13 - Matsuko

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Chegar em casa foi pior do que ir à escola.

Cada passo que eu dava fazia parecer que o peso do mundo estava em minhas costas. Eu tinha a perna ainda mais ralada e dolorida e meu nariz escorria um pouco, mesmo com Ayame tendo colocado ele no lugar.

Parei na frente da porta de casa e respirei fundo. O cheiro da comida estava forte, teríamos peixe assado.

Eu não conseguia dar nem mais um passo. O que diria à minha mãe? "Hey, mãe! Apanhei duas vezes na escola então não precisa se preocupar comigo perdendo o controle, haha!"

- Patético...

Resmunguei, apoiando-me na grade, respirando fundo e tentando acalmar os nervos. Em meu celular, sua mensagem reluzia.

"Onde você está? Cheguei em casa! Vou fazer cavalinha assada! ༼ つ ◕◡◕ ༽つ  ~Mamãe"

- Dia difícil?

Baji estava encostado na parede quando me virei a encará-lo. O cabelo estava preso num rabo de cavalo baixo, o que deixava a franja quase solta, e o sorriso arrogante estava estampado no rosto. Sorri fraco.

- É... Um pouco, sim. O que está fazendo aqui?

Ele deu de ombros.

- Eu moro aqui, Matsuko.

Eu ri.

- Você mora no andar de cima, Kyubaji. - Fiz uma pausa - Me viu chegar e quis dar oi?

Ele deu uma risadinha.

- É, tipo isso.

Assenti e fiquei em silêncio. Ele não disse nada, esperando minha resposta.

- Não consigo entrar em casa assim. - Falei baixo, a voz sumindo. - Ela vai chorar de novo e vai acontecer tudo igual a última vez e...

- Ei. - Nem percebi ele se aproximar - Relaxe. Quer ficar em casa um pouco? Depois eu te deixo aqui de novo.

O encarei. Ele era tão mais alto que eu, tão ameaçador com toda aquela carranca rotineira, mas parecia tão... Diferente. Suspirei e desviei o olhar.

- Você me espera aqui?

- Ainda vai querer entrar? - Ele perguntou, arqueando a sobrancelha.

- Não se preocupe com isso. Só espero que não se incomode com os gritos. - Pesquei a chave no bolso e abri a porta.

Tirei os sapatos e me assustei quando vi minha mãe ali parada, o rosto tão sério quanto aquele dia há tantos anos.

- Eu só vou perguntar uma vez, Suzuko. - Disse minha mãe com um tom amargo e eu engoli em seco - O que foi que aconteceu?

Parei por um instante, e então coloquei a mochila no gancho.

- Estou em casa.

Eu deveria saber que, nessa altura do campeonato, ignorá-la só deixaria as coisas piores. Passei por ela e fui rapidamente em direção ao quarto.

- Você não me respondeu, Suzuko. Que merda aconteceu?! - Seu tom de voz aumentou enquanto ela me seguia.

- Eu levei duas surras seguidas. Não se preocupe, eu não revidei. - Andar mais rápido doía, eu não podia acelerar muito.

Entrei no quarto. Mesmo com ódio, minha mãe respeitava tanto minha privacidade que passou a gritar comigo do lado de fora enquanto eu me trocava o mais rápido que podia.

- VOCÊ SE METEU EM BRIGA DE NOVO, SUZUKO? NÓS NOS MUDAMOS POR CAUSA DISSO E VOCÊ CONTINUA DO MESMO JEITO!

Ela continuou gritando, continuou falando, e eu continuei colocando a calça jeans e o moletom, em silêncio. Saí do quarto e o barulho de sua voz era estrondoso. Caminhei até a porta de novo.

- POR QUE CONTINUA FAZENDO ISSO? É POR CAUSA DO SEU PAI?

Eu parei abruptamente e a encarei, apontando um dedo.

- Jamais... - Comecei, a voz embargando - ...coloque a culpa dos meus erros na morte dele. Comece por aí, mãe.

Ela suspirou.

- Se continuar assim você vai ficar sozinha e...

- EU SEMPRE ESTIVE SOZINHA, INFERNO!

Eu não consegui aguentar.

- DESDE SEMPRE A MINHA ÚNICA COMPANHIA FOI ELE. MESMO QUANDO VOCÊ ESTAVA POR PERTO, ERA ELE COM QUEM EU MAIS ME SENTIA ACOLHIDA, MÃE!

As lágrimas começaram a cair, minha cabeça explodia de dor.

- Você nunca se importou com o que faziam comigo na escola. Ainda não se importa. - Continuei - A única coisa pra qual você liga é se eu estou espancando alguém, descontando toda essa raiva em alguma coisa que não seja eu mesma.

O silêncio foi perturbador. Ela tinha uma expressão dolorosa no olhar, mas a expressão era impassível.

- Suzuko, eu...

- Não estou com fome. Não vou sair do prédio, vou estar no andar de cima. Até mais tarde.

Abri a porta e saí de casa. Baji ainda estava ali, parado e sem expressão nenhuma. Não mostrava pena, ódio, dor... Era apenas uma máscara de neutralidade.

Não conseguia mais segurar as lágrimas, então ele veio até mim e me abraçou de lado, como um amigo.

- Sabe, você esqueceu de colocar chinelos. - Baji comentou.

Eu ri enquanto fungava.

- Esqueci mesmo.

Ele sorriu.

- Vem, vamos

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𝘽𝘼𝘿 𝙂𝙄𝙍𝙇𝙎 𝘾𝙍𝙔 𝙄𝙉 𝙏𝙊𝙆𝙔𝙊 𓆈 𝑻𝒐𝒌𝒚𝒐 𝑹𝒆𝒗𝒆𝒏𝒈𝒆𝒓𝒔Onde histórias criam vida. Descubra agora