Tic-Tac

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Delilah

― O vocalista da banda de rock Lantern Lumia, Ian Montgomery, de vinte e quatro anos, sofreu, essa manhã, um acidente de carro o qual o próprio dirigia, próximo a sua residência em Los Angeles.

Me desliguei da notícia que a jornalista dava sem qualquer inflexão na voz na televisão e evitei olhar para o rosto machucado de meu namorado quando me levantei:

― Você pode ficar com ele por alguns segundos? ― perguntei para Ash que nos acompanhava. ― Quero pegar um café lá embaixo para ter certeza de que ainda estarei de pé quando ele acordar.

Todos eles haviam tentado me fazer ir para casa dormir ou me trocar, mas eu tinha sido irredutível, não ia sair do lado de Ian quando era minha culpa ele estar naquela cama de hospital em primeiro lugar.

Ash me deu um olhar de pena que eu decididamente preferia não ver agora antes de acenar:

― Claro que sim, Delilah, leve o tempo que precisar.

Meu celular vibrou enquanto eu esperava a máquina fazer seu trabalho e o chequei para encontrar uma mensagem de Amélia perguntando se havia alguma mudança na situação. Lhe enviei um texto com uma resposta sucinta e esperançosa quando na verdade tudo que eu queria era ligar para ela e deixar que ela me dissesse que tudo ia ficar bem, mas sabia que se ela me ouvisse notaria o cansaço em minha voz e estaria no próximo avião. Eu não podia atrapalhar a vida de mais ninguém no momento, não quando eu já sentia o peso do mundo sobre meus ombros.

Voltando para o quarto, já com o copo de plástico na mão, dei de cara com um George parecendo desorientado. Os rapazes evitavam ao máximo estarem todos de uma vez no hospital pois isso atraia paparazzis então sua presença ali não podia significar nada bom.

― Que má notícia você me traz dessa vez? ― indaguei sem deixar a ironia fora do meu tom, eu estava exausta demais para qualquer que fosse o assunto que ele quisesse trazer à tona.

Ele engoliu em seco e eu percebi que o que sairia de sua boca seria algo saído diretamente dos meus pesadelos:

― Algum enfermeiro vazou fotos do Ian machucado ― confessou. ― Ainda não sabemos quem foi, mas só... evite entrar na internet por alguns dias, sim?

Meu corpo foi lavado por raiva, gélida e quente, e seguida por uma profunda tristeza. Meu Ian não merecia ter sua privacidade violada desta forma quando já estava em uma posição tão frágil, lutando por sua vida.

― Obrigada por ter me avisado ― encontrei forças para dizer. ― Teria sido horrível descobrir de qualquer outra maneira.

― A gente vai encontrar quem fez isso, Del, e vamos fazer essa pessoa pagar ― garantiu tentando me tranquilizar, mas eu não estava no clima para ouvir sobre medidas legais.

A verdade é que eu estava um caco. Não havia voltado para casa nenhuma vez desde o acidente, estava sobrevivendo com as roupas que Holly trazia e a comida do hospital. Aquilo não era saudável, eu sabia, mas era a única vida que eu teria até que Ian acordasse e voltássemos para nossa casa juntos. Não havia nenhuma outra opção.

Para desviar atenção da mídia, Miranda e Ash assumiram namoro e dividiram opiniões. Parte do público mordeu a isca e outra parte os atacou pelo momento inoportuno, mas Ash aguentou as especulações como campeão e Miranda, como sempre, fez todos ouvirem o que ela estava pensando sem poupar palavras e as coisas se acalmaram logo depois.

Quando Isabelle finalmente chegou a L.A., eu senti como se fosse desmoronar novamente. Ela bateu na porta do quarto onde o irmão estava se recuperando e só a abriu após meu singelo "entre". Ela era muito bonita, notei, apesar da aura de exaustão que a cercava, a garota parecia uma versão feminina e mais jovem do rapaz que jazia ao meu lado.

A Chance de DelilahOnde histórias criam vida. Descubra agora