Capítulo 8

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Marcas

A sala escura era iluminada apenas por um abajur velho, que por vezes falhava, em cima de uma mesinha de madeira igualmente velha. Ao lado, a poltrona empoeirada e rasgada em muitos cantos era ocupada por Hermione Granger. A menina tinha as pernas dobradas em cima do móvel e um enorme livro de feitiços apoiado nelas.

Quando o abajur falhou mais uma vez, Hermione o fechou de supetão, parecendo um tanto irritada. Respirou fundo antes de esticar o braço e pegar o vidrinho com um liquido transparente sobre a mesinha de madeira e virar um pequeno gole em sua boca.

Dois dias haviam se passado desde sua conversa com Draco Malfoy e também fazia dois dias que procurava por soluções para o problema que tinham. Ela precisava sair dali e avisar a Harry sobre tudo o que descobrira. A questão era que o feitiço usado por Malfoy para escondê-los era complexo demais e tudo o que os livros diziam era que, caso houvesse um erro ao realizá-lo, não havia um tempo certo para sua duração, pois essa poderia variar para apenas alguns dias ou há anos, o que era assustador.

Não conseguia imaginar como seria passar anos ao lado de Malfoy, sem poder ver ninguém. Sem saber o que acontecia do lado de fora e, o pior, sem que ninguém se lembrasse deles, ainda mais em um lugar que a matava aos poucos. Hermione Granger não sabia quanto tempo mais duraria ali e também não sabia quanto tempo mais poderia usar a água do lago ao seu favor.

Ela se levantou da poltrona e caminhou até as estantes de ferro empoeiradas, colocando o volume em suas mãos no lugar em que o pegara. Caminhou em direção a poltrona novamente apenas para pegar a água que tanto precisara nesses últimos dias e que, aliás, estava acabando.

Saiu do cômodo sem se importar com o abajur ligado, afinal, ela sabia que logo ele se apagaria de vez, como sempre acontecia quando ficava muito tempo trancafiada ali, lendo os livros de feitiços dispostos na biblioteca escura.

Era desesperador andar pelo corredor cheio de portas até chegar ao seu quarto. Hermione não fazia ideia de quanto tempo havia ficado ali, mas a curiosidade que a dominava para saber o que havia por trás das portas há muito tempo se passara. Depois de ver a sala repleta de caldeirões e que cheirava sangue, Hermione arrepiava-se apenas ao pensar no que mais poderia haver naquele lugar. Limitava-se apenas a caminhar até a biblioteca e, por vezes, até a cozinha.

Ao chegar em frente ao seu quarto, Hermione parou na porta, avistando os cabelos platinados já tão conhecidos. Draco Malfoy estava de pé, observando o lado de fora da cabana pela janela. Parecia entretido com o vislumbre das árvores do lado de fora.

Era comum que o garoto se vestisse de maneira que sua pele se contrastasse com a cor da roupa, usando apenas cores escuras. Dificilmente era outra cor além do preto, mas naquele dia ele vestia branco e, pela primeira vez desde que chegara ali, Hermione pode avistar o anel dos Malfoy em seu dedo.

Ela adentrou o quarto, fazendo o menino olhar em sua direção com os olhos cinza opacos.

Hermione limitou-se a encará-lo sem dizer nada. Sabia que se abrisse a boca não conseguiria evitar o xingar por usar um feitiço que ele não sabia realizar, ainda que suas intenções fossem boas.

— Achou algo? — Draco perguntou, fazendo sua voz sair rouca.

Ela balançou a cabeça negativamente, sentando-se sobre sua cama.

Malfoy bagunçou os cabelos, daquele mesmo modo que fazia quando estava nervoso com alguma coisa. Em tão pouco tempo, Hermione conseguia decifrá-lo e ela sabia que ele já se culpava o suficiente para que falasse ainda mais em sua cabeça.

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