Prólogo - O Começo do Fim

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Suzanna caminhava para casa com as palavras de Delilah ainda rondando em sua mente, a deixando letárgica.

Eu não quero mais ser amiga dela. Nunca mais.

Aquilo não terminaria bem. Caroline não deixaria Delilah ― o seu brinquedinho favorito ― ir tão facilmente.

Não que o inferno que Del havia vivenciado no último ano fosse fácil, mas para Caroline a amizade que ela dispensava para as duas era uma benção que elas deveriam aceitar sem hesitar.

As três haviam estudado juntas a vida toda, mas por algum motivo nunca haviam sido amigas. Na época que Suzanna gostaria de apagar, Delilah estava passando por um momento difícil, já que havia acabado de perder o pai e ela própria havia se decepcionado com todos ao seu redor. Então Caroline surgiu em meio às chamas para salvá-las como um anjo vingador. Uma pena que Caroline fosse um demônio que usava uma aureola angelical para esconder os chifres.

Nos primeiros meses, a amizade das três era um sonho, mas as duas deveriam ter se perguntando o motivo de Carol não ter mantido nenhum outro amigo antes delas. No entanto, jovens estúpidas que precisam de salvação não fazem perguntas.

Logo Caroline mostrou como era realmente. No começo, ela apenas tirava sarro das duas e quando elas ficavam chateadas, a outra pedia desculpas e sempre repetia a mesma frase: "foi só uma brincadeira, não seja tão dramática!". Com o tempo as "brincadeiras" pioraram de forma assustadora. Ela ofendia não somente as duas, mas as suas famílias, o lugar onde elas moravam, a arte de Delilah e todas as outras coisas que colocavam uma pequena luz nas vidas tristes delas.

Suzanna era sempre ofendida, mas Delilah sempre tomou o pior.

Na metade do ano, Delilah começou a aparecer machucada. Suzanna ia ao banheiro e quando voltava à morena estava com a bochecha levemente inchada. Ia beber água e a encontrava com um lábio partido. Suzanna perguntava o que havia acontecido e Caroline ria e dizia que Delilah era muito desastrada. Mas Del era tudo menos desastrada, ela poderia tranquilamente ser uma modelo de passarela para as roupas que desenhava.

Sempre que Caroline ia visitar Del, a morena voltava para a escola com um olho roxo. Ela sempre dizia que havia caído da escada.

Não tinham escadas na casa dela.

Suzanna não era burra e sabia muito bem o que estava acontecendo, mas não é como se ela pudesse fazer algo a respeito, então a mesma oferecia sua amizade, um ombro para chorar e alguém com quem Del pudesse desabafar.

Ambas contavam os dias para o final do ano letivo, enquanto juntas tentavam sobreviver.

Quando o ano finalmente terminou (com uma Delilah com muita maquiagem para cobrir os dois olhos roxos e uma mentira sobre uma infecção-não-contagiosa que deixou os olhos inchados perto da formatura) a garota parou de responder as mensagens de Caroline completamente. Suzanna entendia, mas isso não a impedia de estar assustada.

Quando Caroline descobrisse e ela sempre parecia capaz de descobrir, as coisas não acabariam bem para Delilah.

O que eu faço se ela me perguntar se eu ando falando com você? ― havia perguntado para a amiga.

Minta. Diga que eu não respondo mais as suas mensagens também. Que o meu computador explodiu em chamas e que minha mãe nunca vai me dar um celular. O último não é uma mentira de qualquer forma.

Celulares derretem o cérebro disseram as duas em uníssono e começaram a rir.

Nós estamos finalmente livres dela, Suzanna. Ela não pode mais nos machucar, amiga.

A Chance de DelilahOnde histórias criam vida. Descubra agora