- Não! Ele foi pego! – gritou Celine, tapando os lábios com as mãos.
- Estou voltando! – avisou Adriel e saiu em direção à fenda. Todos foram atrás dele.
“O Monde estava fraco...”, lembrou-se o guerreiro, enquanto liderava o grupo pelo caminho ainda cheio de areia pelo ar.
Com cuidado, retornaram até encontrar uma alta fileira de pedras. Tentando não machucar o velho – soterrado, pensavam –, escalaram a pilha e caminharam vagarosamente. A visibilidade era precária, o que dificultava a busca. Isa passou a tocha para Adriel e ele conduziu todos até ouvirem um fraco chamado vindo dos escombros.
- Socorro... Socorro...
- Mondegärd! Estamos aqui! – gritou Adriel.
Com pressa, o guerreiro aproximou-se do foco dos pedidos de ajuda e avistou uma fraca luz alguns metros à frente.
- Ele está protegido por uma barreira! Vamos logo!
Todos se aproximaram do mago e o viram com os braços para cima, sustendo uma barreira de energia. A luz mantinha uma grande quantidade de rochas flutuando sobre seu corpo.
- Não... Não vou aguentar por muito tempo... – ofegava Mondegärd. – Sinto meu poder esgotar-se...
- Calma, vamos tirar essas pedras – desesperou-se Adriel e começou a removê-las, passando-as para Isa. Infelizmente, apenas uma pessoa podia fazer o trabalho devido ao estreito espaço. Adriel ainda removia as últimas rochas quando viu o olhar do amigo sob as pedras refletir o desespero da morte.
- Não aguento mais! Vou des... – E assim foi ao chão Mondegärd. Adriel sabia que se o velho fosse atingido pelas pedras restantes poderia se ferir gravemente.
- Monde! – Adriel gritou e se atirou sob os pedregulhos caindo em cima do corpo desacordado do companheiro.
- Adriel! – gritou Isa.
- Ai, minhas costas... – os outros ouviram Adriel falar. – Celine... acredite em mim, isso aqui deve ser pior que dormir com a Isa na mesma tenda...
Celine não sabia se aquilo era uma piada ou um pedido de socorro, então Isa foi a primeira a falar:
- Quer ser o engraçadinho até aqui?! Pelo menos faça uma piada decente! – sorriu Isa, removendo as pedras sobre os amigos. – Até que são leves... Ver o Adriel levantando elas dava impressão que pesavam toneladas.
- Podemos parar com as gracinhas? – reclamou Dario. Ninguém falou mais nada, pois não sabiam se era o tom ou as palavras, mas lembraram-se de Gerolt.
Isa e Adriel levantaram o desmaiado para cima. Dario e Celine o pegaram e juntos levaram ele para a área aberta à frente. O grupo se reuniu em seguida. Celine pegou um cantil de água e lavou o rosto do velho. Seus olhos estavam fechados, mas seguia respirando, mesmo com alguma dificuldade.
- Essa foi por pouco... – bufou Adriel.
Aproveitaram o momento de descanso para observar em volta. A fenda era espaçosa e parecia com a entrada da Cordilheira, no local onde enfrentaram o gromav.
Naquela área aberta os ventos incidiam com mais força. Rapidamente o frio voltou a incomodar o grupo. Dario observou o cenário, mas era impossível ver além do que revelava o fogo da tocha.
- Temos que continuar. O frio será cada vez mais intenso e, durante a madrugada, não teremos como nos proteger dele, mesmo com barracas e uma fogueira.
Todos estavam estafados ao limite, mas prosseguiram. Não havia outra opção.
Isa e Adriel levavam Mondegärd apoiando seus braços sobre seus ombros. Celine e Dario iam à frente iluminando o caminho e para a sorte do grupo a caminhada não durou muito. Pouco andaram e a chama das tochas revelou uma estranha estrutura.
Um portal de pedra ocupava toda a largura da fenda. No meio, havia uma passagem sem porta com a largura de quatro homens um ao lado do outro e altura de três – um sobre o outro. De ambos os lados do portal, uma parede de pedra rachada com inscrições diversas impossíveis de serem lidas, decorava a estrutura. O musgo crescia em toda a superfície e a impressão era de que a passagem existia há centenas de anos.
Andando um pouco mais, o chão de terra e rochas deu lugar a uma plataforma plana de pedra.
- Parece a entrada de um templo antigo... – arriscou Dario.
- Um templo antigo e sinistro – completou Adriel.
- Se o Monde estivesse acordado, ele poderia tentar ler essas letras ou figuras. Mas não vejo ele acordando tão cedo...
- Não podemos esperar, Isa – interrompeu Dario. - Vamos entrar e que os deuses nos protejam.
Ao passarem pelo portal com extrema cautela, instantaneamente o frio deu lugar a um ambiente abafado, onde era difícil até mesmo respirar.
- Cof... Cof... – tossiu Celine. – Não consigo respirar direito.
- Pare de reclamar de tudo, Celine. Pelo menos o frio ficou lá fora – resmungou Isa.
- A Isa está certa – concordou Adriel. – Esse bafo é apenas questão de costume, Celine.
A jovem não gostou das repreensões, mas concordou: o ambiente ali dentro era muito mais agradável em comparação ao frio intenso do vale.
Dario caminhou alguns metros e tentou iluminar o máximo que pôde.
- Parece um longo corredor. Acho melhor aproveitarmos que o frio cedeu e dormirmos aqui até o sol nascer. Ficarei de guarda e depois Isa pode me substituir, tudo bem?
- Pode deixar, comandante – concordou Isa. – Acho uma boa ideia. Assim podemos cuidar do Monde e esperar ele se recuperar.
Adriel fuçou a bolsa que pertencia a Gerolt e encontrou materiais para fazerem uma fogueira. Ele e Celine aprontaram tudo, além das tendas, enquanto Dario e Isa faziam curativos em Mondegärd. O velho mago apresentava vários cortes pelo corpo e as vestes estavam rasgadas.
- E você, cabeludo? – Isa chamou Adriel. – Vai precisar de curativos?
- Eu sou imortal – respondeu.
- Tsc... Tomara que infeccione e morra vagarosamente.
Isa e Celine se despediram e foram para uma das cabanas. Mondegärd foi posicionado dentro de outra. A terceira seria utilizada por Dario e Adriel.
A noite passou tranquila a não ser pelo alto som do vento debatendo-se agressivamente no vale. Era incrível como o frio congelante da fenda não penetrava naquele corredor. É como se uma parede invisível impedisse a entrada do frio.
Dario pensou uma vez mais no companheiro morto. Gerolt era um excelente oficial. Experiente em combate e outras áreas, sempre fora de grande ajuda em todas as missões das quais participaram juntos pelos últimos três anos. Inclusive, todos os outros também eram amigos e guerreiros valorosos.
- Não vou deixar nenhum deles morrer. É uma promessa, ouviram?
Suas palavras foram como um desafio contra o mal que pairava naquele lugar. Determinado, revigorou o espírito e decidiu poupar Isa: faria a vigia sozinho naquela noite.
- Já dormi demais hoje... – repreendeu-se.
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Era Perdida: O Globo da Morte
FantasíaSaiba mais no site - www.eraperdida.com.br Até onde você iria para fazer a vontade de seu rei? Arriscaria sua vida e a de seus melhores amigos? Quando um conhecido e poderoso mago chegou ao castelo para uma reunião com o rei e seu primogênito, t...