Ruínas

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Golias é um pequeno pardal, sempre foi um grande observador, o que se tornou uma ambiguidade literal, mas ele realmente observava muito, ganhou o nome de uma garota adorável; Mary; que cuidou após fraturas em sua asa. E conforme os dias se passavam ele acompanhava a rotina dos moradores da região; e foi naquele momento que percebeu Emma andando com uma certa avides, destemido a segui-la, o curioso passarinho a acompanhou, observou que suas mãos suavam e que a testa seguia pelo mesmo caminho de suas mãos, carregava a ração do idiota do Lovecraft. Golias o odiava, acreditava que gatos eram belos apenas castrados e bem longe. E observou que ela entrou em um período bem mais curto em sua casa, parecia aflita quanto há algo. Entendeu que deveria deixa-la à vontade, e então o sábio passarinho observou que saía da casa de ração dois humanos bem estranhos, com roupas engraçadas, pareciam distante de tudo, um bom alvo para defecar, deduziu que eles mereciam pois não tinha ido muito com a cara deles, "ordinária demais" e nesse exato momento a jovem Emma deixava o tom da sua voz debilmente infantilizado para conversar com Lovecraft que mantinha os olhos semicerrados e bocejava com sons simpáticos para sua "mamãe". " maldito seja, seu pássaro de uma figa!" ambos estavam ficando bons em dizer uma frase de efeito juntos, eram mais parecidos a cada volta e em cada curva um destoava seu tom de voz. Solicitando amplamente que o outro se calasse. Golias estava jubiloso.

- É, sua mamãe não está em um dia bom, você acredita que nada está dando certo? As coisas com a vovó e meus amigos que viraram as costas para mim, sei que não sou das melhores companhias, mas ainda sou alguém.

- Miau. – o gato pedia para ela se calar e alimenta-lo, pobre humana tola, não sabia entender o idioma dos gatos.

- Eu sei, mas preciso me acalmar, vou tomar meus remédios daqui a pouco.

Olhou para dentro da bolsa que carregava e percebeu que seus remédios não estavam ali.

Enquanto a jornada das lembranças de Emma a auxiliavam para encontrar seus remédios, nossos encantadores jovens estavam irritados. Procurando pela jovem que esquecera dos remédios.

- Você está fedendo, Matt. E quando reparo em algo assim é porque de fato você está.

- Olha quem fala né, eu poderia escutar isso de qualquer pessoas, mas ouvir isso de você torna ainda mais cruel.

- Pássaro miserável, vou servir ele de janta para Edgar, a se vou. Maldito! E onde nosso querido Levi está?

- Pro diabos! Precisamos achar essa garota logo, não sou acostumado com esse negócio todo.

- Como assim, Matt?

- Me importar com quem eu não conheço, apenas jornalista e coachings fazem isso.

- Odeio essa gente!

- Eu te entendo, meu irmão é colunista e não nos falamos há anos.

- Por quê?

- Ele escrevia algumas colunas que ofendiam nosso pai, falava que os jovens podem não se tornar a pior versão deles, era só olhar para quem os concebeu e não fazer igual.

- Isso até que faz sentido.

- Não faz quando foi seu pai que pagou pela faculdade, Erick, vamos ver se aquela senhora conhece a Emma.

Se aproximando com toda a paciência e delicadeza possíveis, foram gentis e questionaram sobre onde Emma morava, ficaram perplexos com a resposta.

- A sapatona?

- Minha senhora, acho que não estamos na década de quarenta, estamos perguntando sobre uma moça de mais ou menos vinte e poucos anos, baixa, com uma altura entre 1,55 e belos olhos verdes, olhos lindos. – Matt segurou a inspiração descritiva.

- Então, a sapatona. É só andar mais duas quadras e virar à esquerda; perto do restaurante Doce Coração.

- Eu acho que a senhora é um pouco homofóbica

- E eu acho que vocês estão fedendo.

