O Lobo do Bosque. -Parte Um.

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Desde já agradeço pela sua atenção e peço, antecipadamente, desculpas por qualquer erro aqui cometido.








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  Como era de se esperar, assim que Linus e os outros aldeões acordaram na manhã seguinte, seus campos estavam completamente destruídos. O líder suspirou cansado enquanto caminhava pelos campos devastados e conversava com os chefes sobre o que fariam sobre aquilo quando, de repente, ouviu-se um grito alto vindo da direção da "prisão" e todos correram para lá.
  Assim que chegou, Linus viu Henrietta parada em frente à "porta" -algo como grades de madeira- do local e a comida e leite que trazia para Arius derramados no chão aos seus pés.

  -Onde ele está? -Linus indagou ao passar à frente da mulher e entrar no local, não vendo sinal nenhum ali de seu filho, apenas uma parte da parede de madeira quebrada, e soube que Arius havia fugido. -Não pode ser...
  -Linus, nosso filho...! -Henrietta exclamou com os olhos cheios de lágrimas e pôs as mãos sobre os olhos, então o homem a abraçou.
  -Achem-no! -Linus ordenou ao olhar para os homens que geralmente eram responsáveis pela caça e imediatamente eles obedeceram e saíram.
  -Arius, meu filho...! Por que? -A mulher indagou-se em prantos, agarrada ao marido, e este apenas apertou mais o abraço na vã tentativa de acalmar a dor de ambos, pois Linus sabia que, se seus homens não se apressassem logo, Arius poderia nunca mais voltar.





   Já dentro da floresta, nos princípios dos arredores do bosque -o caminho era longo para chegar até o local exato do Lobo Guardião do Bosque-, Arius finalmente parava alguns minutos para descansar e beber um pouco de água no lago.

  -Eu caminhei a noite inteira e nem sinal ainda... -O ruivo murmurou para si e suspirou cansado, logo formando uma concha com as mãos e pegando água para beber.

  Arius aproveitou para jogar um pouco de água sobre os revoltosos cabelos laranjas e umedecer a nuca, pois a temperatura subia à medida em que o ruivo se aprofundava no bosque. "Mas as noites ainda são frias", pensou e sorriu satisfeito consigo mesmo por ter levado a capa vermelha com capuz, mas logo sentiu o corpo inteiro arrepiar e olhou ao redor apreensivo. Seus instintos praticamente gritavam que estava sendo observado, mas os arbustos eram densos e não podia ver muito bem nas partes escuras.
  Arius, então, levantou-se do chão e bateu a poeira das roupas, olhando mais uma vez ao redor para se certificar se não via nada -e realmente não viu- e logo pegando o lampião e seguindo seu caminho cada vez mais adentro no bosque.
  E não era como se Arius não estivesse com medo. Ele estava, afinal, pois caminhava para sua morte. Mas saber que estava se sacrificando para que sua família e todos que amava ficassem bem e tivessem uma vida longa, o deixava menos assustado e o fazia sentir mais segurança em sua escolha.

  -Eu sinto muito, mãe... pai... Lea... Eu amo vocês e é por isso que estou fazendo isso. -Arius falou para si ao colocar a mão sobre o peito e apertou a roupa que o cobria, sentindo seu corpo inteiro tremer. -"Pela estrada fora caminha o herói solitário, levando consigo o destino unitário... A estrada é longa e o caminho é deserto... e o lobo mau passeia ali por perto..." -Cantarolou baixinho para controlar a tremedeira do corpo e, de repente após mais alguns minutos, viu-se no centro do bosque.

  O local era, na falta de palavra mais apropriada, diferente do que Arius havia imaginado. Havia uma enorme e velha árvore no centro da clareira, com uma grande abertura em seu tronco. Os arbustos ali eram menos densos e mais bonitos que os do restante da floresta. Havia várias árvores frutíferas espalhadas pela clareira e um lago podia ser visto atrás da grande e velha árvore. O calor era agradável e o cheiro de frescor do bosque inundava suas narinas. Arius sentiu uma tranquilidade tão profunda que apenas pôde fechar os olhos e inalar o mais profundo que conseguia aquele odor delicioso e fresco que a brisa suave trazia.
  O ruivo, então, abriu lentamente os olhos e caminhou calmamente na direção da velha árvore, percebendo-a cada vez maior à medida que se aproximava. Arius olhou maravilhado os grossos e antigos galhos da árvore e encostou de leve em seu tronco, sentindo a textura firme sob seus dedos e sorrindo para si mesmo com a sensação agradável que o atingiu. Algo naquele ar o havia feito esquecer completamente de suas preocupações, tanto que sequer reparou no par de olhos que o observava desde as sombras fora da clareira, e que o estava seguindo desde que havia saído do vilarejo no meio da noite.
  A figura esgueirou-se pelos arredores da clareira, mantendo-se oculto nas sombras, e aproximou-se de Arius sorrateiramente.
  O garoto estava, agora, abaixado em frente ao lago, cuja água era a mais cristalina e bela que havia visto em toda sua vida. A temperatura desta era tão agradável que a vontade de tirar as roupas e entrar na água era quase irresistível, mas ele se conteve e apenas brincou com a mão ali, vez ou outra umedecendo o rosto ou a nuca. E justamente em uma dessas vezes em que jogava um pouco de água no rosto, Arius focou os olhos no reflexo no lago turvo assim que os abriu, sentindo o corpo inteiro arrepiar e gelar e o coração bater forte, quase ensurdecedor.
  O ruivo não se mexeu e sequer pensava que poderia fazê-lo. Então a sombra atrás de si abaixou-se e Arius pôde sentir o hálito quente em sua cabeça e nuca, seguido de mais um arrepio.

A Maldição do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora