Uma luz mais resplandecente que as estrelas brilhantes no céu chamou a atenção de Dario. Vinha da Floresta de Khunt, há cerca de um quilômetro de onde haviam montado acampamento.
A luz verde clara instigou a curiosidade do príncipe, que se afastou das tendas e tentou observá-la mais de perto. Era impossível distinguir, no entanto, de onde vinha o brilho. “Com certeza está entre as árvores”, concluiu o capitão.
Dario olhou para onde os amigos dormiam e receou deixá-los sem qualquer vigia. Mas a luz não o deixava descansar. Daquele ponto verde emanava algum tipo de poder que lhe atraia irresistivelmente. De forma que ignorou seu receio e partiu sozinho pela madrugada em direção à Floresta.
Quando chegou às primeiras arvores, a curiosidade logo foi abafada pelo medo. Entre os troncos podia ver os espíritos brilhando e escondidos, receosos de sua presença.
- Exatamente! – vociferou o comandante, retomando a calma. – Eu sei muito bem quem são! De mim, não tirarão amargura, medo ou tristeza!
E assim penetrou fundo na floresta, ignorando seu próprio bom senso – este pedia-lhe: “Não há nada aqui para você. Vá-se logo!”.
Quando tornara-se impossível ver a saída ou o céu ou até mesmo as árvores, pois a escuridão tomara conta do entorno, Dario parou. A luz verde era a única coisa visível, entretanto, ela não iluminava nada mais, como se fosse um brilho escuro.
- Não irei além – anunciou, resoluto. – Fale o que tiver que falar ou voltarei por onde vim e não retornarei.
A luz então apagou-se e o príncipe ficou só no completo breu. O silêncio era excruciante. Parecia estar dentro de si mesmo. Não podia ver, ouvir ou sentir coisa alguma. Até mesmo o chão parecia ter-se esvaído de seus pés.
Tentava convencer-se ter sido boa ideia adentrar a floresta sozinho em meio à madrugada, quando o brilho verde retornou e expandiu-se em pálida e extensa luz verde a refletir-se no gramado e nas folhas das grandes árvores. O ambiente todo estava verde-mato e revelava uma densa floresta, cercada por todos os lados.
- Chamei-lhe aqui, príncipe Dario, pois é de nosso interesse.
A voz feminina era bela e melodiosa. Carregava a força de uma guerreira moldada na bela forma de uma musa.
- Quem é você?! – respondeu Dario, suspeitando da cena.
- Será essa a pergunta que deveria fazer? – tornou a voz feminina.
- Não discutirei assunto algum até que apareça!
- Pois bem... – concluiu a voz, quando uma forte ventania tomou o entorno e obrigou Dario a pregar os pés no chão para não ser derrubado por tamanha rajada. Os ventos concentraram-se logo à frente do príncipe em formato de um cilindro girando em torno de si próprio. Grama e terra começaram a sair do chão e fundir-se ao vento, levantando-se até a copa das árvores.
- Aqui estou – falou uma mulher nua de tez verde e cabelos longos e verde-escuros. Folhas saíam em meio aos seus longos fios e raízes pareciam brotar de seus pés e de suas mãos, subindo por suas pernas e braços. Tinha saído de dentro do tufão.
- Meu nome é Enya e sou uma descendente dos saymain.
- Saymain? – duvidou Dario. – Estes não são os filhos do Vento? Criaturas que existiram no mundo antes mesmo dele ser o que é hoje?
- Exatamente – concordou a mulher, sem afetação. – Mas ouça bem: contei-lhe ser uma de suas descendentes. Não vivo em Meerã mais que as raças do Sul.
- Entendo... E o que quer de mim? Por que me chamou?
- Convoquei-lhe para falarmos sobre algo de nosso mútuo interesse – a mulher iniciou. Depois, parou por um tempo e prosseguiu: - Eu sei para onde você e os outros estão indo. E neste local existe algo tão antigo e ancestral, que não me levaria a sério se lhe contasse. De qualquer forma, quero ajudar-lhe a destruí-lo.
Dario incomodou-se com as palavras da criatura:
- Não estou indo lá para destruir o item! Vou recuperá-lo para meu reino.
- Você precisará de algo mais poderoso que sua lâmina de aço para conseguir atingí-lo – continuou a mulher, ignorando as palavras do príncipe. – Eu tenho algo deixado na floresta por um herói de outra era. Aqui ele morreu, e aqui ele deixou seu bem mais precioso...
Estendendo as mãos, a mulher invocou uma nova rajada de vento, que saiu por baixo do solo e fez flutuar até suas mãos uma lâmina.
- Esta é a Lâmina da Floresta, como eu a chamei. E ela será sua.
O príncipe aproximou-se da mulher e pegou a lâmina com as mãos.
- Agradeço pelo presente, mas, como lhe disse, não pretendo destruir a relíquia. Minha missão é conquista-la.
- Sua missão irá falhar, príncipe Dario. Isso já foi dito a você antes mesmo de sua jornada começar...
- Então foi você!? Você falou comigo antes de deixarmos a capital!
A mulher, porém, continuou sua frase, ignorando o capitão novamente.
- E chegará o momento em que você irá destruir o globo. E quando o fizer, deverá usar esta lâmina. Agora vá.
E a mulher transformou-se em folhas e grama e caiu sobre a terra. Dario contemplou a cena e depois fechou os olhos.
- Enya! Eu não vou falhar! – gritou para as árvores, ofegante. – Vou mostrar que está errada! Eu vencerei a Cordilheira e tanto eu como meus amigos voltaremos para nosso reino! E depois passarei aqui e devolverei sua espada, pois ela terá sido inútil! Eu juro!
Depois ficou em silêncio, a cabeça baixa. Quando levantou os olhos, viu a luz verde novamente, mas ela estava do lado oposto. Seguindo-a, deixou a Floresta de Khunt e retornou ao acampamento.
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Era Perdida: O Globo da Morte
FantasiSaiba mais no site - www.eraperdida.com.br Até onde você iria para fazer a vontade de seu rei? Arriscaria sua vida e a de seus melhores amigos? Quando um conhecido e poderoso mago chegou ao castelo para uma reunião com o rei e seu primogênito, t...