Capítulo 16

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Fogomaldito.

O céu encantado do Salão Principal estava escuro e salpicado de estrelas. As quatro longas mesas estavam ocupadas por alunos desarrumados, outros de capas de viagem e até havia alguns de robes. Ele podia ver os vultos branco-perolados dos fantasmas da escola dançando entre as pessoas do grande salão. Sem precisar olhar, ele sabia que todos os olhos, dos vivos e dos mortos, fixavam-se em Minerva McGonagall, que falava de cima de uma plataforma ao fundo. Seus olhos passaram por todos os outros que estavam atrás dela, professores e, que ele sabia, membros da Ordem da Fénix, trajados devidamente para a guerra que estava por vir.

Sentado desconfortavelmente com seus colegas na mesa da Sonserina, buscou pelos cabelos castanhos e volumosos, com os longos cachos desgrenhados pelo salão. Seus olhos passaram devagar pela mesa da Grifinória, procurando em todos os rostos os olhos âmbar que havia se habituado, ainda que não admitisse a si mesmo. Era o fadigoso sentimento de que precisava protegê-la, por ter sacrificado tudo para isso. Mesmo que não fosse mais sua obrigação, ainda havia a sensação de que Harry Potter e o incompetente do Weasley a matariam, jogando tudo o que havia feito para o ar. Jogando no lixo as vidas que havia arriscado. Sua vida, a vida de sua mãe e de seu pai.

Ele havia arriscado tudo ao não os entregar assim que apareceram na Mansão Malfoy. Havia arriscado tudo ao não entregar Potter, ainda reconhecível mesmo com o rosto deformado, ainda mais quando percebeu que não conseguiria ver Hermione Granger ou qualquer outra pessoa, quão sujo fosse seu sangue, ser torturado daquela maneira por alguém. Ele precisava manter a esperança de que um dia o ofídico cairia e por fim deixaria ele e a sua família em paz e por isso ele mentira. Havia mentido para seu pai, para a sua tia, para a sua mãe e para o Lorde sobre saber quem era o garoto com o rosto desfigurado.

Draco Malfoy era fraco e seu pai sempre estivera certo quanto a isso. Era fraco por não se entregar como ele havia se entregado ao Lorde e aos deveres de Comensal. Era fraco por não ter conseguido um lado definitivamente, sendo forçado a aquilo.

Ele tentava lutar contra o exaustivo sentimento de precisar protegê-la, ainda mais quando a reciprocidade era óbvia, ainda que se recusasse a aceitar que Granger não se sentisse muito diferente em relação a ele, ainda que com sua petulância. No entanto, mesmo lutando, ele sabia que era o único que conhecia seu real estado. Ele havia sido o único a ver o sangue e seus surtos ocasionais de dor. Era o único que poderia ajudar ao que passava despercebido pelos olhos de seus amigos.

Seus pensamentos foram interrompidos por outra voz que ecoou pelo salão. A voz aguda, clara e fria que ele já conhecia e que parecia sair das próprias paredes do castelo.

"Sei que estão se preparando para lutar."

Ele não precisou olhar para saber que os alunos estavam assustados e procuravam em vão a origem da voz. Parecia que ele estava ali, ao seu lado e seu coração acelerou por um momento imaginando o seu fim, após ser pego.

"Seus esforços são inúteis. Não podem lutar comigo. Não quero matar vocês. Tenho grande respeito pelos professores de Hogwarts. Não quero derramar sangue mágico."

Draco passou seus olhos pelos alunos assustados, procurando mais uma vez pela garota.

As palavras eram inúteis e vazias. Voldemort já havia derramado sangue mágico desnecessário para chegar onde estava e não se importaria em derramar um pouco mais. Sem esperar pela reação dos alunos ou o fim do discurso do ofídico, Draco Malfoy andou para fora do salão em busca de salvar a si mesmo e a garota por quem havia arriscado sua vida. A garota que era sua redenção e o caminho para se tornar alguém melhor futuramente.

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