Capítulo 23

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Capítulo 23

No sábado Amós me emprestou sua picape. Apesar de não saber o horário que Gustavo chegaria, eu tinha seu endereço. Estacionei em frente a uma casa de dois andares cercada por grades. O jardim era bonito. Com pouca diversidade de cores, o verde predominava em diversos tons. Uma palmeira entre dois pinheiros me fez sorrir. Aquela vegetação do clima subtropical me trouxe um pouco de familiaridade.

Saí do carro com um embrulho e uma sacola de presente nas mãos. Não precisei tocar o interfone, pois o portão estava aberto e de dentro da casa, uma menininha saía correndo e segurando uma bola rosa.

— Espera a vovó, Alexa! — uma senhora veio logo atrás. Eu sabia que era Andréia, a mãe de Gustavo.

Ao voltar minha atenção para a menina, percebi que ela me estudava com seus lindos olhos cinzas. Então um sorriso idêntico ao de seu pai brotou em seu rosto infantil.

— Ísis! — falou meu nome num misto de surpresa e alegria. Fiquei um pouco desconcertada por causa dessa boa receptividade, mas acho que consegui disfarçar.

— Olá Alexa. — Me abaixei para ficar na altura da pequena. — Como você está?

— Estou bem. A vovó vai me levar na pracinha para brincar. — Ela apontou numa direção à minhas costas. Eu estava impressionada com sua desenvoltura na fala. Se por videochamadas já era visível a sua inteligência, pessoalmente era impressionante.

— Que bom! Olha o que eu trouxe pra você. — Entreguei primeiro a sacola.

Assim que viu as penas coloridas do cocar saindo para fora, ela deu um grito de felicidade.

— A coroa de índio! — Alexa tentou abrir a sacola de papel, porém tive que ajudá-la. Quando conseguiu pegar o cocar, não perdeu tempo e o colocou em sua cabeça desajeitadamente. — Olha, vovó! É uma coroa de índio!

A senhora, que estava alguns passos atrás, se aproximou.

— Sim, estou vendo. É muito bonita. — Ela sorria com benevolência diante da empolgação da neta.

— Esse aqui é pra você também. — Logo que entreguei o segundo presente, Alexa não teve dificuldade de abrir. Rasgou o embrulho num átimo, pegando o chocalho primeiro.

— Que legal! — sacudiu o instrumento e soltou uma risada espontânea. Sua alegria mexeu em algo que doeu no fundo do meu coração. Curiosa, ela viu um saquinho metálico sobressair entre o papel recém-rasgado. Prontamente, desenlaçou a fitinha de cetim e tirou de dentro a pulseira colorida de sementes de açaí. Tive que ajudá-la a colocar o biojoia no punho. — Olha como é linda, vovó!

— É realmente linda, Alexa. Agora, o que se diz quando ganhamos presentes?

— Obrigada, Ísis! Eu adorei! — a menina me abraço, me deixando alguns segundos sem reação. Meu coração se apertou ainda mais com o contato espontâneo.

— Fico feliz que tenha gostado. — Eu não esperava esse comportamento, mas devolvi o afeto toda desconsertada antes de me levantar sem-graça.

— Veio procurar o Gustavo? — Dona Andréia saiu portão afora. — Ele ainda não chegou.

— Sim. Ele disse que voltaria hoje, mas não me informou o horário. Então arrisquei, quis fazer uma surpresa.

— Não consigo deixar a coroa parada em minha cabeça! — Alexa fez bico pelo fracasso com o cocar.

— Quer ajuda? — perguntei e ela concordou com a cabeça. Voltei a me abaixar para ajustar o objeto pelas cordinhas traseiras.

— Acredito que Gustavo chegará em uma hora. Estou levando Alexa para a pracinha...

Nos Labirintos da SelvaOnde histórias criam vida. Descubra agora