Capítulo 4

577 80 118
                                    

Alyce entrou para dentro do apartamento e eu fechei a porta. Kairos seguiu o seu rumo em direção a lavanderia. Fui até a cozinha e peguei uma garrafa de vinho na minha adega. Quando voltei para a sala, Alyce passava o dedo no porta-retrato, onde está a nossa última foto juntos.

- Eu reconheço essa foto - ela se virou para mim e eu congelei ao seu olhar - Uma vez ou outra eu sonho que estou em um parque todo florido e um garoto está me esperando sentado em um banco.

- Então- ele diz- eu sempre vou te esperar - seus olhos se arregalaram e o azul brilhou mais intenso do que me lembro de ter brilhado.

- Não é um sonho, não é?

- Não é apenas uma lembrança do dia do seu aniversário. Quando fomos ao parque para fugir do passeio ridículo que os seus pais inventaram.

- Então você conhece o meu pai, Alfredo Calvin - aí que eu percebi que para quem queria ir devagar está indo rápido de mais.

- Tenho vinho, vamos beber.

Ela parece esquecer do assunto e aceitar a taça. Abri a garrafa e enchi a taça de Alyce até a metade. Enchi a minha também até a metade, mesmo precisando de uma taça cheia.

- Vamos nos sentar na varanda, aqui dentro esta muito quente - se ela continuar a olhar as fotos eu iria ficar mais tenso e falar muita merda - A varanda do meu quarto é maior.

- Você na frente.

Com um apartamento não tão grande assim era fácil de se locomover e se achar os cômodos. Quando abri a porta do quarto o cheiro do meu perfume tomou conta do ambiente.

Conferi o lugar para ver se tinha algum perfume meu quebrado, mas aparentemente não havia. Olhei para Alyce que me esperava na varanda sentada em uma das cadeiras. Me sentei na cadeira ao seu lado e coloquei a garrafa em cima da mesinha.

- Como foi a sua vida em Harvard? - tentei mudar o rumo da conversa para conhecer melhor a nova Alyce.

- Irritante. Era seguranças me seguindo para todos os lados. Não podia ir em festa, não podia sair de casa para nada sem os seguranças.

- E como você conseguiu sair de casa hoje?

- Os seguranças do meu pai são burros, eles fazem a troca de turnos deixando uma brecha de cinco minutos. Então eu sai - ela bebeu um pouco do vinho e me olhou - E como foram seus anos de faculdade?

- Festas, bebedeiras, sexo sem compromisso, horas de estudos, noites sem dormir, essas coisa normais de faculdade.

- Você já pegou alguma - ela bebeu o resto do vinho na sua taça e balançou a cabeça- IST?

Essa foi a pergunta mais inusitada que eu já recebi, ainda mais por não estar prensando nenhuma mulher na parede de uma boate.

- Não, eu sempre me protejo. Não queria estragar os meus planos para o futuro.

Suas íris estão escuras de puro desejo, então decido interromper o vinho antes que eu faça alguma coisa que irei me arrepender. Decido jogar um balde de água fria nessa conversa.

- O que você se lembra da sua infância? - ela desviou o olhar do meu e se virou para a linda vista a nossa frente.

- Não muita coisa. A maioria das minhas lembranças são minhas com um menino, que aparentemente é você - uma alegria cresceu em meu peito só de pensar que a minha garota nunca se esqueceu de mim.

- E qual é a sua lembra mais recorrente?

- Você sentado na areia me observando...

- Pensei que você não tivesse me visto te observando - falei surpreso com a minha falta de discrição.

Sempre Estarei Aqui Para VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora