Capítulo.⁠。°'¹⁶ • Sei que não tem como voltar atrás, mas deixe-me ir

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Depois de algumas horas, a chuva começou a diminuir, diferente da minha dor, que cada vez mais crescia como uma infecção se espalhando por todo o meu corpo. Me levantei e suspirei pesadamente. Em seguida, entrei no carro. Aquele dia parecia meses e anos, e o relógio lentamente se aproximava da badalada, anunciando que o meu tempo estava acabando. Sem que percebesse, o dia virou noite e as estrelas enfeitaram a imensidão azul. Uma nostalgia me envolveu. A falta de Annie me fez pegar o celular que estava no banco ao meu lado.

— Eu preciso ouvir a voz dela pelo menos pela última vez. — Apertei com um pouquinho de força o aparelho e disquei o número de Annie. Aqueles segundinhos de espera faziam uma ansiedade se apoderar de mim, e minhas mãos começaram a tremer e a suar. Uma vergonha de mim mesmo me cercava. Eu queria pelo menos dizer o quanto eu a amava, mesmo que isso significasse que os meus sentimentos não fossem correspondidos. Desta vez, eu iria abrir meu coração.

E continuei chamando. A espera para ouvir a doce voz de Annie era agoniante, mas a ligação foi atendida e um silêncio predominou, tanto dela quanto da minha parte. Respirei fundo antes de falar e disse: "Olá, Annie, desculpe por te ligar tarde. É que eu queria falar com você, senti sua falta, da sua voz." Minha voz trêmula se misturava com a minha respiração, fazendo com que as minhas palavras saíssem estranhamente casadas, como se eu estivesse correndo.

— Jong, obrigada por ter me ligado. Eu também senti sua falta. Eu quero muito te ver. — Mas o que Annie disse fez minha mente ficar confusa. Tudo o que eu esperava quando ela atendesse o telefone era que ela me tratasse mal, mas pelo contrário, ela sentiu minha falta. O que isso poderia significar? Annie está agindo estranho e, naquele momento, meu esgotamento foi aos poucos se dissipando e meu mundo aos poucos foi ganhando cor.

— Sério? Você sentiu minha falta? — Um sorriso foi se formando em meus lábios e aquela sensação de incômodo na garganta foi sumindo. Minha noite de hoje estava sendo diferente das outras, repleta de cores que dissiparam a escuridão e levaram para longe a cor cinza. Meus batimentos cardíacos se intensificaram e todos os meus sentidos retornaram, até que meus olhos encheram-se de lágrimas que encharcaram meu rosto. Aos poucos, o peso foi saindo de sobre meus ombros, fazendo eu me sentir menos inseguro e esgotado.

— Você sabe que sim, eu sempre sinto sua falta.

— Annie, eu preciso de você aqui comigo. Você é a única que me faz sentir feliz e nas nuvens. Eu perdoo tudo o que você me disse naquele restaurante. Tudo o que peço é que volte a ser minha amiga. Eu sei que é pedir demais, mas se você puder me amar pelo menos um pouquinho e eu puder ficar ao seu lado, isso já é o bastante para mim. Não precisa ser algo romântico ou um amor de amantes. Se formos amigos, já é suficiente para mim.

— Jong, você... — Um som de algo se quebrando do outro lado da linha me fez ficar alarmado.

— Annie, você está aí? Pode me ouvir? Por favor, me responda. — Por alguns instantes, tudo ficou em silêncio até que, de modo repentino, ouvi uma risada. No mesmo instante, paralisei.

— Desculpa, mas que asneiras são essas que está falando? Seu idiota, eu não quero saber de você. Desapareça de uma vez por todas da minha vida. Pare de insistir, eu já disse que não gosto de você. — E novamente Annie destruiu meu mundo e quebrou o meu coração. E tudo volta a se repetir como um ciclo, e minha respiração ficou presa na minha garganta.

— Tudo bem, Annie. Eu vou desaparecer da sua vida e da de todos. Eu não preciso de ajuda, acho que nunca precisei — dizia, enquanto chorava. Eu tentava segurar a mão de Annie com todas as minhas forças, mas ela sempre conseguia de alguma forma escapar e se afastava, ficando impossível me segurar nela para poder continuar aqui. E, no fim, tudo era apenas uma mera ilusão na qual eu me prendi. Agora, sem as algemas, não consigo seguir em frente. Não havia ninguém ali além de mim, naquela estrada.

E de certa forma, nenhum medicamento era forte o suficiente para curar ou aliviar aquela dor no meu peito. Hoje estava sendo difícil identificar o que doía mais, se era todo o meu coração ou toda a minha alma. O coração palpitava em desespero, as mãos suadas junto com os pensamentos insones.

— Não sei como combater essa solidão que me oprime e dilacera — As lágrimas inundavam o meu rosto e todas as palavras que Annie disse faziam meu coração se quebrar cada vez mais.

Eu me sentia ainda mais afundando na tristeza e, mesmo tentando sair, não conseguia. Era como se eu não fosse páreo para a depressão, que estava me consumindo aos poucos. Ao ponto de já estar exausto de tudo e sem alguém em quem eu pudesse me segurar, a depressão apareceu no banco ao lado e me disse: "Não adianta resistir, de uma forma ou de outra você vai acabar cedendo. E por que não agora?" — Olhei-a com a vida aos poucos deixando os meus olhos.

— Ainda falta algo que preciso fazer para então me entregar por completo a você. Já estava decidido: se eu não era capaz de vencer algo que muitos já venceram, eu iria desistir por completo de meus sonhos e morrer. E quem poderia me impedir desta tal escolha que não teria mais volta? A resposta era simples: ninguém.

Depois disso, não haveria mais nada que pudessem fazer. Não há mais nada que me segure neste mundo. Decidido, iria pôr um ponto final em meu sofrimento.

— É o único meio de me libertar e ser livre de uma vez por todas. Se antes eu não era capaz, agora eu tinha todos os motivos. Se eu não era capaz de tirar aquela dor, era melhor eu parar por aqui. Era uma escolha sem volta.

Eu estava cego por causa da minha dor. Eu odeio isso, odeio a mim mesmo. Eu precisava ir. Do fundo do meu coração, sempre quis saber se Annie realmente se importava comigo, mas a realidade não foi como eu queria.

— As palavras que Annie me disse realmente me magoaram, mas não poderia partir com esta mágoa. Sei que para onde vou nada leva. Eu te perdoo, você sempre será minha amiga, não importa a forma como tenha me tratado. Eu vou te amar eternamente. Tenho que ir, eu realmente tenho que ir? Mesmo assim, esta decisão não me é dolorosa.

“Talvez eu tenha nascido da solidão. Tudo que desejo é ser mais feliz e finalmente poder derreter o frio em mim. Será que querer ser feliz é pedir demais?”

Apenas me deixe ir •  ᝰ'Jonghyun゛Onde histórias criam vida. Descubra agora