Capítulo 6 - A Conversa

681 74 22
                                    

Ele demorou a despertar, mas quando isso aconteceu, preferi que tivesse continuado a dormir.

_ Onde estou? – perguntou papai com os olhos arregalados. – O que aconteceu?

_ Acalme-se, pai. – ele estava agitado. – Você desmaiou.

Meu pai apenas desviou o olhar e, subitamente, passou a ter um estranho interesse pela parede. Manteve-se em silêncio. 

_ É... – recomecei com a voz trêmula. – Você realmente não queria ter aquela conversa.

O clima naquele quarto de hospital parecia pesado. Sentia dificuldade para respirar e, inevitávelmente, podia notar meu coração acelerado. Talvez fosse o medo de meu pai, da reação dele, de como me trataria. Ou poderia ser a ansiedade pela conversa. Ou, quem sabe, a culpa me deixava assim...

_ É, não queria. – murmurou papai, sem olhar diretamente para mim.

Ele parecia irritado, mas, acima de tudo, mostrava-se triste e com medo. 

_ Desculpe, pai! – uma lágrima escorreu de meus olhos. – Acho que seu desmaio foi culpa... Ahn... Minha.

_ Tudo bem. – ele olhou para mim e notei que estava quase chorando assim como eu. – Foi culpa minha também. Devo-lhe uma conversa de pai para filha, mas esse não é o lugar nem o momento.

_ Não precisamos ter essa conversa, caso não queira. – exclamei da boca para fora, porque o que mais queria era finalmente realizá-la.

_ Na verdade, não quero... – ele sorriu. – Mas preciso.

O abracei, peguei a revista que estava lendo e sentei-me na cadeira novamente.

Quando chegamos em casa já era tarde da noite. Fomos direto para a cama.

Fui dormir mais leve que uma pena! Enfim eu teria a conversa com meu pai, assim tudo seria explicado. Ou melhor, eu esperava que houvessem explicações...

Ao fechar os olhos, simplesmente apaguei, mas tive a impressão de que não se passaram dois minutos desde o momento em que fui me deitar.

Acordei mais cansada que estava quando adormeci. Sentia-me elétrica, agitada e ansiosa.

O dia demorou a passar. Quando a noite chegou, estava andando de um lado para o outro dentro de casa.

Fui para a cozinha, voltei para a sala, subi para meu quarto, fui ao banheiro, voltei para a sala e sentei-me no sofá.

Por fim, senti minhas pálpebras pesarem e, num piscar de olhos, adormeci.

Acordei com o barulho da porta abrindo. Dei um pulo do sofá e me pus de pé.

_ Pai! – exclamei alegre enquanto ele adentrava a sala.

_ Olá... – sua expressão não era das melhores.

_ Fiz macarronada! – fui até ele e peguei seu casaco e sua maleta de trabalho. – Vá tomar banho para jantarmos. Eu o espero.

_ Tudo bem... – disse ele enquanto arrastava-se escada acima.

Papai parecia triste, cansado da vida. Já fazia quase um mês que minha mãe havia partido e ele continuava naquele estado.

Eu estava triste, claro, e com muita saudade de mamãe, mas não tanto quanto meu pai parecia estar. Ele quase nunca jantava, não tomava café da manhã, era raro vê-lo sorrindo e nunca saía de casa, a não ser para ir ao trabalho.

Estava começando a ficar com medo. Não gosto nem de pensar, mas imagine se papai também morre? Deus me livre!

Fui arrumar a mesa, assim parava de pensar besteiras.

O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora