Sol.

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Desde já agradeço pela sua atenção e peço, antecipadamente, desculpas por qualquer erro aqui cometido.









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  Arius, após conversar mais um pouco com Yaze e extremamente alegre por, finalmente, saber o nome do lobo, ajeitou-se para dormir. Contudo, ainda que estivesse com sono, aquela noite estava mais fria do que as anteriores. Talvez fosse porque era solstício, o garoto pensou puxando o cobertor acima das orelhas.

  -Que frio... -O ruivo murmurou encolhendo-se sobre a cama.

  Yaze, que encarava atentamente os movimentos do garoto, suspirou para dentro de si e levantou-se, caminhando calmamente na direção de Arius e, antes mesmo de o ruivo perceber a aproximação, agarrou-o com o cobertor e tudo, então voltou com ele até sua cama, onde deitou-se outra vez.

  -O q-que foi? -Arius perguntou surpreso e nervoso, pois não estava acostumado a ser carregado daquele jeito por aí.
  ~Está frio. Você pode dormir comigo, se quiser. Meu corpo é quente. -Yaze disse encarando-o nos olhos e o ruivo acenou lenta e positivamente com a cabeça.
  -Obrigado. -Agradeceu e logo ajeitou-se com o cobertor, escorando seu corpo no do lobo e sentindo, dentro de poucos minutos, um calor agradável. -Hum... Você não sente frio, então? -Perguntou de repente após algum tempo.
  ~Quase nunca. Se eu ficar preso em uma nevasca, sim. Já aconteceu uma vez.
  -Quando? Como?
  ~Foi há muito tempo atrás. No primeiro inverno que passei aqui desde que me tornei... esse monstro. -Falou com amargor e o ruivo pressionou seu peso contra si.
  -Você não é um monstro, Yaze. Eu sei que não. -Arius disse com um sorriso gentil que, mesmo naquela escuridão iluminada apenas por duas flores brancas brilhosas, o lobo pôde ver e sentir queimar. -Aliás, Yaotl é seu sobrenome mesmo? Ou é um segundo nome? -Perguntou curioso, pois desde momentos atrás quando Yaze lhe havia dito seu nome, ficou pensando sobre o assunto.
  ~As pessoas começaram a me chamar assim e, como não lembro qual meu verdadeiro sobrenome, aceitei este.
  -Isso é incrível! Yaotl significa "guerra" ou "guerreiro", não é? Acho que combina muito bem com você! -Exclamou realmente animado e o lobo deitou a cabeça sobre as patas.
  ~Você deveria dormir. -Disse já fechando os olhos, mas Arius não estava prestando atenção.
  -Meu apelido não é tão legal. Os aldeões do meu vilarejo me chamam assim desde que posso me lembrar, porque dizem que eu pareço um "pedacinho do sol". -Comentou com uma leve feição contrariada e Yaze abriu os olhos para si mais uma vez.
  ~Como eles te chamam?
  -Aruna. Minha mãe diz que significa "sol da manhã, nascer do dia e esperança". -Disse sorrindo um pouco animado e o lobo lhe encarou surpreso, lembrando-se do que a velha anciã lhe havia dito muitos anos atrás; "Você, jovem amaldiçoado, busca por calor. Lá você vai encontrar o que procura".

  Naquele momento, Yaze sentiu o coração disparar rápido, tão rápido que parecia haver corrido quilômetros de distância. O lobo continuou encarando Arius e pensando nas palavras da anciã, tentando entender como tudo aquilo funcionava, mas sempre voltando para o começo do pensamento e se perdendo neles.
  Aquilo era mesmo real? Poderia Arius, finalmente, quebrar a maldição da qual era prisioneiro? Yaze não tinha ideia, mas esperava que sim, pois não queria passar a eternidade preso na forma de um monstro. Porém, agora que sabia -ou pensava que sabia-, como quebrar a maldição? Ele nunca havia perguntado para a anciã que lhe falou sobre o bosque e sobre a árvore e sobre o sol, então não sabia o que fazer agora. "Talvez devesse procurá-la e perguntar como desfazer esta maldição", Yaze pensou, pois sabia que as vidas das anciãs e bruxas eram longas, ainda que não soubesse quão longas realmente eram.

  -Yaze? Yaze? Está ouvindo? -Arius indagou sacudindo o lobo e este balançou a cabeça e lhe encarou, saindo completamente de seu transe. -Você está bem? Seu coração disparou de repente...
  ~Arius você... -O lobo balbuciou sentindo uma estranha euforia crescer dentro de si. ~Você deveria dormir. Está tarde e frio. Eu também tenho que dormir. -Disse sem mais emoções, não querendo sobrecarregar o garoto com seus pensamentos e pressioná-lo a fazer qualquer coisa para lhe ajudar, pois sabia que o ruivo se voluntariaria de bom grado para isso.
  -Você está bem? -Perguntou ainda preocupado e o lobo apenas lhe encarou e acenou com a cabeça.

  Arius, então, deitou-se outra vez e se aconchegou contra o lobo, sentindo-se aquecido e seguro e contente, pois gostava da maciez dos pelos negros de Yaze e do calor que o corpo dele tinha. O ruivo, pensando que nunca sentira-se tão confortável assim, fechou os olhos e respirou baixinho enquanto o sono lhe tomava o corpo e a mente, deixando qualquer preocupação para trás e apenas relaxando o corpo cansado.
  Já na manhã seguinte, quando acordou, Arius estava sozinho na enorme cama do lobo e não o viu na clareira quando saiu da árvore para tomar sol, aproveitando que as manhãs eram estranhamente quentes em contrapartida das noites cada vez mais frias. Contudo, Arius não se importou com o fato de Yaze não estar ali, pois não era incomum o lobo sair para caçar nos arredores do bosque ou fazer o que quer que seja que fazia quando saía da clareira, então o ruivo apenas pegou algumas frutas e acomodou-se escorado do lado de fora da árvore para comer enquanto tomava sol.
  Contudo, horas se passaram e Arius não teve sinal de Yaze. O lobo sequer havia aparecido ao meio dia e o ruivo não gostou da falta de notícias, pois ele nunca havia ficado fora por tanto tempo -exceto quando foi até o vilarejo na primeira vez que Arius esteve ali. Por isso, o garoto resolveu procurá-lo e saiu da clareira para dentro dos arredores do bosque, procurando por qualquer rastro que indicasse para onde o lobo pudesse ter ido.

  -Yaze! Você está por aí? Yaze! -Arius chamou caminhando pelos arredores do bosque.

  O ruivo chamou-o cada vez mais alto e mais desesperado à medida em que se aprofundava mais e mais na floresta, chegando a sair do bosque. Porém, quando Arius sentiu o vento frio esvoaçar sua capa com força, cobriu sua cabeça com o grande capuz e decidiu voltar para a clareira, pois Yaze poderia voltar a qualquer momento. Talvez estivesse se preocupando demais, pensou. O lobo deveria estar cansado de apenas ficar por perto e talvez já tivesse algo que quisesse fazer ou que fazia quase como uma rotina nos invernos. Não era nada demais, Arius pensava na tentativa de se tranquilizar. Yaze era capaz de se cuidar. Então, com esse pensamento mais tranquilizante em mente, pôs-se em marcha para voltar à clareira, onde passou a fazer as coisas que sempre fazia, apenas a espera do lobo.















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Novamente agradeço pela sua atenção e peço desculpas por qualquer erro aqui cometido.

A Maldição do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora