_ Você tem de ser forte, ok? – disse o médico em tom soturno. – Siga-me... Ele quer te ver.

Ao entrar no quarto, papai estava com os olhos fechados.

Observei de relance o cômodo e notei que o lugar era mal iluminado, por inteiro branco e, sem sombras de dúvida, deprimente. Transmitia uma terrível sensação de tristeza, o que não ajudava em nada a levantar meu ânimo e a renovar minhas esperanças. 

_ Pai? – chamei derramando lágrimas. – Chamou por mim?

_ Lucy? – murmurou ele enquanto abria lentamente os olhos. – Venha aqui.

Aproximei-me. Sua voz estava incrivelmente fraca.

_ Minha filha, – uma lágrima escorreu por sua bochecha. – queria lhe pedir desculpas.

_ Por que, pai? Não há motivos para desculpas!

_ Há sim! – ele segurou minhas mãos. – Fui um péssimo pai...

_ Você é um ótimo pai! – o interrompi.

_ Por favor, – ele tossiu. – não me interrompa. Meu tempo é curto.

_ Tudo bem. – eu me esforçava para não chorar, mas as lágrimas escorriam involuntariamente.

_ Amo-te muito e, onde quer que eu esteja, sempre estarei ao seu lado! – ele suspirou. – Perdoe-me por minhas falhas?

_ Mas... – papai me fitou suplicante, implorando que eu o perdoasse logo. – Claro que te perdôo pai!

Ele forçou um sorriso e fechou os olhos lentamente.

Um forte ruído de "piiiiiiiiii" invadiu o quarto. Demorei um pouco para entender o que estava acontecendo.

_ Pai! – meus olhos se arregalaram quando finalmente caiu a ficha. – ENFERMEIRA! ENFERMEIRA!

_ O que houve? – o médico, que antes me dissera para ser forte, segurou-me pelo braço no momento em que eu saía correndo porta a fora, clamando por ajuda.

_ P-papai... – gaguejei. – Ele... Ele... Venha!

Uma grande movimentação se dava na sala de espera. Dúzias de médicos e enfermeiras corriam de lá para cá, enquanto eu observava, abraçada a vovó.

_ Ele se foi... – murmurei. – Vó, estou sozinha agora!

_ Não! – ela sufocou-me com seus braços, carinhosamente. – Você nunca estará sozinha!

Comecei a chorar mais pesadamente. Um sentimento terrível de perda assolava meu coração.

_ E-eu... – aquele médico se aproximava, aparentemente envergonhado. – Eu sinto muito!

Uma lágrima escorreu de seus olhos.

Levantei-me, olhei nos olhos de vovó e disse:

_ Vou para casa... A senhora se importa em resolver tudo?

_ Não, minha neta. Vá com Deus, querida! Fique bem.

Eu ia, ou melhor, devia pegar um táxi, mas preferi ir caminhando.

As lágrimas embaçavam minha vista e eu tinha que me esforçar para manter a cabeça erguida.

_ Ah! Pai... – murmurei baixinho. – Vou sentir tantas saudades!

O vento que beijava meus cabelos parecia sussurrar em meus ouvidos uma leve canção. Dentro de mim, um sentimento incontrolável de revolta sufocava-me aos poucos. Ele me abandonara... Nem pensara que sua presença era necessária para mim. Papai sequer calculou que estaria sozinha sem ele... 

O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora