A noite já tinha caído no segundo dia de viagem quando a comitiva aproximou-se da cidade de Menfatz – um dos maiores conglomerados urbanos do reino de Mylstain.
- Então, como sugerido, vamos entrar separadamente para chamar menos atenção, entendidos? – reforçou Dario. O comandante estava preocupado com a repercussão caso alguém o reconhecesse. A figura do príncipe não era tão famosa fora da capital, já que não existiam muitos quadros ou estátuas da família real espalhadas pelo reino. Dessa forma, a chance de perceberem sua presença era pequena, mas existia e poderia comprometer a missão.
Algo não estava certo na cidade, entretanto. Um sentimento estranho tomou conta de Dario, mas o capitão não sabia precisar o porquê. A resposta veio de Adriel.
- Olhem... A cidade parece vazia. Bem mais vazia se comparado com a última vez que aqui estive, ao menos. – O soldado estava um tanto incomodado.
- Verdade! Que estranho... – concordou Celine.
O incômodo era justificável. Menfatz era uma cidade muito movimentada, mesmo naquela hora da noite. Agora, no entanto, parecia desabitada. Haviam algumas pessoas, aqui e ali, é claro, mas nem se comparava ao tumulto esperado.
- Alguma coisa aconteceu aqui – sentenciou Gerolt.
- Estou sentindo a presença de muitas pessoas reunidas não muito longe daqui. São mais de 100. Uma verdadeira multidão está concentrada em um único ponto da cidade.
As palavras do mago Mondegärd vieram em boa hora, mas aumentou ainda mais a curiosidade do grupo.
- Esqueçam a história de nos separarmos. Vamos entrar juntos. Tomem cuidado – pediu Dario. Afinou os olhos e concentrou-se nos sentidos. - Mondegärd, leve-nos até a multidão.
Acenando positivamente com a cabeça, o velho tomou a dianteira e trotou em ritmo inalterado por uma rua, desembocando em uma larga avenida. Olhando para a direita, puderam ver, ao longe, muitas pessoas reunidas em frente a um estabelecimento de dois andares.
- Eu conheço esse lugar. É a taverna mais conhecida da cidade – surpreendeu-se Isa. A moça forçava a vista tentando captar algum sinal que justificasse a presença de tantas pessoas. O esforço foi inútil, pois era impossível ver alguma coisa, mesmo sobre um cavalo – e tendo dois metros de altura.
O burburinho era generalizado. Tantas conversas vindo de lá e cá tornava impossível a tarefa de entender qual era o tema de tanta discussão e tanta curiosidade.
- Deixem comigo – falou Celine, descendo do cavalo e dirigindo-se até um grupo de adultos conversando animadamente. Os outros permaneceram em seus cavalos.
- Boa noite, senhores. Qual o motivo de tanta agitação?
Os homens ficaram encantados com a beleza de Celine e pararam a conversa sem dar mais atenção ao que discutiam tão freneticamente.
- Boa noite, senhorita. Gostaria de poder te explicar o que acontece, mas também não sabemos – sorriu um dos homens.
- Verdade. Ouvimos muita gritaria fora da cidade e depois trouxeram um grande recipiente de cerâmica para dentro do bar – relatou um outro senhor. – Os guardas chegaram e não deixam ninguém entrar desde então.
- Tenho certeza que estavam transportando alguma coisa ilegal e foram pegos! – arriscou o terceiro do grupo.
- Obrigada, gentis cavalheiros. Boa noite.
Despedindo-se, Celine voltou para perto do grupo – todos já haviam descido de seus cavalos – e repassou as informações angariadas.
- Não tem jeito – bufou Adriel. - Se quisermos saber o que está acontecendo, vamos ter que nos identificar pelo menos aos guardas.
- Isso está fora de cogitação. Se a informação de quem somos vazar, não sabemos o que pode acontecer – rechaçou a ideia Gerolt.
Enquanto estudavam as possibilidades, um homem de roupas incomuns penetrou entre as pessoas e gritava:
- Saiam do caminho, incautos! Autoridade passando! Autoridade passando!
- Vejam! É o Amarato Orënn! – reconheceu Isa. – Ele deve ter vindo da capital para resolver o problema. Essa é a nossa chance, comandante.
Amarato era o subcomandante das tropas do reino. Sua posição era inferior somente ao próprio Dario. Quando o príncipe deixava Targodriath para realizar missões, o senhor de bigode e vestes incomuns ficava no comando da Armada Oficial.
Cortando caminho por entre a multidão, Dario e seus comandados se aproximaram de Amarato antes deste entrar na taverna.
- Senhor Amarato. Senhor Amarato! Sou eu! – falou o Mestre Comandante Dario, cabeça baixa para não ser reconhecido.
O oficial olhou para baixo – era quase vinte centímetros maior que Dario – e tomou um grande susto.
- Senhor Mestre Comandante!
- Shh... Por favor, não fale nada, senhor Amarato. Vamos entrar, por favor.
Os dois entraram na frente e abriram caminho para os outros integrantes do grupo. Após algum empurra-empurra estavam todos na taverna.
- Ufa! – bufou Adriel. – Conseguimos! E acho que ninguém reconheceu você, Dario.
- Graças aos deuses.
Amarato retirou o grande chapéu de palha que usava e passou a mão alisando o bigode. O príncipe ajeitou as roupas. O subcomandante foi o primeiro a falar:
- O que faz aqui, senhor? Imaginei que já estivesse em Naglörandill a uma hora dessas.
Dario deu de ombros.
- Nem que quiséssemos. Fomos atacados por um grupo de rebeldes. Resolvemos parar aqui para nos prepararmos antes de deixar o reino. – Depois de uma pausa, mudou de assunto: - Mas, me diga Amarato, o que está acontecendo aqui?
- Bem, senhor, pelo que me contaram, trata-se de uma mulher-peixe.
Todos arregalaram os olhos.
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Era Perdida: O Globo da Morte
FantasiSaiba mais no site - www.eraperdida.com.br Até onde você iria para fazer a vontade de seu rei? Arriscaria sua vida e a de seus melhores amigos? Quando um conhecido e poderoso mago chegou ao castelo para uma reunião com o rei e seu primogênito, t...