Capítulo 13 - Desastre em Pessoa

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Arregalei os olhos e saí correndo de pijama pela casa. No caminho até a cozinha havia um vaso com uma orquídea enorme que ocupava cerca de metade do corredor. Se eu estivesse andando como uma pessoa normal, naturalmente veria a planta a tempo de desviar, mas como não estava, choquei-me a toda velocidade com o vaso.

A flor caiu junto comigo. A cerâmica quebrou, dando abertura para que um monte de terra e cacos se espalhassem. Caí ao lado da flor, mantendo-a sã e salva, mas não me livrei da terra, nem dos cacos e nem do grito assustado de vovó.

_ AHHHH! - ela apareceu no corredor. - Lucy, o que aconteceu?

Havia cacos de cerâmica e terra misturados por todos os lados. Eu, com minha má sorte, havia caído com o joelho e a mão esquerda bem em cima de alguns fragmentos. Estes haviam me causado cortes horríveis.

_ Ai, meu Deus! - exclamei quando me dei conta do estrago que havia causado na casa de vovó.

_ Ai, meu Deus! - repetiu vovó, quando notou o sangue que escorria de minha mão e de meu joelho.

Quando vi o corte em minha mão, fiz uma careta, mas o ignorei e comecei a catar os restos do que antes fora um vaso.

_ Pare, Lucy! - vovó pousou a mão em meu ombro. - Tudo bem. Está tudo bem!

Eu chorava de dor por conta dos cortes e vergonha pela imensa bagunça que havia feito.

_ Venha. - murmurou vovó enquanto ajudava-me a levantar. - Vamos tratar destes ferimentos.

Enquanto ela enfaixava meu joelho, perguntou:

_ Afinal, por que colidiu com o vaso?

_ Quando me dei conta de que já eram 10 horas da manhã, me desesperei! - baixei os olhos. - Desculpe-me.

_ Tudo bem. Ana vai ficar feliz em saber que vai ganhar um vaso novo. - disse ela, com um sorriso estampado no rosto.

_ Ana? - franzi a testa. - Quem é Ana?

_ Ah! Ana é a orquídea. - ela riu. - É que gosto de dar nomes as minhas plantas prediletas.

Eu ri.

_ Entendi. - tornei a ficar séria. - Mas vó, me desculpe pela bagunça! Vou limpar tudo. Além disso, eu pago o vaso novo de Ana.

Ela riu e me olhou com ternura.

_ Fique calma, minha neta.

Quando meus ferimentos estavam devidamente enfaixados e toda a sujeira havia sido recolhida, fomos preparar o almoço.

_ Onde está vovô? - perguntei, notando sua ausência.

_ Foi para a cidade. - ela suspirou. - Ele sempre sai de manhã e volta só na hora do almoço aos domingos.

_ A senhora ficava sozinha?

_ Sim, mas agora tenho você como companhia! - exclamou ela enquanto sorria.

Também sorri e voltamos a fazer o almoço em silêncio.

Arrumei a mesa e ajudei vovó a lavar as panelas.

Não demorou muito e vovô já estacionava o carro.

_ Desculpem a demora, moças! - ele cumprimentou vovó com um beijinho e me deu um abraço.

Quando reparou na minha mão e no meu joelho enfaixados, arregalou os olhos e encarou vovó.

_ Nada demais. - respondeu ela à pergunta silenciosa que ele havia feito.

_ Tudo bem... Mas e então, têm almoço?

Sentamo-nos a mesa e comemos em silêncio. Vovô foi o primeiro a terminar.

_ Vou voltar para a cidade, já que agora você tem companhia. Tudo bem, Julia?

_ Tudo. - ela sorriu. - Vá com Deus e não volte muito tarde.

Ele assentiu, levou seu prato até a cozinha e partiu.

De repente, algo começou a fazer sentido para mim. Vovô não parava em casa! Desde que cheguei, ele não ficou aqui, descansando. Nunca havia convivido com ele... Será que meu avô sempre fora assim ou esse hábito de ir muito para a cidade havia começado após minha mudança?

Só tinha um jeito de saber...

_ Vó, acha que vovô não quer ficar em casa porque estou aqui? - perguntei, timidamente.

_ Nunca! Lucy, de onde tirou essa ideia? - ela riu. - Seu avô não gosta de ficar em casa. Só isso!

***

_ Tem certeza de que Ana vai ficar feliz aqui fora? - murmurei enquanto ajudava vovó a plantar a orquídea que quase fora destruída por mim.

_ Claro que vai! Aquele vaso estava pequeno. - ela sorriu, dando as últimas palmadas na terra. - Pronto. Vamos caminhar pela floresta?

_ Vamos! - vovó se levantou e começou a andar. - Vó... Ontem eu também caminhei por aqui.

_ E então, achou o lugar bonito?

_ Sim, mas aconteceu uma coisa meio estranha...

_ Estranha? - exclamou ela enquanto virava e olhava em meus olhos.

_ Sim. Havia um menino na floresta. Eu o vi, mas ele não falou comigo. Sequer sei seu nome, mas sinto que devo conhecê-lo... - murmurei.

Ela riu, tentando esconder o nervosismo.

_ Besteira, minha neta. Vamos continuar a caminhar. - ela virou-se novamente e continuou andando a minha frente.

O passeio estava silencioso até vovó parar subitamente, causando um encontrão entre meu rosto e suas costas.

_ O que foi? - perguntei assustada.

_ Shhh! - murmurou ela enquanto me empurrava, forçando-me a voltar para casa.

_ Vó, - insisti, mantendo-me parada onde estava. - o que está acontecendo?

Ela continuava a me empurrar.

_ Depois explico. Vamos, ande!

Achei melhor não contestar. Ela parecia realmente preocupada.

_ Tudo bem... - resmunguei.

Agora, vovó forçava-me a correr.

Nós havíamos caminhado bastante, então ainda faltavam alguns metros quando ela atirou-me para dentro da floresta.

_ Não dá tempo! Fique aqui e me espere. - deu-me um beijo na testa e voltou para a trilha.

Sem entender nada, mas com muito medo, sentei-me aos pés de uma árvore e fiquei esperando.

O Ciclo de Sangue - Traçado pelo Destino (livro 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora