A Ronda do Chacal

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Delilah

O Natal sempre foi uma das minhas datas preferidas do ano, mesmo que eu nunca tenha sido muito fã do inverno, mas passei a temer a chegada do dia quando fui informada que teria que passá-lo na casa de Ian com a banda toda, como se fossemos uma família feliz. E essa nem era a pior parte, teríamos que fazer isso acompanhados de um fotógrafo para registrar cada segundo.

Quando o feriado finalmente chegou eu estava feliz só por poder ficar longe do buzinar constante das minhas colegas de classe que fingiam ser minhas amigas por detalhes internos, sem saber que, do jeito que a situação estava, eu sabia tanto quanto elas, mas ainda assim uma pilha de nervos por ter que passar o final de ano daquela forma.

Após Rosa me dar um forte abraço, antes mesmo de eu conseguir passar pela porta, fui brindada com a imagem da enorme árvore que eu e Ian tínhamos comprado, mas não decorado, ao pé da escada. Minha atenção foi desviada para uma animada Foxxy que queria todos os meus carinhos.

Ash e Miranda se sentaram no sofá grudados, parecendo perfeitamente confortáveis, mas eu me sentia completamente deslocada por estar de volta naquela casa enorme, principalmente porque o dono dela ainda nem sequer tinha se dignado a descer as escadas.

Rosa me trouxe um chocolate quente delicioso e eu quase o derrubei quando Naev passou pela porta ― sozinho, a falta de Reece sendo obviamente pela presença do fotógrafo ― em minha pressa para abraçá-lo.

― O que fazem com você não é certo, meu amigo ― sussurrei em seu ouvido.

― Não, não é ― ele concordou, suas palavras falsamente pragmaticas. ― E talvez um dia as coisas mudem, mas não será hoje. ― Ele me soltou e seu rosto tinha um sorriso que não refletia em nada seu tom melancólico. ― Vamos fazer isso ― exclamou por fim.

Matt tinha convidado Holly e eu me compadeci quando o vi checando o relógio, pois minha amiga já tinha me dito que preferia se manter no anonimato já que, palavras dela, não estava em seus planos se apaixonar por uma estrela do rock, mesmo que eu fosse capaz de perceber, a cada dia que passava, que ela estava mais e mais entregando seu coração para ele.

Ian só nos agraciou com a sua presença quando o fotógrafo chegou, desceu as escadas lentamente, em um smoking, como se não estivesse dentro de sua maldita casa.

Além das fotos em grupos durante a ceia e enrolados em piscas-piscas no sofá, o fotógrafo pediu também imagens individuais e dos dois casais e eu nunca me senti tão desconfortável quanto no momento em que tive que segurar a lapela de Ian e encontrar seus olhos sob o visco como se o mero ato de vê-lo a distância não partisse ainda mais meu coração.

A festa de ano novo conseguiu ser ainda pior, pois foi dada na casa de Miranda e no meio de tantos repórteres e rostos desconhecidos, nós tínhamos que fingir o tempo todo e que deus abençoasse atores e atrizes que tinham que atuar por ofício porque aquilo era difícil, mas se eu soubesse o que aconteceria a seguir eu teria preferido beijar Ian sob o show de fogos para aplacar os cliques durante a virada do ano para sempre.

Ian

Um dos maiores prazeres de ter um namoro de fachada era que às vezes você tinha que ser pego por paparazzis de propósito.

Delilah estava parecendo exausta conforme saímos de uma farmácia qualquer levando apenas um pacote de chicletes naquela manhã de inverno. Mesmo não a conhecendo, eu me preocupava com ela, pois éramos um casal. Falso ou não.

― Está tudo bem? ― acabei perguntando quando a vi estremecer pela quarta ou quinta vez.

Ela deu de ombros, se encolhendo ainda mais dentro do casaco rosa:

A Chance de DelilahOnde histórias criam vida. Descubra agora