8 - Matsuko

705 105 6
                                    

Se eu achei que ontem estava dolorido, hoje estava insuportável.

Levantar foi difícil com a minha perna daquele jeito. Agora que a adrenalina tinha deixado meu corpo inteiro, a dor estava com força total. Eu manquei até o banheiro para ver o estado do meu rosto.

- Que droga...

Minha mãe ia me matar.

Parte da minha bochecha e meu olho direto estavam praticamente pretas, de tão roxo que aquilo estava. Dessa vez não era maquiagem, por mais que eu tenha tentado me convencer do contrário passando demaquilante de novo.

Tirei os curativos do rosto. Não podia aparecer na escola assim. O chute e o soco que Ayame tinha me dado iam ficar visíveis demais. Abri a gaveta de maquiagem e comecei o processo.

Depois de quase 40 minutos, eu tinha usado quase o tubo inteiro de corretivo e a base estava no último mililitro. Joguei um pó por cima de tudo.

Estava uma merda. O inchaço estava visível, mesmo pintado de bege. Se eu colocasse delineador ali ficaria um caos.

- Que saco!

Xinguei baixo e fui olhar minha perna. Uma coxa estava 2x maior que a outra, a bandagem estava apertada também. Nada de meias. Eu vou acabar com aquela vaca, nem que me paguem vou entrar naquela gangue.

Me vesti o mais rápido que pude e deixei o cabelo solto, escondendo um pouco do meu rosto, e fui até a cozinha. Minha mãe ainda não tinha chegado, o que foi um alívio, então peguei meu almoço e saí de casa às pressas.

☀︎︎

Cada passo era como carregar uma pedra gigantesca nas minhas costas, e naquela elevação, a coisa ficava ainda mais difícil. Eu estava com os fones de ouvido no máximo ouvindo música pra tentar me animar quando percebi alguém do outro lado da rua.

Uma garota com o mesmo uniforme que o meu, mas a saia estava alongada até a panturrilha. O cabelo castanho claro, parecia até um pouco loiro no sol, tinha leves ondas nas pontas. Era alta, mais ainda que Ishido, a garota da gangue de Ayame, e caminhava tranquilamente até a aula usando uma máscara preta. Devia ter pego uma gripe.

Quando me percebeu ali, se virou e acenou, os olhos indicando que dava um sorriso por baixo da máscara. Bom, isso foi até o olhar de tédio e repulsa tomar seu lugar na expressão dela, mostrando um julgamento silencioso.

Eu juro por todos os deuses que vou matar ela se estiver na mesma sala que eu. Dei um sorriso cínico e dei uma apertada no passo. Queria sair de perto dela logo, me passava uma sensação de raiva bem grande.

Quando finalmente cheguei nos portões do inferno, vulgo Colégio, eu estava suando de dor e cansaço. Subi as escadas quase morrendo e entrei na sala, me jogando na cadeira. Foi então que o burburinho começou.

- Ouvi dizer que a Ayame do segundo ano deu uma surra nela...

- Sério?! O que houve?

- Parece que ela provocou-a e foi chamada pra um mano a mano no parque...

- Eh?! Eu ouvi que Ayame está mancando também e com uma faixa na têmpora...

- Ela virou a cadela agora...

- Ei, seus imbecis...

Minha voz saiu rouca e autoritária, mas meu olhar podia ser quase de pura ira.

- O que eu disse sobre perguntar as coisas pra mim diretamente?

Todos fizeram caras assustadas. A conversa parou abruptamente e a aula começou sem mais murmúrios sobre a minha situação.

Os períodos foram passando e o intervalo tinha chegado. Me levantei mancando da cadeira. Não precisava esconder a bandagem na perna naquele lugar, todos já sabiam mesmo.

Segui até a máquina de bebidas e doces do corredor. Escolhi um Dorayaki e Chá de Jasmin. Quando peguei os dois e me virei, a garota de máscara estava ali, comendo.

Ela colocou a máscara de volta rapidamente e sorriu. Eu senti aquele incômodo, mas ela parecia uma pessoa normal. Me aproximei, subindo os degraus devagar até ela.

- Pode me dar licença?

Tentei soar mais educada do que de costume, eu realmente não estava afim de briga. Ela se levantou rapidamente e fechou o obentô pela metade.

- Ah, claro! Fique a vontade, eu já terminei.

Fechei seu caminho colocando a perna boa na parede e sorri.

- Sabia que... Eu não sou uma bomba atômica para você querer sair de perto quando eu só vou subir as escadas.

Ela sorriu de novo por baixo da máscara, parecendo envergonhada.

- Ah, você entendeu errado! Eu estou um pouco resfriada e não quero te trazer problemas.

Revirei os olhos.

- Sua fala não faz sentido. Já disse que vou subir as escadas, pode ficar.

Minha perna começou a latejar. Estava colocando todo o meu peso da coxa ruim, então livrei o caminho dela.

- Que seja. Desculpe atrapalhar sua tentativa de esquiva. Bom dia.

Saí de perto dela, subindo as escadas, mas eu conseguia sentir aquele mesmo olhar de tédio perfurando minhas costas.

𝘽𝘼𝘿 𝙂𝙄𝙍𝙇𝙎 𝘾𝙍𝙔 𝙄𝙉 𝙏𝙊𝙆𝙔𝙊 𓆈 𝑻𝒐𝒌𝒚𝒐 𝑹𝒆𝒗𝒆𝒏𝒈𝒆𝒓𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora