Vou ficar ao seu lado.

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Desde já agradeço pela sua atenção e peço, antecipadamente, desculpas por qualquer erro aqui cometido.







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  Arius, que ouviu a história com total atenção, não precisou de mais do que alguns segundos para relacioná-la com o que havia visto na parte superior de dentro da árvore. O garoto encarou surpreso o lobo e logo olhou na direção da árvore, intercalando o olhar nesses dois por algum tempo.

  -V-você...? Em nome dos Espíritos, não pode ser real! -O ruivo exclamou extremamente surpreso e o lobo bufou pelas narinas.
  ~Acredite no que quiser. -Disse com certo desdém e caminhou na direção da árvore, entrando pela abertura e deitando-se na cama de palha.

  Porém não demorou muito para que Arius o seguisse e entrasse na árvore também, parando em sua frente e lhe encarando seriamente.

  -Então você... é o herói da lenda? -Perguntou curioso.
  ~Eu não sou herói.
  -Como, então, a lenda se espalhou? E como você virou o vilão se tudo o que fez foi ajudar? -Indagou com comoção na voz e sentou-se no chão em frente ao lobo.
  ~As histórias sempre se espalham uma hora ou outra. Não faz diferença como começou. -Falou sem dar importância e o ruivo franziu o cenho em tristeza.
  -Mas isso não é certo! Você ajudou eles, não deveria ser o vilão! -Exclamou realmente irritado com a situação e o animal surpreendeu-se com aquilo, pois nunca ninguém havia se comovido assim por si.
  ~Não gaste sua energia com isso. Não há nada que possa ser feito. -Disse com o maior desinteresse que conseguiu, mas viu na face do ruivo que ele não iria parar de se incomodar com aquilo tão cedo. Arius era tão fácil de ler...
  -Mas-
  ~Sem "mas". As coisas são assim e as histórias já foram disseminadas. Agora me deixe descansar. -Falou sério e apoiou a enorme cabeça nas patas, para logo fechar os olhos.

  E, por um breve instante, tudo ficou em silêncio e o lobo realmente pensou que poderia descansar, mas Arius logo voltou a falar.

  -Você disse que a lança era seu último recurso... O que quis dizer?
  ~Não vai mesmo fazer silêncio e me deixar dormir? -Indagou ao abrir os olhos outra vez. ~Você deveria voltar para o seu vilarejo.
  -Eu quero saber. Por favor. -Pediu ao curvar o corpo em súplica e o animal suspirou para dentro de si.
  ~É a única arma capaz de me matar. Espadas e facas e flechas ou qualquer outra lança que não seja aquela específica, não penetram na minha pele.
  -Você quer... morrer? -Arius perguntou triste e o lobo soltou o ar como uma risada.
  ~Não. Ao menos, não agora. Ainda não desisti de voltar a ser quem eu era. Há uma cura. Eu posso ser humano outra vez. -Disse com uma notável esperança na voz e Arius pensou que, se pudesse, faria o que fosse para que ele voltasse ao normal.
  -Eu queria poder te ajudar... -Murmurou triste com a cabeça abaixada e o lobo levantou-se de repente, caminhando até si e encostando de leve o focinho em sua cabeça, surpreendendo o garoto e o fazendo arrepiar-se até a ponta do pé. -V-vo-você...
  ~Você é a pessoa mais interessante que eu já conheci, Arius. -Disse baixinho e abaixou mais o focinho, fazendo uma leve carícia na cabeça do ruivo.
  -Meu nome... Você disse. -Balbuciou ansioso e sentiu o peito disparar quando os pelos macios encostaram de leve em seu rosto, causando uma vontade, quase incontrolável, de acariciá-los. -Ei, qual o seu nome? -Perguntou apertando com força a roupa que vestia -para não levar as mãos ao pelo macio e brilhoso do lobo.
  ~Você não precisa saber, porque não vai ter que se lembrar dele. Você tem que ir embora. -Disse ao se afastar e Arius sentiu-se um pouco abatido.
  -Mas eu não quero ir. -Falou firme e o lobo lhe encarou surpreso.
  ~Não quer ver a sua família? Foi por causa deles que veio se sacrificar, não é? Quer mesmo que eles pensem que você morreu? -Indagou sério e o garoto comprimiu os lábios com força, pensativo.
  -Eu quero vê-los. Não quero que pensem que eu morri. Eu amo eles. -Arius disse enquanto olhava para o chão, mas logo levantou o olhar para o animal, diretamente em seus olhos. -Mas eu quero saber mais de você, porque você quem salvou o meu vilarejo. Quero retribuir de alguma forma. -Falou ainda mais sério e o lobo sentiu o pelo eriçar mais uma vez.
  ~Você não precisa.
  -Eu quero.
  ~Eu não quero. Você vai me dar trabalho.
  -Eu sei me cuidar. Posso caçar por mim mesmo e fazer fogo, pegar água, posso limpar e fazer tudo o que você não puder também. -Disse realmente levando a sério o querer ficar ali e o lobo sentou-se outra vez, soltando com força o ar pelas narinas.
  ~Você não vai desistir?
  -Não! -Exclamou decidido e o animal rosnou baixinho e fraco, então virou as costas para si e saiu da árvore, sendo seguido por Arius no mesmo instante. -Seu silêncio quer dizer que posso ficar? -Perguntou ansioso.
  ~Vai adiantar eu dizer que você não pode ficar?
  -Não mesmo! Eu dormiria na rua se você me proibisse de entrar e não iria embora! -Falou sério e o lobo parou, olhando-o diretamente nos olhos e suspirando pesado. -Então eu posso ficar? -Indagou esperançoso.
  ~Só não mexa nas minhas coisas... -Disse baixo, quase a contragosto, mas também contente por ter alguém ali consigo.
  -É sério? Isso! -Arius exclamou estranhamente animado e sorriu caloroso, e naquele instante o lobo pensou que o garoto tinha um sorriso magnífico e o mais belo que já vira.

