Capítulo.⁠。°'²³ • Primeira e última carta

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O vento sacudia as plantas de Kibum suavemente, e os carros passando na rua naquela noite iluminavam a avenida como pontos de luz, parecendo estrelas. Até que a porta da rua se abriu e Kibum entrou acompanhado por um rapaz.

Quando o rapaz me viu, seus olhos se esbugalharam e, em seguida, ele se aproximou de mim.

- Você é amiga do Jonghyun? Te vi no enterro, mas não pude me aproximar. Eu tenho algo para lhe entregar. - O encarei com um ponto de interrogação, sem entender o que aquele rapaz queria dizer.

- Não estou entendendo. - Ele me olhou, e sua expressão cabisbaixa fez tudo ficar ainda mais confuso.

- O Jonghyun deixou uma carta para você, e eu vim entregá-la. - Quando ouvi isso, meus olhos dispararam, minhas mãos começaram a tremer e os cantos dos meus olhos encheram-se de lágrimas.

O rapaz tirou um envelope branco do bolso do casaco e estendeu a mão em minha direção. Minhas mãos esticaram-se por vontade própria quando toquei no envelope com minhas mãos trêmulas. Kibum olhou para mim, com surpresa estampada em seu rosto.

- Annie, vou deixá-la sozinha para que você tenha mais privacidade para ler. - Depois de dizer isso, o rapaz e o Kibum se retiraram, saindo do apartamento.

Quando finalmente fiquei sozinha, as lágrimas começaram a cair, com a tristeza me fazendo perder o equilíbrio. Antes que eu pudesse cair, rapidamente me sentei no sofá e olhei para a carta. Lentamente, comecei a abri-la com cuidado para não rasgar o envelope. Agora aberta, pude ver a caligrafia perfeita de Jonghyun e percebi algumas marcas de gotas de lágrimas na carta. Aquilo fez com que a culpa que havia saído de sobre mim retornasse, me colocando para baixo. Mas questões começaram a se juntar em minha mente: o que poderia estar escrito? As respostas que tanto me rodeiam? Ou mais questões? Agora era o momento de ler. Respirei profundamente, segurando-a com um pouco de firmeza para tentar fazer minha mão tremer menos, e comecei a ler.

"Annie, quando você estiver lendo esta carta, provavelmente eu já terei deixado o meu corpo. Antes de tudo, peço perdão por ter que ir tão repentinamente. Sei que você está sofrendo e sinto que, de alguma forma, as coisas finalmente retornarão aos seus devidos lugares. Sinto muito por partir, mas eu precisava ir. O fardo que estou carregando é pesado demais. Juro que tentei de todas as formas possíveis viver, mas estou exausto deste mundo. Eu tentei viver. Perguntei-me por que eu tinha que fazê-lo e todas as vezes que me perguntava, a resposta sempre era a mesma: nunca foi por mim, sempre foi por você. De repente, desejei fazer algo por mim, que o motivo de eu partir fosse por mim, mas não é.

Eu me questionava: quem poderia cuidar de mim? E quando eu olhava ao meu redor, eu via que apenas eu poderia.
Eu estava sozinho, tentando me proteger dos dedos que sempre estavam apontados para mim, mas sozinho, eu não conseguia.

É fácil dizer que vou terminar com tudo.
É difícil determinar e saber que nunca mais irei poder vê-la.

E todos sempre diziam que eu queria fugir. É verdade, eu queria fugir, de mim, de vocês.

E eu novamente me perguntei: quem era eu? Era eu, era eu e era eu novamente.
Eu entendi que era minha culpa no final.

Eu queria que alguém percebesse, mas ninguém percebeu. Ninguém notou que eu estava sofrendo e, no fim, ninguém me conhecia de verdade.

Eu sofri, agonizei, mas nunca aprendi a transformar essa dor em felicidade. Dor é apenas dor, não tem como transformá-la em algo melhor.

