Ele demorou a despertar, mas quando isso aconteceu, preferi que tivesse continuado a dormir.
_ Onde estou? – perguntou papai com os olhos arregalados. – O que aconteceu?
_ Acalme-se, pai. – ele estava agitado. – Você desmaiou.
Meu pai apenas desviou o olhar e, subitamente, passou a ter um estranho interesse pela parede. Manteve-se em silêncio.
_ É... – recomecei com a voz trêmula. – Você realmente não queria ter aquela conversa.
O clima naquele quarto de hospital parecia pesado. Sentia dificuldade para respirar e, inevitávelmente, podia notar meu coração acelerado. Talvez fosse o medo de meu pai, da reação dele, de como me trataria. Ou poderia ser a ansiedade pela conversa. Ou, quem sabe, a culpa me deixava assim...
_ É, não queria. – murmurou papai, sem olhar diretamente para mim.
Ele parecia irritado, mas, acima de tudo, mostrava-se triste e com medo.
_ Desculpe, pai! – uma lágrima escorreu de meus olhos. – Acho que seu desmaio foi culpa... Ahn... Minha.
_ Tudo bem. – ele olhou para mim e notei que estava quase chorando assim como eu. – Foi culpa minha também. Devo-lhe uma conversa de pai para filha, mas esse não é o lugar nem o momento.
_ Não precisamos ter essa conversa, caso não queira. – exclamei da boca para fora, porque o que mais queria era finalmente realizá-la.
_ Na verdade, não quero... – ele sorriu. – Mas preciso.
O abracei, peguei a revista que estava lendo e sentei-me na cadeira novamente.
Quando chegamos em casa já era tarde da noite. Fomos direto para a cama.
Fui dormir mais leve que uma pena! Enfim eu teria a conversa com meu pai, assim tudo seria explicado. Ou melhor, eu esperava que houvessem explicações...
Ao fechar os olhos, simplesmente apaguei, mas tive a impressão de que não se passaram dois minutos desde o momento em que fui me deitar.
Acordei mais cansada que estava quando adormeci. Sentia-me elétrica, agitada e ansiosa.
O dia demorou a passar. Quando a noite chegou, estava andando de um lado para o outro dentro de casa.
Fui para a cozinha, voltei para a sala, subi para meu quarto, fui ao banheiro, voltei para a sala e sentei-me no sofá.
Por fim, senti minhas pálpebras pesarem e, num piscar de olhos, adormeci.
Acordei com o barulho da porta abrindo. Dei um pulo do sofá e me pus de pé.
_ Pai! – exclamei alegre enquanto ele adentrava a sala.
_ Olá... – sua expressão não era das melhores.
_ Fiz macarronada! – fui até ele e peguei seu casaco e sua maleta de trabalho. – Vá tomar banho para jantarmos. Eu o espero.
_ Tudo bem... – disse ele enquanto arrastava-se escada acima.
Papai parecia triste, cansado da vida. Já fazia quase um mês que minha mãe havia partido e ele continuava naquele estado.
Eu estava triste, claro, e com muita saudade de mamãe, mas não tanto quanto meu pai parecia estar. Ele quase nunca jantava, não tomava café da manhã, era raro vê-lo sorrindo e nunca saía de casa, a não ser para ir ao trabalho.
Estava começando a ficar com medo. Não gosto nem de pensar, mas imagine se papai também morre? Deus me livre!
Fui arrumar a mesa, assim parava de pensar besteiras.
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O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)
FantasyLucy é jovem. Em seus plenos 15 anos perde a mãe e o pai, tendo que ir morar com os avós. Em uma nova cidade, se depara com o passado desconhecido de sua família, sendo lançada em direção a um iminente futuro, que sempre esteve a sua espreita. Em me...