9 - Kazehaya

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Logo perto da entrada dos portões da escola eu acenei para uma garota. Ela parecia solitária indo pra escola sem ninguém, poderia até parecer normal pra quem não sabe identificar uma delinquente. Eu, como hábil mentirosa, consigo identificar, ela não escondeu tão bem assim os hematomas e anda devagar, deve estar com uma dor lancinante. Graças a deus sempre fui extremamente cuidadosa quanto a isso, mantendo meu papel com perfeição e nunca sendo atingida no rosto, o qual poucas pessoas que me conhecem sabem como é.

A garota não parecia tão interessante para valer o meu tempo, então apenas segui meu rumo. Quando cheguei na sala, o grupo de colegas que tenho estava animado falando sobre alguma tarefa, e eu mantive o ar animado habitual, sem nunca tirar a máscara do rosto.

- Ei, Kaze, você lembra do trabalho de história pra hoje né?  O Hashida está jurando de pé junto que é para semana que vem.

- Mas é para semana que vem. O professor falou.

- Desculpe, Hashida, mas ela está certa. Eu fiquei até tarde da noite terminando o trabalho...

Ninguém imaginaria que esta seria a primeira mentira do dia, eu terminei o trabalho três dias atrás, ontem fiquei pintando até tarde, já que essa era a única coisa que me acalmava. Nesse momento ele começou a pedir trechos do trabalho de todo mundo pra conseguir terminar o dele e nós rimos. O dia passava normalmente, nada de interessante rolando. Era legal, mas entediante quando se era pego na rotina. O sinal do intervalo tocou e começaram a sair.

- Kaze, a gente vai lá na classe D. A Narumi encontrar com o namorado dela e os amigos. De lá vamos pra cantina, você quer ir ?

- Ah, obrigada pelo convite mas quero passar na máquina de bebidas e comprar um chá. Minha garganta está meio ruim...

- As vezes eu esqueço que a Kazehaya tem uma saúde delicada.

- É, ela até vem de máscara pra escola todos os dias. - Disse Hashida.

- Mas se quiser podemos ir com você e encontramos com as meninas depois.

- Está tudo bem, podem ir. Tenho que passar na enfermaria também e pegar uma pastilha para tosse. Depois vocês me contam como foi lá.

- Tudo bem. - Finalmente, Narumi desistiu. - Mas da próxima você tem que ir com a gente. Eles querem te conhecer também

- Quem não iria querer conhecer a Kaze? - Deram risinhos animados.

- Ela parece até uma princesinha né, Tsubaru?

A maior parte das coisas que o Hashida dizia sobre mim, ele perguntava ao Tsubaru o que ele achava, mas ele não é de falar muito. Me surpreendi quando ele concordou com o Hashida e senti meu rosto um pouco quente.

Eles seguiram para a sala D e fui em direção a máquina para comprar um chá. Depois disso, me sentei na escadaria de trás, onde praticamente ninguém ia nesse horário e eu poderia comer meu almoço em paz sem me preocupar se me vissem. Mas assim que comecei a comer, ouvi passos ecoando no corredor e tive apenas um segundo para recolocar a máscara antes de a garota machucada de hoje mais cedo aparecer.

Ela olhou pra mim de soslaio antes de pegar um Dorayaki e um chá na máquina. Então, ela seguiu na minha direção, subindo a escada com dificuldade.

- Pode me dar licença?

A tentativa dela de ser educada foi uma merda, o tom de voz estava ridiculamente insolente.

- Ah, claro. Fique a vontade, eu já terminei.

Foi a única coisa que me veio a mente de última hora para me tirar dali, mas era claramente mentira. Ainda tinha mais da metade do meu almoço e meu chá estava quase completo. Ela tinha percebido isso também. Ia me levantar mas não deu tempo. Ela colocou o pé na parede, dificultando minha saída, e sorriu, triunfante.

- Sabia que... Eu não sou uma bomba atômica pra você querer sair de perto quando eu só vou subir as escadas.

Ela era mais insolente do que eu pensava. Mas aqui não era lugar pra isso e eu não podia deixar a minha máscara de boa menina cair. Apenas sorri inocente por baixo da máscara.

- Ah, você entendeu errado! Eu estou um pouco resfriada e não quero te trazer problemas. - Falei com a voz tranquila.

Ela revirou os olhos. Se eu não estivesse tendo que manter meu papel, certamente perguntaria se ela não precisava de alguma coisa pra tratar seus machucados ou se era sua cabeça que criava situações ilusórias, mas aqui eu não podia.

- Sua fala não faz sentido. Já disse que vou subir as escadas, pode ficar.

Percebi que ela já estava começando a sentir a perna dela, então ela saiu da minha frente. Finalmente eu podia ir embora

- Que seja. Desculpe atrapalhar sua tentativa de esquiva. Bom dia. - Ela respondeu, mau-humorada.

Antes de sair dali, observei o porte da parte detrás do seu corpo com desdém. Dava pra perceber o porque dela ter se envolvido numa luta só de ver seu caminhar.

☀︎︎

Depois da aula, passei numa conveniência e comprei um energético e estava mandando mensagem para Tsubaru, avisando que logo estaria em casa. Ele era alguém muito preocupado comigo, chegava a ser fofo. Estava prestes a guardar o telefone quando alguém esbarrou em mim e derrubou meu celular no chão.

- Mas que...?!

Parei.

- Você...

𝘽𝘼𝘿 𝙂𝙄𝙍𝙇𝙎 𝘾𝙍𝙔 𝙄𝙉 𝙏𝙊𝙆𝙔𝙊 𓆈 𝑻𝒐𝒌𝒚𝒐 𝑹𝒆𝒗𝒆𝒏𝒈𝒆𝒓𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora