Ato Final

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Delilah

Meu maior pesadelo me guiou para fora da casa de shows, colada em minhas costas, a arma firme em minha cintura, suor frio escorrendo pela minha testa. Ao pararmos em frente a um Sedan preto, diferente daquele que tinha me atropelado, comecei a me debater, me sentindo sufocada com a perspectiva de entrar dentro dele e talvez nunca mais sair, mas endureci assim que ouvi o engatilhar da arma.

― Não brinque comigo, Delilah, ordenou ela. ― Você sabe do que sou capaz.

Eu sabia e lembrar disso fez com que as cicatrizes em minhas costas se acendessem como se estivessem queimando novamente e toda a luta saiu do meu corpo como se escorresse pelos meus membros e fugisse pelo asfalto até que só restasse uma Delilah oca, incapaz de respirar ou reagir e ela se aproveitou disso para me me empurrar para dentro do carro.

Ela arrancou a peruca, a jogando para o banco de trás e dirigiu por um tempo, indo a uma parte da cidade que eu desconhecia, tomando curvas com facilidade e estremeci só de pensar em quanto tempo ela esteve na cidade, me observando.

A loira estacionou em frente ao galpão que parecia abandonado e me arrastou para dentro pelas tranças. A primeira coisa que ela fez foi amarrar meus pulsos, o que não foi muito desafiador visto que meus músculos escolheram não reagir ao invés do clássico correr ou lutar. Após isso, ela me atou a uma pilastra e deu um sorriso diabólico do qual eu me lembrava muito bem:

― Agora o verdadeiro inferno vai começar, pequena Delilah.

Ian

Eu não conseguia ver Delilah em parte alguma e a semelhança desse momento com o dia do atropelamento fez com que suor frio descesse pela minha espinha, mas continuei o show porque para alguém que já havia entrado num palco sofrendo de um rescaldo de ataque de pânico, nervosismo sobre me declarar para a mulher que eu amava não era nada. A música tinha sido meu primeiro amor, meu refúgio, meu piloto automático.

Mas assim que terminei a música, a mesma que eu tinha escrito para ganhá-la de volta, nada menos, desci do palco pelo caminho mais rápido, sem me preocupar com os toques normalmente incômodos da multidão, eu só me importava em encontrar minha namorada falsa e torná-la real novamente e me livrar daquela sensação de deja vu enlouquecedora.

― Onde ela está? ― indaguei ao chegar no camarote onde as melhores amigas dela estavam, Miranda já tendo voltado a subir no palco para tomar meu lugar.

Holly me encarou com a sobrancelha levantada, eu sabia que parecia selvagem, mas não iria me livrar daquela sensação de inquietação até colocar meus olhos em Delilah.

― Ela foi buscar nossos drinks, mas já faz algum tempo, ela já deveria ter voltado ― explicou Amélia.

Meu coração afundou dentro do peito e corri para o bar mesmo já tendo a sensação de que não a encontraria por lá:

― Ei ― chamei um dos barmans que atendia os camarotes. ― Você viu uma garota negra, de tranças azuis, mais ou menos dessa altura ― gesticulei.

Ele negou com a cabeça, se desculpando, mas notei um outro rapaz me olhando atentamente e apontei meu queixo em sua direção:

― Você a viu?

Ele se aproximou, colocando as mãos no balcão e acenou:

― Sim, foi estranho.

― O que foi estranho? ― exigi sem paciência.

― Ela estava levando os drinks que eu servi quando encontrou uma mulher, ela derrubou os copos como se tivesse levado um susto e depois elas sairam.

A Chance de DelilahOnde histórias criam vida. Descubra agora