Quebre a maldição.

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Desde já agradeço pela sua atenção e peço, antecipadamente, desculpas por qualquer erro aqui cometido.









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  Após aquele dia no qual Arius conversou com seus amigos e os demais aldeões, ao final da tarde, foi até o riacho e esperou por Yaze -mesmo sabendo que a viagem do lobo levaria mais do que apenas um dia e até mesmo mais de uma semana- até o sol se pôr completamente, acompanhado de Leana, a qual não queria desgrudar de si por um momento sequer. Então, após a lua começar a subir e o ar ficar mais frio, Arius disse para irem para casa e a pequena apenas concordou, o seguindo.
  Com o decorrer dos dias, o ruivo se habituava novamente com as atividades que costumava fazer e, todos os dias no mesmo horário, ia para a beira do riacho e esperava por Yaze até o sol se pôr, às vezes acompanhado de Leana, às vezes sozinho com sua capa vermelha, e todos já começavam a se perguntar e especular sobre o porquê de o ruivo ir todos os dias para lá e voltar apenas quando a lua já brilhava no céu, mas ninguém perguntou o motivo, pois viam uma sombra de tristeza e esperança no olhar do garoto, um olhar de alguém que apenas podia esperar.
  E ainda que todas as noites quando olhava para o céu e apertava a pedra sobre o peito Arius pudesse sentí-lo, estava cansado de apenas esperar. Ele queria ver Yaze logo e queria saber como ele estava, queria ser capaz de ajudá-lo quando voltasse. Por isso, após duas semanas desde que havia voltado para casa, o ruivo decidiu que queria saber mais e falou para seu pai que iria até a anciã, mas Linus não aceitou a decisão do filho de imediato e disse para ele não ir.

  -Eu vou. Sinto muito, pai, mas eu não estou pedindo sua permissão. -Arius falou firme quando o homem negou veementemente ao saber o que pretendia, e Linus o encarou surpreso e um tanto orgulhoso. -Só estou avisando porque não quero que vocês se preocupem comigo. Eu vou voltar, pai, e preciso mesmo fazer isso. Eu preciso saber. -O ruivo disse ao colocar a mão em seu ombro.
  -Você sempre foi tão maduro, meu filho, e sempre tão responsável... -Linus comentou com um fino sorriso. -Não vou te impedir se você realmente precisa fazer isso. Mas tome cuidado, ouviu? A viagem até a anciã é longa e vai ser pior agora que é inverno. -Advertiu-o seriamente e o garoto acenou em concordância, então pegou a espada que deixava apoiada ao lado da cama e colocou-a sobre as costas em cima da capa. Tudo o que ia precisar já estava pronto e sua mãe e irmã também já estavam avisadas de sua decisão. -Não quer que eu mande alguém com você?
  -Não, pai, obrigado. Eu quero ir sozinho. Vou voltar rápido. -Arius disse com um sorriso confiante e foi com seu pai na direção da cozinha, onde sua mãe e irmã os esperavam.

  Arius, assim que ajeitou suas coisas sobre os ombros e costas, abraçou a mãe e irmã e beijou a testa de cada uma e afagou os cabelos ruivos de Leana, dizendo que não demoraria a voltar e que não era para nenhum deles de preocupar. Então, acompanhado por seus pais e a irmã, o garoto foi até a entrada do vilarejo e, após um aceno fervoroso e um sorriso caloroso, se despediu mais uma vez e seguiu caminho rumo às montanhas, onde encontraria a anciã. "Eu vou descobrir como te ajudar, Yaze", o ruivo pensou ao subir o capuz vermelho para sua cabeça e inspirou profundamente o ar, deixando-o sair em uma lufada pesada em seguida.
  Arius sequer parou para dormir naquela primeira noite e apenas comeu alguma coisa, dando seguimento em sua jornada sem muitas interrupções, pois queria chegar logo na anciã e perguntar o que poderia fazer para ajudar Yaze. Não aguentava mais ter que esperá-lo voltar e, durante aquelas duas semanas desde que haviam se despedido em frente ao riacho, o ruivo não parava de pensar se havia algo que poderia fazer para ajudá-lo.
  "Espero que a anciã possa dar as respostas que eu procuro", o garoto pensou ao parar por um momento para preparar a caça que havia pego e encarou decidido as montanhas ao longe. "Só mais um dia", disse mentalmente para si e levou a mão ao colar, apertando a pedra com força e sentindo-se mais tranquilo.
  Assim que terminou de comer, Arius decidiu dormir, pois estava um dia inteiro acordado e havia caminhado muito, e acordou por volta do final da tarde, então arrumou seus pertences e pôs-se a caminhar outra vez.
  Então mais um dia se passou e o ruivo já estava quase no meio da montanha, olhando ao redor e procurando pela indicação de para qual lado ficava a caverna da anciã, sorrindo satisfeito ao ver as árvores cruzadas mais à frente. O garoto só precisaria virar à direita após as árvores e seguir caminho até encontrar a boca da caverna, e lá ele encontraria a anciã.
  "Enfim, aqui estou", Arius pensou ao parar em frente à boca da caverna e tomou fôlego e logo seguiu caminho rumo à escuridão interior. E não demorou muito mais do que alguns breves minutos para o garoto chegar em uma das partes mais profundas, tendo o local iluminado por pequenas flores azuis e laranjas que floresciam pelas paredes ou pelo chão entre as fendas.

