Capítulo 11

37 13 66
                                    

Capítulo 11

Começamos a nos preparar para zarpar ao meio-dia. Os trabalhos da equipe já estavam quase no fim. Então aproveitei para circular na pequena vila a fim esticar as pernas e respirar ar puro.

Um dia antes, Gustavo havia me surpreendido ao contar que era pai e viúvo. Jamais poderia imaginar que tivesse passado por esse tipo de luto, afinal, o homem estava sempre sorrindo. Descobrir sobre sua perda me fez vê-lo com outros olhos.

Enquanto caminhava imersa em meus pensamentos, não me dei conta que o capanga do seu Liberato me seguia.

— Ísis! — sua voz me fez parar e me virar, era o mesmo rapaz do dia anterior.

— Cai fora, moleque! — repreendi, perdendo a paciência.

— Só estou seguindo ordens, não é pessoal.

— Sei... — revirei os olhos. — é melhor ficar na sua e me deixar em paz porque não entregarei dinheiro algum antes do prazo. Combinado é combinado!

— Ísis, facilita a situação. Vamos evitar problemas com o coronel, ele sabe ser impiedoso quando quer. — Insistiu na mesma ameaça, enquanto mostrava a arma escondida no cós da calça.

— E eu sou uma mulher de palavra! Se o seu patrão volta atrás no que diz, problema dele! — quando dei por mim, já tinha insultado o homem mais perigoso da região. Por cima do ombro do rapaz, há poucos metros de distância, vi Gustavo cercado por um grupo de mulheres.

— Ísis... — O rapaz pronunciou meu nome como um alerta.

— Só vou pagar daqui um mês, quando chegar em Manaus! Não volte a me abordar! — tentei continuar o meu caminho e ele se colocou na minha frente.

— Você é teimosa, mulher! — segurou meu pulso e me puxou para si. Num reflexo, acertei um murro no rosto do capanga sem me importar com sua arma.

— Não toca em mim! Quem você pensa que é? — minha voz alterada chamou a atenção do grupo.

Então os olhos de Gustavo se encontraram com os meus. Vi espanto em seu semblante. Fiquei ainda mais possessa por isso, e não demorou para que eu me afastasse a passos pesados.

— Isso não vai ficar assim! Vai me pagar por esse soco, indiazinha! — o capanga lançou a ameaça a minhas costas.

— Vai pro inferno! — vociferei irritada.

Imediatamente, me dei conta do quanto foi inconsequente agredir um homem armado. Uma dor de cabeça me atingiu, latejando as minhas têmporas, mas continuei a pisar duro. Ao passar pelo grupo de mulheres, percebi que todas me olhavam em silêncio. Fechei ainda mais o semblante e entrei no Vitória Régia com a intenção de deixar tudo pronto para nossa partida.

*****

Enquanto conferia os suprimentos na dispensa, ouvi Gustavo se aproximar. Foi fácil identificar sua presença através do seu cheiro, a mistura de perfume e repelente em sua pele resultava em um aroma único. Inspirei e ao me virar, ele me olhava com preocupação.

— Tudo bem com você? — eu sabia que aquela pergunta era referente ao meu ataque ao capanga, minutos atrás. — Parecia bem nervosa com o homem.

— Ele mereceu.

— Não duvido. Posso saber o motivo?

— É melhor não. — Após assinar a lista na prancheta que indicava que os itens estavam estocados de acordo com o esperado, me encostei na prateleira e o encarei, aqueles olhos cinzentos eram muito sedutores e misteriosos.

Nos Labirintos da SelvaOnde histórias criam vida. Descubra agora