Capítulo 27 - Enfim, o Cemitério dos Aventureiros

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Dario acordou Adriel quando o firmamento despontava sua primeira coloração rosa e pediu para que ficasse de guarda até a manhã surgir plena no céu. Dessa forma, conseguiu dormir algumas poucas horas.

O sol ainda aparecia baixo quando o príncipe despertou e foi ao encontro de Gerolt.

- Olá, Gerolt. Quero pedir-lhe um favor antes de prosseguirmos.

- Pois não, capitão. O que seria? – o soldado interessou-se.

- Não gostaria que os outros soubessem por enquanto, mas ontem fui até a Floresta e me encontrei com uma entidade. Ela me entregou esta lâmina – falando, tirou a lâmina da bainha. O material era verde-claro e conferia uma aparência bem incomum à arma.

- Nem vou lhe perguntar nada sobre isso. Só você mesmo, capitão... – riu Gerolt. – Mas nem precisa dizer. Dê-me aqui sua espada e a lâmina... Agh!

Gerolt gritou e soltou a lâmina verde.

- O que houve? – preocupou-se Dario.

- Ela me queimou...

Os dois ficaram calados olhando para a lâmina, de onde desprendia um quase imperceptível vapor. Dario foi abaixar-se para pegá-la novamente.

- Tome cuidado, capitão.

Quando o príncipe tocou-lhe, para espanto da dupla, nada aconteceu. Gerolt então virou-se e pegou um alicate de sua bolsa de quinquilharias. Usando-o, tomou a lâmina das mãos do príncipe e a colocou sobre um suporte de madeira dobrável.

- Nada como contar com um ferreiro experiente no grupo... – elogiou Dario, surpreso com os equipamentos que o soldado carregava.

- É realmente impressionante. Parece que a lâmina só não fere o senhor, capitão. Mas pode deixar. Tenho tudo o que preciso.

Dario enrolou os outros membros por cerca de meia hora e pouco tempo depois a comitiva já estava montada em seus cavalos e seguia em direção ao sudoeste, contornando a Floresta de Khunt e atenta aos warkons.

- Não imagino como lobos podem nos atacar enquanto cavalgamos.

- Warkons não são lobos, Isa. Bom, na verdade eles são, mas são maiores e possuem quatro olhos vermelhos e duas fileiras de dentes – explicou Adriel. – Se não fosse o bastante, dizem que na floresta existe um warkon branco e gigante.

- Não sabia disso... Mas não tenho medo. Cãozinho psiu psiu...

Adriel riu, mas Dario não gostou do comportamento da mulher.

- Pare de brincadeiras, Isa. Por isso quero todos atentos – comandou. – Diferente dos Ishtari, a existência de um warkon gigante foi comprovada por meio de vários relatos. Muitos vieram caçá-lo, mas ninguém conseguiu domar a fera.

Assim, enquanto contavam histórias de monstros daquela região, o tempo passou. Ao final de mais um dia de viagem, a atenção não foi necessária, pois nenhum warkon foi visto pela trupe. A ideia era prosseguir trotando mesmo durante sem sol, aproveitando-se de mais uma noite iluminada pela luz das estrelas e da lua.

A caminhada rendeu um avanço considerável e, na manhã seguinte, mal podiam acreditar.

- Ali! A Cordilheira! – gritou Adriel.

- Pelos deuses, faz tempo que não a via... – Mondegärd abrira bem os olhos, vislumbrando os picos que apareciam no horizonte.

- Os Picos da Loucura, o Cemitério dos Aventureiros... São poucos os que se aproximam da Cordilheira e sobrevivem para relatar a experiência.

As palavras de Gerolt deixaram Celine ansiosa, pensando o que poderia acontecer com aventureiros apenas por se aproximar daquele lugar – como os seis estavam fazendo neste exato momento.

- Dario, Meselson não disse nada que pudesse nos ajudar? – perguntou a moça, procurando por respostas que acalmassem sua mente cheia de pensamentos amargos.

- Não. Apenas alertou para que mantivéssemos a atenção para os possíveis perigos que derrotaram Meriedro.

- É. Isso não ajuda muito...

A Cordilheira era uma cadeia de montanhas colossal que ocupava toda a região central do mundo. Suas montanhas formavam uma circunferência no centro de Meerã. Por conta disso, todos os povos moravam na estreita faixa entre as montanhas e o litoral. Desde o surgimento da inteligência em Meerã não se tem notícia de entidade ou grupo de seres viventes que tenha atravessado suas formações rochosas para ver o que há no interior do círculo formado pelas montanhas. Toda a região é cercada de mistério até hoje.

- Mesmo nossa companhia sendo formada por habilidosos guerreiros, não entendo como o rei pôde pensar que conseguiríamos algo além do que nenhum outro aventureiro conseguiu em toda nossa história.

As palavras de Mondegärd traziam uma dúvida legítima e todos começaram a pensar de forma semelhante: “O que estaria pensando o rei quando mandou seu filho e seus melhores guerreiros em uma missão como essa? Até hoje, ninguém conseguira sobreviver aos desafios da Cordilheira. Por que haveria de ser diferente com eles?”.

- Não adianta pensar muito, amigos. A ação é que move o mundo – concluiu Gerolt.

Todos acenavam a cabeça concordando com o amigo, quando o sol desapareceu por completo e uma sombra tomou parte da planície. Sobre o grupo, havia não uma nuvem, e sim uma criatura alada imensa cruzando os céus em direção aos picos adiante. De tão colossal, era impossível ver onde ela começava e onde terminava.

- Deuses! – gritou Adriel de boca aberta.

Era Perdida: O Globo da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora