Chegar em casa foi pior do que ir à escola.
Cada passo que eu dava fazia parecer que o peso do mundo estava em minhas costas. Eu tinha a perna ainda mais ralada e dolorida e meu nariz escorria um pouco, mesmo com Ayame tendo colocado ele no lugar.
Parei na frente da porta de casa e respirei fundo. O cheiro da comida estava forte, teríamos peixe assado.
Eu não conseguia dar nem mais um passo. O que diria à minha mãe? "Hey, mãe! Apanhei duas vezes na escola então não precisa se preocupar comigo perdendo o controle, haha!"
- Patético...
Resmunguei, apoiando-me na grade, respirando fundo e tentando acalmar os nervos. Em meu celular, sua mensagem reluzia.
"Onde você está? Cheguei em casa! Vou fazer cavalinha assada! ༼ つ ◕◡◕ ༽つ ~Mamãe"
- Dia difícil?
Baji estava encostado na parede quando me virei a encará-lo. O cabelo estava preso num rabo de cavalo baixo, o que deixava a franja quase solta, e o sorriso arrogante estava estampado no rosto. Sorri fraco.
- É... Um pouco, sim. O que está fazendo aqui?
Ele deu de ombros.
- Eu moro aqui, Matsuko.
Eu ri.
- Você mora no andar de cima, Kyubaji. - Fiz uma pausa - Me viu chegar e quis dar oi?
Ele deu uma risadinha.
- É, tipo isso.
Assenti e fiquei em silêncio. Ele não disse nada, esperando minha resposta.
- Não consigo entrar em casa assim. - Falei baixo, a voz sumindo. - Ela vai chorar de novo e vai acontecer tudo igual a última vez e...
- Ei. - Nem percebi ele se aproximar - Relaxe. Quer ficar em casa um pouco? Depois eu te deixo aqui de novo.
O encarei. Ele era tão mais alto que eu, tão ameaçador com toda aquela carranca rotineira, mas parecia tão... Diferente. Suspirei e desviei o olhar.
- Você me espera aqui?
- Ainda vai querer entrar? - Ele perguntou, arqueando a sobrancelha.
- Não se preocupe com isso. Só espero que não se incomode com os gritos. - Pesquei a chave no bolso e abri a porta.
Tirei os sapatos e me assustei quando vi minha mãe ali parada, o rosto tão sério quanto aquele dia há tantos anos.
- Eu só vou perguntar uma vez, Suzuko. - Disse minha mãe com um tom amargo e eu engoli em seco - O que foi que aconteceu?
Parei por um instante, e então coloquei a mochila no gancho.
- Estou em casa.
Eu deveria saber que, nessa altura do campeonato, ignorá-la só deixaria as coisas piores. Passei por ela e fui rapidamente em direção ao quarto.
- Você não me respondeu, Suzuko. Que merda aconteceu?! - Seu tom de voz aumentou enquanto ela me seguia.
- Eu levei duas surras seguidas. Não se preocupe, eu não revidei. - Andar mais rápido doía, eu não podia acelerar muito.
Entrei no quarto. Mesmo com ódio, minha mãe respeitava tanto minha privacidade que passou a gritar comigo do lado de fora enquanto eu me trocava o mais rápido que podia.
- VOCÊ SE METEU EM BRIGA DE NOVO, SUZUKO? NÓS NOS MUDAMOS POR CAUSA DISSO E VOCÊ CONTINUA DO MESMO JEITO!
Ela continuou gritando, continuou falando, e eu continuei colocando a calça jeans e o moletom, em silêncio. Saí do quarto e o barulho de sua voz era estrondoso. Caminhei até a porta de novo.
- POR QUE CONTINUA FAZENDO ISSO? É POR CAUSA DO SEU PAI?
Eu parei abruptamente e a encarei, apontando um dedo.
- Jamais... - Comecei, a voz embargando - ...coloque a culpa dos meus erros na morte dele. Comece por aí, mãe.
Ela suspirou.
- Se continuar assim você vai ficar sozinha e...
- EU SEMPRE ESTIVE SOZINHA, INFERNO!
Eu não consegui aguentar.
- DESDE SEMPRE A MINHA ÚNICA COMPANHIA FOI ELE. MESMO QUANDO VOCÊ ESTAVA POR PERTO, ERA ELE COM QUEM EU MAIS ME SENTIA ACOLHIDA, MÃE!
As lágrimas começaram a cair, minha cabeça explodia de dor.
- Você nunca se importou com o que faziam comigo na escola. Ainda não se importa. - Continuei - A única coisa pra qual você liga é se eu estou espancando alguém, descontando toda essa raiva em alguma coisa que não seja eu mesma.
O silêncio foi perturbador. Ela tinha uma expressão dolorosa no olhar, mas a expressão era impassível.
- Suzuko, eu...
- Não estou com fome. Não vou sair do prédio, vou estar no andar de cima. Até mais tarde.
Abri a porta e saí de casa. Baji ainda estava ali, parado e sem expressão nenhuma. Não mostrava pena, ódio, dor... Era apenas uma máscara de neutralidade.
Não conseguia mais segurar as lágrimas, então ele veio até mim e me abraçou de lado, como um amigo.
- Sabe, você esqueceu de colocar chinelos. - Baji comentou.
Eu ri enquanto fungava.
- Esqueci mesmo.
Ele sorriu.
- Vem, vamos
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𝘽𝘼𝘿 𝙂𝙄𝙍𝙇𝙎 𝘾𝙍𝙔 𝙄𝙉 𝙏𝙊𝙆𝙔𝙊 𓆈 𝑻𝒐𝒌𝒚𝒐 𝑹𝒆𝒗𝒆𝒏𝒈𝒆𝒓𝒔
FanfictionPRIMEIRA TEMPORADA Suzuko Matsutoya é uma garota normal do ensino médio, por mais que ache que ser uma delinquente a torne diferente. Temperamental e impulsiva, esconde tantas coisas no peito que se afogou em si mesma há muito tempo. Mas as coisas c...