Estabelecendo Limites

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Ian

Era a primeira semana de aula de Delilah e eu... Bem, eu estava surtando.

Não por ela começar as aulas, é claro, eu não era pai dela ou algo assim, mas com a perspectiva de que ela saísse se gabando por viver comigo e em breve minha casa estaria cheia de adolescentes estúpidas pedindo autógrafos e roubando coisas minhas para vender na internet.

Eu queria pedir a ela para não trazer ninguém, mas ao mesmo tempo queria manter minha promessa de ser não apenas um colega de quarto, mas um agradável. Isso era horrivelmente difícil e um esforço sem pausas.

Beberiquei meu café, precisando da cafeína que ele me proporcionava para aguentar o dia e esperei que ela descesse, um pouco apreensivo pela conversa que precisava vir.

Ouvi o som dela descendo as escadas saltitando e logo em seguida ela adentrou a cozinha completamente sorridente. Deixou sua mochila apoiada na banqueta, antes de se sentar de frente para mim na ilha.

― Bom dia, Ian. Como foi sua noite? ― perguntou ainda toda sorrisos, praticamente saindo de sua pele e engoli a vontade de dar uma resposta sarcástica sobre como ela sabia muito bem que quando eu não estava em turnê eu gostava de preservar meu sono, mas ao invés, tentei ser legal.

― O de sempre, um jogo de videogame e cama ― limpei a garganta. ― Animada para o seu primeiro dia?

Eu genuinamente não conseguia entender como ela poderia estar. Nunca fui bom na escola, era como se as letras se embaralhassem diante de meus olhos e a falta de apoio vinda do meu pai também não ajudava. Com a música já era completamente diferente, aquele era o único momento em que as letras pareciam se acalmar em minha cabeça.

― Eu não diria exatamente animada, mais como ansiosa, mas eu ― ela pausou parecendo nervosa ― pretendo tentar me enturmar.

Deixei meus olhos engolirem a aparência dela pela primeira vez naquele dia, ela usava uma calça jeans simples, uma camisa estampada de morangos, o cabelo para baixo. Ela estava bonita, percebi, mesmo que eu não entendesse sua obsessão por estampas alimentícias. Mas eu não deveria ter pensamentos desse tipo sobre a minha colega de casa. Só aí as palavras dela afundaram e me lembrei da conversa que precisávamos ter:

― Há um combinado que pensei que poderíamos fazer ― estabeleci de uma só vez.

Ela parou de passar patê em sua torrada para me encarar:

― Sou toda ouvidos.

― Gostaria que você não trouxesse as amigas que tenho certeza de que você vai fazer ― reforcei ― para cá.

Ela levantou as sobrancelhas bem desenhadas para mim e temi ter estragado tudo.

― Ian, por que eu traria alguém para a sua casa?

Pausei:

― Não sei ― admiti tendo plena certeza de que estava sendo um pouco irracional.

― Eu entendo, você tem medo de que eu traga alguma groupie louca para seu lar, é compreensível. ― Ela tomou um gole de seu suco antes de continuar: ― Que tal combinarmos o seguinte: não falo para ninguém que vivo com você e se quiser trazer alguém, só farei depois de conseguir sua permissão, tudo bem?

Ela não parecia brava, então concordei. A de tranças se levantou pegando a alça da mochila do encosto do banco antes de dar uma risadinha:

― Como se alguém fosse acreditar em mim se eu contasse.

Ela saiu, ainda rindo e assisti resignado sua partida, me questionando o que diabos tinha acontecido e tendo ainda mais certeza de que Delilah era diferente de qualquer um que eu já tinha conhecido.

A Chance de DelilahOnde histórias criam vida. Descubra agora