Capítulo Quarenta e Cinco

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  Os dias se passavam, com os meses levando consigo todas as lembranças ruins. Durante a luz do dia, era como se nada tivesse acontecido, como se eu nunca estivera a beira da morte, pronta para conhecer o além e quem estava por de trás dele. Ao cair da noite, dormir era uma tarefa difícil, com flashes e pequenos colapsos de desesperos que eram contidos diversas vezes por uma única pessoa específica, que sempre estava ali para me aconchegar em seus braços quentes e dizer que estava tudo bem.

As olheiras eram parte de mim e não havia mais maquiagem suficiente que as escondessem. As alucinações também já estavam notáveis, os olhos arregalados pela rua e o medo era impossível não ser percebido pelas inúmeras pessoas ao redor.

Eu não era a mesma.

Depois de toda a correria daquele dia, conseguimos sair sem mais desastres. Fomos levados ao médico de confiança de Leonardo, que nos abrigou e tratou de todos os nossos ferimentos. Depois de algum tempo, já estávamos recuperados e voltamos a ativa. Rafael desaparecendo completamente do nosso radar como foi obrigado por Leonardo, após nossas notas de esclarecimento da presença do mesmo no meio do tumulto. Salvatore também escapando em pune não ajudou muito com a tensão daqueles dias.

Leonardo jurou o caçar até no inferno se necessário e arrancar sua cabeça como um troféu.

Meus machucados não facilitaram para mim o esquecimento dos  tempos ruins. A cicatriz em meu peito me lembrava a todo instante do terror que vivi e da mulher que fui antes daquilo tudo.
Mudei de personalidade diversas vezes, e aquela era a pior, a mais detestável. A que tinha muitos segredos, a que era assombrada, procurada, e o pior de tudo, a que é uma assassina.

Essa era eu daqui em diante e eu não podia negar ou tentar fugir para sempre do meu passado. Assumi minha culpa, não me perdoei por me defender, por matar mais de uma vez. Afinal, aquilo meio que virou rotina, era parte de mim, viver com medo de ser descoberta por meus crimes, de perder tudo que havia conquistado, do que estava enterrado, de ser encontrada e decapitada pelos meus inimigos que colecionei com o tempo, de me separar das pessoas que eram importantes pra mim.

Essa sou eu.

A que tem um presente tolerável, um passado deplorável, um futuro duvidoso.

Isabella Florantines.


Dezoito meses depois.

A empresa Florantines voltou ao sucesso, com meu irmão afastado da central e eu na linha de frente, o progresso veio mais rápido do que esperávamos. Com os negócios triplicados, a empresa Semenov já não era a única a ter mais de uma linha de comandos pelos países vizinhos.

Leonardo e eu, construimos um verdadeiro império juntos, onde nos tornamos o casal que todos queriam ser e saber mais sobre.
Como dito nas várias capas de revista, a família perfeita, com um desejado saldo bancário, beleza invejável e um relacionamento saudável que todos sonham em ter.

Nós nos tornamos intocáveis, tanto na vida comum, como nas sombras. Inalcançáveis, com cabeças abaixadas em nossa direção e poucas vozes contra nós.

Aprendi a conviver todos os dias com a pessoa que me tornei, me obrigando a ter orgulho de tudo que fiz para chegar onde cheguei mesmo que tenham dias que eu me menospreze querendo acabar com tudo.

Eu tinha uma família agora e não podia me dar ao luxo de foder com tudo para meu próprio bem estar mental.

O caminho no carro era longo, o som do rádio tocando a canção Rock And Roll Lullaby relaxava meus músculos tensos pelo que estava por vir. Estávamos indo em direção a uma das nossas casas em Berlin, onde acabamos de pousar, com notícias de Salvatore, que nunca foi esquecido, para concluir o juramento de Leonardo. Mesmo depois de todas as minhas súplicas ele não desistiu e esteve todo esse tempo atrás do maior inimigo. Já viajamos muito tentando acabar com tudo isso, mas sempre falhavamos e voltavamos a estava zero.

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