  -Olá, meu jovem. -Uma voz de mulher disse ao sair de uma bifurcação à esquerda e Arius a encarou surpreso pela chegada repentina. -Você chegou cedo, mal pude terminar o chá a tempo. Sente-se, por favor. -Pediu ao levar uma espécie de bandeja com dois copos de barro e uma panela com chá para junto dos assentos de pele de animal no chão. E Arius apenas obedeceu e sentou-se em frente à mulher, vendo-a servir os dois copos com chá. -Beba, meu jovem, isso vai lhe dar mais força e energia. -Disse ao estender o objeto na direção do ruivo e este pegou-o.
  -Obrigado, mas eu estou aqui porque-
  -Eu sei, eu sei. Você quer saber sobre a maldição do lobo. -A anciã o interrompeu e balançou a mão como se não fosse nada demais, bebendo de seu chá em seguida. -Beba, beba. Você vai gostar. -Encorajou-o balançando afirmativamente a cabeça e sorriu, mostrando o sorriso com poucos e afiados dentes. -A maldição do seu amigo, meu jovem, foi lançada por uma das últimas bruxas ancestrais. Elas viveram aqui há muitos e muitos anos atrás. Foram a primeira ponte entre nós, humanos, e os Espíritos, mas, como qualquer outro ser deste mundo, elas eventualmente morreriam, e pereceram após séculos de vida. Mas isso é outra história e acredito que você não esteja muito interessado nela agora, não é? -Indagou balançando a mão e a cabeça, mas não deixou Arius falar, pois logo continuou. -A bruxa que amaldiçoou o jovem guerreiro estava à beira da insanidade e veio a falecer poucos anos após amaldiçoá-lo. Uma triste tragédia, devo admitir. -Disse com um leve balançar negativo de cabeça e o ruivo apertou o copo em mãos. -Infelizmente ninguém além da própria bruxa pode desfazer o feitiço, mas há como quebrá-lo.
  -Como?? -O ruivo indagou eufórico e a anciã negou com a cabeça.
  -Você precisa matá-lo.
  -O quê?! Eu não vou fazer isso! -Exclamou na defensiva e a pedra no colar brilhou.
  -É a única forma de libertá-lo da maldição, Aruna. -Falou, agora mais séria, encarando o ruivo nos olhos e este sentiu um arrepio na espinha.
  -Como sabe meu apel-
  -Eu esperei por muitos anos até que você viesse. Eu sabia que um dia você viria até mim. Assim como sei que você vai fazer o que eu lhe disse; vai quebrar a maldição do lobo. Só você pode fazê-lo. -Disse após interrompê-lo outra vez e esticou a mão na direção da pedra que Arius carregava no colar, vendo-a brilhar mais e logo ser protegida pelas mãos do ruivo. -Ela responde a você. Ela pertence a você agora. A alma de Yaotl. -Falou ainda mantendo a mão em frente ao colar e o garoto afastou suas mãos, olhando para a pedra brilhosa.
  -Mas eu não... não posso matar... Yaze. Não posso matá-lo! -Exclamou ao olhar para a anciã com medo e angústia e a mulher afastou a mão, bebendo mais um gole do chá.
  -Você vai. Esse é seu destino desde antes de nascer, Aruna. Você carrega a esperança de Yaotl ter uma vida normal outra vez, por isso precisa matá-lo. Mate o lobo e liberte-o da maldição. -A anciã disse plácida e encarou o copo do ruivo. -Beba o chá, vai lhe dar energia para o caminho de volta.
  -Mas eu-
  -Não há nada mais a ser dito, meu jovem. Você já tem as respostas das perguntas as quais lhe atormentavam e não tem muito tempo para voltar para casa. -Disse ao levantar-se do assentado de pele de animal e começou a caminhar lentamente na direção da bifurcação à esquerda outra vez. -O lobo se aproxima muito mais rápido do que o previsto e acredito que chegará antes de você. Beba o chá. -Falou antes de sumir na escuridão e Arius levantou-se depressa, deixando o chá pela metade no copo.
  -Yaze já está voltando?! Eu preciso ir! -Exclamou para si e, rapidamente, pôs-se a correr na direção da qual veio, sem tempo de pensar direito no que faria após saber como as coisas iriam acontecer.









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Novamente agradeço pela sua atenção e peço desculpas por qualquer erro aqui cometido.

A Maldição do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora