Pesares.

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Desde já agradeço pela sua atenção e peço, antecipadamente, desculpas por qualquer erro aqui cometido.








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  Voltando brevemente ao vilarejo, naquela manhã após o lobo cuidar do problema nas plantações, quando os aldeões acordaram e foram ver o estado da destruição dos campos, ficaram surpresos ao não acharem qualquer sinal de devastação ali, mas sim o mesmo plantio que haviam feito no dia anterior. Contudo, a notícia não alegrou a todos ali, pois Henrietta, Linus e Leana tiveram, naquele instante, a certeza de que Arius não voltaria mais para casa. Que não adiantaria mandarem caçadores para o trazer de volta. Que nunca mais veriam os intensos cabelos ruivos do garoto ou veriam o sorriso caloroso dele ou ouviram a voz doce que sempre perguntava "Posso lhe ajudar?", seguida de um sorriso gentil, como era seu habitual.

  -Não...! Linus, nosso filho...! Ele... Ele está... -Henrietta exclamou em meio ao choro e o homem a abraçou com força, também passando o braço por cima da filha que abraçava a mãe.
  -Eu sinto muito... Não pude proteger nossa família... Eu sinto muito... -Linus balbuciou apertando fortemente a mulher e filha contra si, sentindo-se impotente por não ter podido resolver a situação e manter seu filho vivo -ainda que Arius estivesse- e a salvo com eles.

  Os demais aldeões, animados por não terem os campos arrasados, rapidamente começaram a arar mais terra de outros campos que não usavam e logo começaram o plantio. Mas, ainda que estivessem animados com a situação, também sentiam-se culpados e tristes por como aquilo aconteceu. "Aruna se foi", uns diziam com notável tristeza na voz. "Ele era um garoto tão doce", outros diziam com melancolia. "Ele nos salvou...", alguns diziam com uma mistura de pesar e gratidão e saudade e arrependimento por não terem podido fazer nada.
  Contudo, Linus, assim que acompanhou a mulher e filha até sua casa, voltou para junto dos aldeões e os mandou pararem de se lamentar, pois o que estava feito estava feito e não havia nada que podiam fazer para mudar aquilo. Então todos ali engoliram suas dores e voltaram às suas obrigações.
  Linus, após dispersar a todos, se juntou com os chefes e passou a discutir o que fariam dali para frente, falando sobre as plantações e que deveriam cuidar o máximo possível para que tudo corresse bem, pois, por mais que o plantio fosse de rápido crescimento, o inverno estava chegando cada vez mais rápido e intenso e eles precisavam estocar o máximo de comida que podiam. Os chefes tencionaram falar alguma coisa e perguntar se ele estava bem mesmo e se não queria deixar aquilo para depois, mas Linus lhes encarou sério antes mesmo que pudessem falar qualquer coisa, então apenas decidiram calar-se e obedecer ao que o líder dizia.
  Com o passar dos dias, no começo das manhãs, os aldeões não encontraram mais os campos devastados e suas plantações estavam finalmente começando a crescer e todos ali ficaram aliviados, pois não teriam que enfrentar um inverno sem comida ou vagar durante o inverno com frio e fome em busca de um novo local. Entretanto, por mais que a felicidade fosse notável, o olhar de culpa e tristeza não saía do rosto de ninguém e Henrietta havia se trancado em casa, afetada demais pela morte do filho. Linus fazia o que podia para cuidar do vilarejo e da mulher e filha, e culpava a si mesmo por não ter podido manter Arius ao lado deles.
  Já Leana, a qual dormia todas as noites na cama do irmão, não acreditava que o ruivo mais velho estivesse morto de verdade. Ela sabia que ele não morreria assim. Não podia ser verdade, era o que a garota pensava sempre que ia até o riacho onde brincavam e olhava com tristeza e nostalgia para a água corrente e as pedras cheias de limo, lembrando da sempre apreensiva fala do irmão de "Cuidado com as pedras que têm limo" quando ela se aproximava demais delas.

  -Arih... -A pequena ruiva murmurou com os olhos cheios de lágrimas e apertou o vestido que usava com força, abaixando a cabeça e deixando suas lágrimas caírem e se misturarem às águas calmas do riacho.

  Ao longo de mais dias e semanas, o pequeno vilarejo pôde, enfim, começar a ver as plantações se encherem de verde e até as árvores frutíferas recomeçaram a dar frutos. Os aldeões, assim que o solstício de inverno chegou, se reuniram em frente aos campos ao entardecer e ajoelharam-se, todos unidos em uma prece de agradecimento a Arius, quem havia dado a sua vida por eles, para que ninguém ali precisasse sacrificar um filho por conta própria. Até mesmo Henrietta havia saído de casa para rezar pela alma do filho e agradecer e se desculpar e lavar sua alma com as lágrimas salgadas de seus olhos.
  Era doloroso e quase impossível de suportar aquela perda, mas eles precisavam ser fortes e não se deixar abater e perecer, pois Arius não iria querer aquilo. Ele iria querer que todos vivessem e ficassem bem, por isso fez o que fez e se sacrificou por todos. Eles deveriam aproveitar a vida que o ruivo lhes havia dado e era isso que iriam fazer, ainda que sempre presos ao pensamento do sacrifício feito em nome de todos.













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Novamente agradeço pela sua atenção e peço desculpas por qualquer erro aqui cometido.

A Maldição do LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora