O príncipe adentrou a pequena sala de pedra e, para sua surpresa, nada aconteceu. Devagar e cauteloso, foi até o final e parou diante do espelho, escorado no rústico suporte. “Até aqui, nenhuma armadilha”, estranhou. Com cuidado, esticou a mão e tocou o espelho para recolhê-lo e em um piscar de olhos todo o espaço se transformou: o chão de pedra e as paredes cheias de limbo desapareceram, assim como o suporte e o pequeno espelho. Dario estava em seu quarto, no castelo de Mylstain; estava em pé, olhando para sua cama.
- Um príncipe, muito bem... – ponderou uma voz grave e idosa.
- Este será muito simples, creio eu.
Dario olhou para os lados e encontrou um velho sentado em uma cadeira de balanço de madeira. O velho era careca e estava bem curvado, apoiando os cotovelos na coxa enquanto balançava vagarosamente para frente e para trás, em ritmo ordenado. Seus olhos, penetrantes, pareciam atravessar os olhos do capitão, como se estes fossem uma janela, e chegar no âmago da alma.
O segundo a falar estava em pé, ao lado do velho, encostado na parede. Era mais jovem, mas não tanto – deveria ter a idade de Mondegärd.
- Quem são vocês? – quis saber Dario. Nada daquilo fazia sentido para ele.
- E isso importa, jovem? – respondeu o velho sentado – O mais importante é: quem é você?
- Meu nome é Dario e sou príncipe de Mylstain e Mestre Comandante da Armada Oficial. Vim até aqui para...
- Ei ei... Tenha calma, jovem. Por que a pressa?
- Não estou entendendo. Onde estou? – Dario parecia confuso.
- Comecemos do começo, sim? Não me disse ainda quem és.
- Já disse, sou príncipe do rein...
- Não, não. Você não é um príncipe, jovem. Príncipe é o filho do rei. Comandante é quem dá as cartas no tabuleiro da guerra. Nem um e nem outro você é.
As palavras do velho faziam sentido para Dario, mas aquele não era o momento para discutir retóricas. Coisas muito mais urgentes estavam acontecendo, por isso quis encerrar o diálogo o quanto antes.
- Entendo o que diz. Mas não tenho tempo para argumentar com o senhor. Quero saber por que estou no meu quarto e não mais no templo da Cordilheira. Isso é magia de ilusão?
- Qual o motivo de tanta pressa?
- Meus amigos me esperam e estou no meio de uma missão.
- Ele está em uma missão, senhor – disse o homem em pé ao lado do velho.
- Isso mesmo – concordou Dario. – O senhor parece ser um mago poderoso. Dificilmente sou pego em ilusões.
- Uma missão? – perguntou o velho.
- Isso. Vim recuperar o artefato. Você é um dos protetores da relíquia?
- Foi para isso que veio? Por conta da relíquia?
- Isso.
- Qual é seu interesse nela?
- Na verdade, não sou eu interessado e, sim, meu pai, o rei.
- Então não veio por ela, mas por seu pai?
- Por um lado, sim.
- E pelos outros lados?
- Pelos outros lados? – Dario parecia surpreso com a pergunta e não soube direito o que responder. – Não sei... Por ser o comandante é minha responsabilidade liderar missões como esta.
- Então, em verdade, está aqui por ser o príncipe e ser o comandante e não por sua própria vontade. Estou certo?
- Sim... – O príncipe começou a ficar desconfortável com a conversa.
- E qual seria sua vontade?
- A minha? Bem, acho que gostaria de estar aqui, neste quarto, nesta cama; lendo um livro, talvez.
- Por que não está aqui, então?
- Já lhe expliquei. Tive que deixar o castelo por conta da minha missão.
- Sua missão? Tens certeza que esta missão é tua? Missão que realiza contra tua própria vontade? Pois então é um preso, cativo ou um fraco sem vontade própria?
- Não sou um preso, tampouco um fraco. Apenas cumpro minha responsabilidade.
- Sua responsabilidade como príncipe e como comandante?
- Isso mesmo. Todos nós temos responsabilidades nesta vida – concluiu Dario. – E agora chega. Livre-me desta ilusão agora ou serei obrigado a esquecer a gentileza que aprendi!
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Era Perdida: O Globo da Morte
FantasySaiba mais no site - www.eraperdida.com.br Até onde você iria para fazer a vontade de seu rei? Arriscaria sua vida e a de seus melhores amigos? Quando um conhecido e poderoso mago chegou ao castelo para uma reunião com o rei e seu primogênito, t...