  O animal se deteve um tempo para ficar olhando o sorriso de Arius e sentiu ele mesmo vontade de sorrir, mas não pôde, pois sua fisionomia não permita tal coisa. E o lobo amaldiçoou sua maldição por tê-lo deixado daquele jeito. Ele era apenas um garoto comum há muitos, muitos, anos atrás e deveria ter tido uma vida comum, mas não foi o que aconteceu.

  -Ah! Como foi que você virou o Lobo Guardião do Bosque? -Arius perguntou de repente, ainda sorrindo.
  ~Aquelas bruxas velhas inventaram isso de "Lobo Guardião" e começaram a falar essas coisas para quem quer que fosse atrás delas pedindo ajuda. Cerca de setenta anos atrás apareceu o último viajante por aqui procurando por ajuda. Eu o afugentei logo, como faço com todos.
  -Exceto eu, não é? -Indagou sorridente.
  ~É porque você veio pronto para morrer. Eles não queriam morrer, só queriam ajuda, então era fácil os assustar. -Disse ao sentar-se à sombra de uma das inúmeras árvores e Arius sentou-se à sua frente.
  -Mas você os ajudava?
  ~Sim.
  -Você é uma boa pessoa. -Comentou com um sorriso gentil e o animal sentiu o peito quente, pois havia anos -sequer lembrava se alguma vez haviam dito aquilo para si- que alguém o chamava de "boa pessoa".

  O animal, então, ajeitou-se na grama e deitou, apoiando a cabeça nas patas e fechando os olhos enquanto tentava controlar o sentimento quente e agradável em seu peito.

  -Vai me dizer seu nome agora? -Arius perguntou sorridente ao animal e este abriu apenas um olho, encarando rapidamente o sorriso do garoto.
  ~Não. Me deixa descansar e vá fazer o que estava fazendo. -Disse ao fechar o olho mais uma vez e Arius levantou-se.
  -Sei que você me proibiu de mexer em suas coisas, mas... posso pegar as panelas? -Indagou meio constrangido e o lobo bufou.
  ~...Tudo bem. -Murmurou e o ruivo agradeceu alegre, e o animal pôde sentir seu sorriso mesmo sem vê-lo.

  Arius, então, seguiu animado na direção da árvore e deixou o lobo finalmente descansar, apenas pensando que iria aproveitar o dia agradável e limpar o local, pois estava repleto de pelos e poeira.













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Novamente agradeço pela sua atenção e peço desculpas por qualquer erro aqui cometido.

A Maldição do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora