Ela disse "Nada de agir como uma delinquente", mas não disse nada sobre se vestir como uma.
A música estava tão alta nos meus fones que eu me sentia a garota mais incrível daquele lugar. Como sempre, eu usava maquiagem escura, mas decidi por algo mais básico no primeiro dia de aula: um delineado esfumado que contornava meus olhos por inteiro. Tinha deixado meu cabelo solto e as mechas platinadas pareciam um espectro aparecendo e sumindo no meio dos fios escuros. Como eu gostava do estilo da velha guarda, em partes, então colei patches de bandas na minha mochila e na saia e usava um cinto xadrez vermelho fininho.
Minha mãe quase me empurrou de volta pro quarto quando me viu vestida como uma punk. Quer dizer, eu me vestia daquele jeito há tanto tempo que era de se esperar que eu fosse na escola assim. Acho que foi porque ela não verbalizou o "não seja uma punk".
Todos no corredor me encaravam enquanto eu passava. Estava acostumada a isso e, mesmo se eu me vestisse como alguém fofa e não intimidadora, todos me olhariam. Eu era carne fresca, pronta para o abatedouro.
Entrei na sala e, assim que me viram, todos pararam de conversar para me encarar. Eu rebati o olhar.
- Qual foi? Algum problema? - Perguntei em voz alta.
Alguém gaguejou e a conversa voltou, embora um pouco mais tímida.
Me sentei na fileira da janela, terceira cadeira. Eu sentia o olhar de todos em mim ainda. Tentei me distrair, focar no celular um pouco, rabiscar a mesa, mas aquilo realmente começou a me incomodar. Me virei abruptamente para todos, sentia meu rosto contorcido de raiva.
- O próximo que olhar pra mim vai levar um lápis no olho. E eu juro que puxo pra fora igual um espetinho.
Alguém engasgou, assustado.
- D-Desculpe! É que nunca te vimos aqui e... - A garota tentou explicar a situação, mas eu interrompi.
- Eu não estou nem ai pra essa mentira. Se realmente têm interesse em me conhecer, apenas perguntem meu nome na próxima vez. - Me levantei, empurrando a mesa no processo - Suzuko Matsutoya, a propósito. Eu vim de Kanto. - Dei um sorriso falso, estreitando os olhos - Prazer em conhecê-los.
E tão rápido quanto meu sorriso se formou, meu rosto voltou a expressão de ódio e eu saí.
- Bando de otários...
Resmunguei andando pelo corredor para subir até o telhado. Tinha uma garota parada no topo da escada, me encarando. Ela tinha uma carranca, mas não deixava de ser bonita. O cabelo era curto e pintado de ruivo, mas a raiz castanho escura já estava crescendo. Me lembrava o Kenma de Haikyuu!! Só que muito puto por alguma coisa. Ela era mais baixa que eu e os olhos eram cansados, mas tão imponentes quanto os de um lutador.
- E ai? - Arqueei uma sobrancelha - Tu pode me dar licença?
- Por que eu daria? - Ela inclinou a cabeça.
- Por que estou pedindo com educação e, se não sair da frente, eu vou te dar um soco. - Sorri.
- Sabe que quem está em desvantagem aqui é você, né? - Ela continuou de feição fechada.
- Altura é só uma posição. Alguém pequeno pode mirar nas suas pernas e te derrubar tão fácil como você consegue chutar ele de volta. - Dei de ombros.
Ela parou por um momento e então sorriu.
- Estou na vantagem de qualquer jeito então.
- Não, não está. - Falei novamente - Não conheço a sua força mas, pela grossura das suas coxas, julgo que você derruba qualquer um. Ou seja, forças praticamente equiparadas.
- Cara, o que você é? Uma CDF? - Ela franziu o cenho.
- Sobre probabilidades de ganhar uma luta? Por que não seria? Escolher minhas batalhas é uma dádiva, sabia?
Como ela não parecia querer sair da frente, continuei subindo os degraus. Ela segurou meu ombro, mas sua testa alcançava meu queixo por dois meros centímetros.
- Tá afim de provar sua teoria de forças iguais, raio de sol? - Ela olhou para mim de esguelha.
Sorri, encarando a janela na minha frente e às suas costas.
- Kanto não é uma região muito amigável, sabia?
- Está dizendo que é mais forte do que eu? O que aconteceu com suas estatísticas?
Eu ri e me abaixei ligeiramente, olhando em seus olhos.
- Se continuar provocando, vou enfiar os números na sua boca e socar seu queixo pra te ajudar a mastigar. - Me afastei - Me deixa em paz, não estou afim de briga.
Continuei a subir os degraus, que conversa desgastante.
- Qual o seu nome? - Ela perguntou alto.
Suspirei.
- Matsutoya. Suzuko Matsutoya, do primeiro ano. - Respondi e vi que ela me encarava lá debaixo.
- Sou Ayame Nakagawa, do segundo ano. - Ela deu um sorriso que considerei amigável, já que a carranca tinha suavizado. - Depois da aula, no parque. Você não tem opção.
Dei um risinho.
- Você se esqueceu de que eu estou no topo da escada agora, Ayame.
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𝘽𝘼𝘿 𝙂𝙄𝙍𝙇𝙎 𝘾𝙍𝙔 𝙄𝙉 𝙏𝙊𝙆𝙔𝙊 𓆈 𝑻𝒐𝒌𝒚𝒐 𝑹𝒆𝒗𝒆𝒏𝒈𝒆𝒓𝒔
FanfictionPRIMEIRA TEMPORADA Suzuko Matsutoya é uma garota normal do ensino médio, por mais que ache que ser uma delinquente a torne diferente. Temperamental e impulsiva, esconde tantas coisas no peito que se afogou em si mesma há muito tempo. Mas as coisas c...