Capítulo 10

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Redenção

A escada era longa e as luzes não iluminavam muito. As paredes eram feitas de tijolos grandes; a umidade acarretando à imundice de musgos que neles se abrigavam. Draco já conhecia aquele lugar, ainda que não gostasse de se lembrar vividamente o que passara ali. Havia mais segredos e dor do que ela poderia imaginar.

Era impossível não se recordar, por mais que odiasse as lembranças. Ele ainda podia ouvir claramente os gritos atormentados e o barulho das correntes sendo arrastadas pelos degraus intermináveis. Lembrava-se do sangue e do rosto de cada um deles ao encará-lo, suplicando por ajuda. Era seu fardo. Ainda que não houvesse os machucado, ele nunca protestou contra quem o fazia.

Seguindo atrás de Hermione, ele podia ver em sua frente sua única forma de redenção. Demorara a entender o real motivo para salvá-la, mas estava claro. Não nutria qualquer sentimento por ela, nem mesmo sentia qualquer afeição, mas o ódio pelo ofídico era maior. Ajudá-la iria matá-lo, mas ele não se importava mais. Era o único modo que conseguia ver para a sua libertação.

Os degraus ficaram mais largos e ele sabia que estavam chegando ao fim. Antes mesmo de pisar no chão imundo do local, Hermione parou em sua frente quase fazendo-o trombar às costas dela.

Draco a observou olhar para os pés com decepção estampando em seu rosto. Ele não se lembrava de Hermione Granger ser tão feminina ao ponto de se importar tanto com o sapato que usava.

— Você é uma bruxa, Granger — ele a lembrou rispidamente. — Pode simplesmente limpá-los depois.

Desceu o último degrau impaciente e passou à frente da garota trombando seus ombros sem intenção. Draco não olhou para trás para ver se a garota o seguia. Sabia que ela não tinha outras opções e uma hora ou outra teria de seguir o caminho em frente. Não demorou a ouvir os sapatos dela indo contra a lama atrás de si.

— Como você pode não estar com frio? — a voz de Hermione se fez soar alta em seus tímpanos.

Ele virou-se para olhá-la. O vestido não era curto, mas suas coxas eram visíveis e, ainda que a peça tivesse um pano espesso, não era preciso pergunta-lhe para perceber que estava com frio. Sua pele estava arrepiada e a garota se encolhia o quanto podia.

Ele sorriu cinicamente e virou os olhos. Mesmo que fosse a bruxa mais inteligente da geração, Hermione Granger conseguia ser estúpida quando queria.

Ela arqueou uma de suas sobrancelhas.

— Não é como se não tivéssemos sido descobertos. Você já pode usar sua varinha agora — tentou utilizar o máximo que tinha de paciência para falar com ela.

Não a esperou responder, virou-se e continuou a caminhar e logo a ouviu andar novamente às suas costas.

— Quer dizer que já podemos sair daqui também? — ela perguntou mais uma vez.

Draco segurou um suspiro de indignação e irritado a respondeu sem se virar para encará-la.

— Não é bem assim que funciona.

Hermione Granger não era a mesma e há pouco tempo ele havia notado. O feitiço lançado sobre a cabana estava afetando-a inteiramente. Sabia o quão poderoso ele poderia ser à não bruxos e sangues-ruins. Havia visto com seus próprios olhos. Imaginava que a Sabe-Tudo que conhecera já teria a resposta para aquela pergunta.

— E como eles entraram aqui?

Draco não a respondeu.

O túnel tornou-se mais amplo e a lama sobre o chão diminuiu. O espaço havia se tornado numa sala fria, pouco iluminada e com poucos móveis. Uma sala que Draco, infelizmente, se recordava, e da qual ele preferia manter distância. Sua cabeça doía ao tentar afastar as lembranças inoportunas de sua mente. Ele observou Hermione abrir a boca em surpresa com o lugar.

Spectrum (Dramione)Onde histórias criam vida. Descubra agora