O que Passou é Prólogo

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Era julho. O tempo estava começando a esquentar e por mais que eu adorasse o desabrochar das flores, não poderia mentir e dizer que essa era minha época favorita do ano. Era véspera do meu aniversário de dezenove anos e como já era regra desde que eu havia me mudado para o estado menos populoso do país, eu estava na casa de Amélia, minha melhor amiga.

― O que você quer de aniversário, Lila? ― Perguntou ela quase saltitando de animação.

Para ser mais exata, naquele momento eu me encontrava esparramada na cama dela enquanto minha amiga pintava as unhas do pé com um estranho tom de roxo em uma posição digna de um contorcionista.

― Hmm ― fingi pensar por um segundo. ― Você sabe muito bem o que seria o meu presente perfeito ― terminei com uma risadinha.

A falsa ruiva revirou os olhos:

― Seja séria, Lila!

― Desculpa ― reclamei ― você sabe que o Lantern Lumia é basicamente meu motivo de viver, qualquer coisa relacionada a eles já me faria feliz ― fiz beicinho ― mesmo que não seja o George Artbold em pessoa.

― Você poderia conhecê-lo se tivesse dado uma chance ao concurso... ― ela deixou a frase morrer no ar sabendo muito bem que eu não queria ter nada a ver com aquilo.

― Contar minha história em um concurso fajuto? ― balancei a cabeça. ― Obrigada, mas não obrigada, prefiro beijar um pôster do George, as possibilidades disso se realizar são bem mais altas ― completei com uma piscadela.

Ela jogou um travesseiro em meu rosto, mas eu pude ver um sorriso espelhado no seu. Era incrível como havíamos criado uma amizade tão solida naqueles três anos que tínhamos estado juntas.

Eu havia chegado à cidade com nada além da minha mãe e um monte de cicatrizes. Já tinha perdido mais de seis meses de aula entre o tempo gasto no hospital e a mudança e acabei em uma classe um ano abaixo do que eu deveria estar e com muita matéria acumulada. Amélia se ofereceu para me ajudar a recuperar o tempo perdido e o nosso laço foi forjado.

Nós éramos diferentes em tudo, desde a cor da nossa pele, a dela que parecia nunca ter visto um raio de sol e a minha escura para se igualar a do meu pai, o nosso cabelo, o meu mantido em tranças e o dela liso e tingido de vermelho, aos nossos sonhos de futuro, ela queria ser engenheira e eu estilista, mas éramos iguais em tudo que importava. Eu faria tudo por ela e sabia que era recíproco.

Ela se esparramou ao meu lado e suspirou:

― Como você se sente sabendo que amanhã fará dezenove anos e deixará oficialmente de ser uma adolescente?

Eu ri levemente puxando uma mecha de seu cabelo brilhante:

― Alguns cientistas afirmam que a adolescência só termina aos vinte e quatro anos...

― Delilah!

― É estranho ― comecei, agora séria. ― Como se toda a minha vida fosse mudar no dia de amanhã.

Ela me olhou de soslaio e riu puxando uma das minhas tranças:

― É porque tudo vai mudar, sua boba.

***

― Acorde! Acorde! Acorde! ― abri os olhos para ver Amélia pulando animadamente em cima de mim e me cobri infantilmente com o edredom tentando fugir de seu ataque.

― Socorro! ― gritei tentando fazê-la parar. Quando ela finalmente se sentiu satisfeita com seu ataque, ela caiu ao meu lado.

― Feliz aniversário, Lila.

A Chance de DelilahOnde histórias criam vida. Descubra agora