Coisas que posso vencer não deixam cicatrizes, mas essa dor em meu peito me rasgava e dilacerava, fazendo eu sentir mais dor.

Eu sei muito bem por que estou sofrendo. Estou me machucando por causa de mim. É tudo culpa minha por ter nascido desse jeito.

Tentei me empurrar além disso, por quê? Porque estou me impedindo de acabar com isso. E me disseram para procurar o motivo pelo qual dói. Eu já disse a vocês o motivo. Eu não posso sofrer por algo assim? Eu tenho que ser mais específico? A minha dor não é suficiente?

Desculpa, Annie. Me equivoquei.

Querida, eu sou tão solitário.
Eu sinto muito, é minha culpa.
A porta em meu coração está cada vez mais fechada e é por isso que não consigo abri-la.

Toda vida humana é uma mentira, mesmo sabendo que todas as coisas vivas são diferentes, e no final, eu sou o único que finge ser brilhante.

A solidão e o sofrimento são apenas uma lembrança, assim como eu serei.

Eu sinto muito por não ter suportado. Sinto muito por ter que ir, mas eu precisava me libertar desse sofrimento. Sei que nunca fui capaz de dizer, mas quero que saiba que sempre te amei desde o primeiro momento em que meus olhos te viram.

No momento em que te vi pela primeira vez, eu congelei. Só podia ver você.

Eu te amo, e nunca foi como amigo. Por favor, não chore, não sofra. Apenas sorria, pois o seu sorriso ilumina o meu mundo.

Lembre-se de mim, não sofra. Seja feliz, siga em frente e nunca pare, mesmo que este mundo tente derrubá-lo. Erga-se como uma palmeira, que mesmo quando o vento a derruba, ela sempre se levanta, mostrando que nada pode derrubá-la. Por favor, deixe-me terminar do jeito que eu quero, pelo menos isso.

Tivemos momentos maravilhosos juntos. Eu fui feliz ao seu lado. Não se culpe pela minha escolha.

Eu precisava fazer isso. Eu não estava mais conseguindo suportar essa dor dentro do meu coração. Eu precisava fazer algo para tirá-la.

E este foi o único meio que encontrei.
Por favor, me perdoe por ter mentido para você e por tê-la envolvido nos meus problemas. Eu não te contei sobre a minha depressão porque não queria ser um peso para você.

Eu juro que tentei, mas no final a depressão me venceu. Eu quero que você saiba que eu te amo com todo o meu coração. O meu amor por você aumentava cada vez mais. Eu não podia dizer isso imediatamente por medo de te perder, mas eu pretendia te contar algum dia. Mesmo que levasse mil anos, eu queria que você continuasse ao meu lado.

Por favor, deixe-me ir. Diga-me se fiz algo certo, mesmo que não possa sorrir ao me deixar partir. Por favor, não se culpe, não me culpe. Eu trabalhei duro, realmente trabalhei duro. E, por fim, meu coração é seu, querida, para sempre.

Adeus..."

Depois de ler a carta, as lágrimas não cessavam e vinham como uma chuva sem fim, e todas as minhas questões foram respondidas. Eu finalmente compreendi o porquê de Jonghyun ter me deixado para trás. Ele estava sofrendo e tentando de alguma forma sobreviver neste mundo caótico e repleto de ilusão. A declaração foi triste e solitária e, por fim, entendi que ele me amava. E talvez, se eu tivesse aberto o meu coração para ele, tudo seria diferente? Não seria enquanto aquela depressão estivesse nele. Nada ou ninguém poderia salvá-lo.

Cada palavra continha sentimentos que não podem ser expressados com atos e que foram calados no silêncio da morte, sem a oportunidade de poder ouvir um "eu te amo" saindo da boca de Jonghyun.

"Mesmo que não tenha dado tempo de abrir o meu coração para ti, meus sentimentos são os mesmos do primeiro dia em que te conheci, Annie."

Apenas me deixe ir •  ᝰ'Jonghyun゛Onde histórias criam vida. Descubra agora