Capítulo 15

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Capítulo 15

Devido ao seu ato de heroísmo, Mauro começou a receber muita atenção de Grayce. Ela se mostrou solícita; a todo momento verificava o curativo e ficava na cola para que o grandalhão não se esquecesse de tomar os analgésicos. Meu funcionário estava gostando daquela paparicação, sorria feito bobo até quando levava uma bronca da enfermeira baixinha por fazer um esforço físico.

A ideia de Gustavo estava fervilhando em minha mente. Sair do Norte poderia ser benéfico para mim, mas precisava ser algo bem pensado. Além do mais, havia pendências a serem resolvidas em Cruzeiro do Sul. Principalmente aquelas relacionadas ao maldito coronel usurpador. Agora o desgraçado queria juros por causa de seus capangas feridos. E quanto ao meu funcionário ferido?

Se eu pudesse, fatiaria sua pele com o meu canivete e o jogaria ainda vivo na água para servir de petisco aos peixes.

O sol já estava alto quando aportamos na vila Tamiquá. Lá vivia apenas uma família. Uma família grande, pois somavam-se quase vinte casas. Os anfitriões da vila eram quatro irmãos casados com mulheres de outras vilas, eles tiveram filhos, filhas, genros, noras, netos e bisnetos. Quanto mais a família crescia, o número de casas aumentava.

As moradias foram construídas acima do nível da água, suspensas por pilares de madeira com cerca de dois a três metros de altura, assim, quando as águas subiam, eles ficavam protegidos.

Após silenciar os motores do Vitória Régia, ouvimos uma comoção no local, um corre-corre danado. Fui a primeira a descer do barco, as crianças curiosas tentavam ver o que acontecia dentro de uma das casas de madeira enquanto eram repreendidas pelos homens mais velhos.

— Ísis, que bom ver você! — Geralda, uma das moradoras sorriu e acenou ao me ver. Ela tinha uma roça muito produtiva atrás das casas e eu era uma de suas clientes.

— Digo o mesmo. Estou trabalhando com uma equipe humanitária que vai dar assistência médica para vocês.

— Fiquei sabendo, vou avisar a todos pra se arrumar. É até bom ter médicos aqui. A Maria, filha caçula do Antônio está parindo, mas o bebê está virado.

— Isso é um problema. O que a parteira disse?

— Ela não sabe mais o que fazer. — Seu olhar se tornou melancólico. — Provavelmente vamos perder a criança, já passou da hora de nascer. — Geralda me conhecia desde a minha adolescência. Quando sua sobrinha Maria se casou, passei pela vila durante a comemoração. Me comovi por saber que a menina estava tendo problemas com o parto.

— Tem uma obstetra na equipe que pode ajudar. — Sugeri. Mesmo que a equipe fosse começar a trabalhar só depois do almoço, a situação pedia uma ação imediata.

— Não sei se a Maria vai aceitar que uma estranha ajude ela no parto.

— A vida do bebê está em risco. Ela não tem escolha. — Tentei ser o mais firme possível.

A equipe começava a descer do barco com seus equipamentos para montar uma tenda de atendimento. Foi então que me aproximei de Valentina.

— Algum problema, capitã? — A ginecologista me olhou assustada. A verdade era que o tiroteio tinha abalado a suas estruturas.

Me senti responsável pelo seu estado emocional, mas como tínhamos um novo problema para resolver, prossegui:

— Tem uma jovem em trabalho de parto. Parece que o bebê não está na posição correta.

— Oh, meu Deus! — Apesar do meu santo não bater com o da doutora, ela poderia ser a única esperança naquele momento. — Ela é primigesta? — sua pergunta foi para Geralda.

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