- Isso sai com um banho, velha burra. Vamos sair daqui.

- Mais respeito seu rapaz malcriado.

- Está bom, senhora burra. Agora vamos Erick.

E enquanto nosso jovens saiam caminhando vorazmente, Phillipe estava tentando adivinhar como Levi sabia fazer truques tão bons de mágica.

- Você é o próprio Houdini – dando solenes tapinhas em suas costas.

- Digamos que sou muito bom com misticismo!

E no outro lado do bairro, uma mamãe de um gato continuava intrigada com os seus remédios.

- Meu Deus, onde foi parar meus comprimidos; eu ando uma mula nesses dias. Está sendo difícil desde que papai nos deixou né, Love. – o pai de Emma havia sido vítima de um crime bárbaro, as coisas andavam tensas e seu avô começou a trancar as portas da casa nas manhãs, dizia ouvir alguém o chamando para o além. A geração que venceu a guerra estava em ruinas. Suas tias tinham uma visão turva da barbárie que assolava a família e a culpa de Emma era ter nascido em um berço estreito demais. Seu pai dizia que a pretensão da humanidade é achar que sabe muito, que contribui muito e não compreende que os muros mais dividem do que unem, união com muros é algo impossível. No momento das lembranças as lagrimas cobriam os olhos da jovem, que conciliava a razão com as palpitações agudas. O suor observado por Golias, aumentara. Sua cabeça começou a destoar, e sua visão começou a se tornar turva. "malditos comprimidos". A respiração começou a pesar e seu coração parecia estar sendo arrancado com um maldito anzol. "malditos comprimidos". As dores se tornaram de triviais a tangíveis demais. A traqueia travou e sua saliva aspirava a não estar ali, tentou se levantar e tomar água, mas caiu por cima de seus braços. "malditos comprimidos".

"Porque existir em um mundo que grita que não sou boa o suficiente" e a cabeça começaram a latejar. Gritar não resolveria, nunca resolveu na infância de Emma, nem em sua adolescência e nem ajudaria agora, mas pôs a gritar; esbravejar e a urrar. Com tanta força que seu córtex pré-frontal sentiu uma fenda. Parecia que alguém a havia atacado com um martelo. "Pra que encarar as coisas de frente se fugir me daria a paz que eu procuro" os pensamentos estavam gritando, urrando e trovejando em sua mente. "malditos comprimidos". Começou a se lamentar por ter visto seu tio batendo em seu primo, ele era apenas uma criança de seis anos, era obvio que ele não queria riscar seu maldito carro de dez mil reais. As ruinas derrubariam o pequeno castelo de Emma. E uma ideia em meio ao caos lhe ocorreu displicentemente, fugir tinha um caminho não tão doloroso quanto estar ali. Seus olhos alcançaram uma pequena faca que tinha usado para abrir os sacos de ração de Love, naquele momento ela não estava pensando em Love. Ela apenas queria fugir. A visão de túnel a fez cambalear para trás, mas havia ainda a força necessária para pegar com a mão direita e com a suavidade da histeria cortar seu pulso.

Ela cortou.

E nesse momento que Lovecraft foi até a porta da casa e começou a gritar e a chorar, o pânico do ser que até então não estava atento, começou a soar como um pedido de socorro; foi quando os dois jovens perceberam que tinha algo estranho. Gato desesperado e uma porta que não estava trancada. Quando entraram sem pedir licença viram o corpo de Emma no chão. Imóvel. As ruinas fizeram efeito na pobre moça, que foi carregado por Matt, Erick os acompanhava. Correndo.

- Por que diabos você deixou a minivan em casa?

- Por que sim, eu só faço besteira, será que podemos salvar ela?

- Eu confio que sim. São quantos minutos daqui até o hospital.

- A pé são mais ou menos uns quarenta minutos.

- Consegue fazer em vinte, Erick?

- Consigo.

- Então fecha a porra da boca e vamos!

The GrootsOnde histórias criam vida. Descubra agora