Quando chegamos ao hospital, fui correndo procurar notícias de meu pai.
_ Você tem de ser forte, ok? – disse o médico em tom soturno. – Siga-me... Ele quer te ver.
Ao entrar no quarto, papai estava com os olhos fechados.
Observei de relance o cômodo e notei que o lugar era mal iluminado, por inteiro branco e, sem sombras de dúvida, deprimente. Transmitia uma terrível sensação de tristeza, o que não ajudava em nada a levantar meu ânimo e a renovar minhas esperanças.
_ Pai? – chamei derramando lágrimas. – Chamou por mim?
_ Lucy? – murmurou ele enquanto abria lentamente os olhos. – Venha aqui.
Aproximei-me. Sua voz estava incrivelmente fraca.
_ Minha filha, – uma lágrima escorreu por sua bochecha. – queria lhe pedir desculpas.
_ Por que, pai? Não há motivos para desculpas!
_ Há sim! – ele segurou minhas mãos. – Fui um péssimo pai...
_ Você é um ótimo pai! – o interrompi.
_ Por favor, – ele tossiu. – não me interrompa. Meu tempo é curto.
_ Tudo bem. – eu me esforçava para não chorar, mas as lágrimas escorriam involuntariamente.
_ Amo-te muito e, onde quer que eu esteja, sempre estarei ao seu lado! – ele suspirou. – Perdoe-me por minhas falhas?
_ Mas... – papai me fitou suplicante, implorando que eu o perdoasse logo. – Claro que te perdôo pai!
Ele forçou um sorriso e fechou os olhos lentamente.
Um forte ruído de "piiiiiiiiii" invadiu o quarto. Demorei um pouco para entender o que estava acontecendo.
_ Pai! – meus olhos se arregalaram quando finalmente caiu a ficha. – ENFERMEIRA! ENFERMEIRA!
_ O que houve? – o médico, que antes me dissera para ser forte, segurou-me pelo braço no momento em que eu saía correndo porta a fora, clamando por ajuda.
_ P-papai... – gaguejei. – Ele... Ele... Venha!
Uma grande movimentação se dava na sala de espera. Dúzias de médicos e enfermeiras corriam de lá para cá, enquanto eu observava, abraçada a vovó.
_ Ele se foi... – murmurei. – Vó, estou sozinha agora!
_ Não! – ela sufocou-me com seus braços, carinhosamente. – Você nunca estará sozinha!
Comecei a chorar mais pesadamente. Um sentimento terrível de perda assolava meu coração.
_ E-eu... – aquele médico se aproximava, aparentemente envergonhado. – Eu sinto muito!
Uma lágrima escorreu de seus olhos.
Levantei-me, olhei nos olhos de vovó e disse:
_ Vou para casa... A senhora se importa em resolver tudo?
_ Não, minha neta. Vá com Deus, querida! Fique bem.
Eu ia, ou melhor, devia pegar um táxi, mas preferi ir caminhando.
As lágrimas embaçavam minha vista e eu tinha que me esforçar para manter a cabeça erguida.
_ Ah! Pai... – murmurei baixinho. – Vou sentir tantas saudades!
O vento que beijava meus cabelos parecia sussurrar em meus ouvidos uma leve canção. Dentro de mim, um sentimento incontrolável de revolta sufocava-me aos poucos. Ele me abandonara... Nem pensara que sua presença era necessária para mim. Papai sequer calculou que estaria sozinha sem ele...
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O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)
FantasíaLucy é jovem. Em seus plenos 15 anos perde a mãe e o pai, tendo que ir morar com os avós. Em uma nova cidade, se depara com o passado desconhecido de sua família, sendo lançada em direção a um iminente futuro, que sempre esteve a sua espreita. Em me...