Capítulo 9

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Capítulo 9

Pela manhã atracamos na segunda vila ribeirinha. Lá, a realidade era outra. Fome, analfabetismo e insalubridade competiam para se sobressair sobre os moradores daquele lugar. Entretanto, a noite com Gustavo ainda estava fresca em minha mente. Cada toque, beijo e sensação estavam latentes em mim.

De bom humor, optei por um vestido com estampas de girassóis e fundo branco. Eu amava aquele traje, que era longo e de alcinhas, uma das poucas roupas que aguçavam a minha feminilidade.

Peteando meu cabelo diante do espelho, percebi que meu telefone resolveu dar sinal de vida. Não demorou para ele começar a tocar. Respirei fundo antes de atender seu Liberato. Inacreditável como o homem era insistente.

— Alô.

— Bom dia, indiazinha. Como vão as coisas com seus humanitaristas?

— Está tudo bem.

— Bom, bom. Sabe, olhei minha conta essa manhã e o saldo não está como eu gostaria que estivesse. Então um homem da minha confiança vai te encontrar hoje pra receber o meu dinheiro.

— Se depender de mim, seu saldo vai continuar do mesmo jeito até o final desta viagem. Não vou entregar nada a ninguém antes do prazo combinado.

— Não brinque comigo, indiazinha. Sou um homem de palavra.

— É bom que se relembre disso. Em nosso acordo, o senhor me deu a suapalavra de que não me incomodaria até eu finalizar meu serviço. Também sou umamulher de palavra, coronel. E gosto das coisas certas. Vou te pagar quandovoltar à Cruzeiro do Sul. — De repente, alguém bateu na porta, em seguida, ouviMiguel me chamar. — Preciso desligar, passar bem. — Encerrei a conversa edesliguei totalmente o aparelho para não ser surpreendida por outra ligaçãoindesejada.

Saí da cabine rumo a cozinha para beliscar alguma coisa. Depois de uma conversa rápida com Miguel, combinamos que ele ficaria de olho em qualquer coisa suspeita. Então fui fazer caminhada à beira rio, me afastando alguns metros da vila.

A água não estava tão alta e nem barrenta naquela parte do rio, podia-se até encontrar pequenas faixas de areia. Isso era bom, pois significava que estava livre de Candirus, ou seja, seguro para banhos.

Tirei as rasteirinhas dos pés e fiquei brincando com a água gelada. Havia uma presença feminina borbulhando dentro de mim. Eu estava vaidosa, me sentia bonita e esbanjava sorrisos. Tais sentimentos não se manifestavam há muito tempo.

Apesar de estar um pouco apreensiva com uma nova aparição de algum capanga do coronel, no geral, eu estava muito bem. E por causa disso, dessa ligeira apreensão, decidi nadar um pouco.

Tirei toda a roupa deixando-as penduradas em um galho. Nua, corri para a água e mergulhei. Como cresci às margens do rio, era acostumada com as correntezas fortes e imprevisíveis abaixo da superfície. A força do curso das águas me impulsionou na direção de uns galhos submersos, mas consegui desviar e voltar a superfície para respirar. Sorri ao ver Gustavo parado as margens a me observar. Ele estava com minha calcinha em mãos. Sem desviar os olhos, ele começou a retirar a própria roupa para se juntar a mim.

Assim que entrou no rio,ele reclamou sorridente:

Bah! Que água gelada!

— Vem, você se acostuma, doutor. — Estendi a mão chamando-o para se achegar a mim.

— Poderia parar de me chamar de doutor. — Ele me abraçou e juntou nossos corpos.

— Como devo chamá-lo então? — rodeei minhas pernas em sua cintura ao ser carregada.

Nos Labirintos da SelvaOnde histórias criam vida. Descubra agora