Capítulo 15

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Detalhes.

Hermione conseguiu enfim respirar quando a multidão se dissipou pela sala, podendo soltar o ar que parecia estar preso em seus pulmões fazia horas. A pontada que se seguiu já lhe era familiar, quase que como se fizesse parte dela. Ela começava se habituar a todas as consequências ao seu corpo após o período que passara com Draco Malfoy, inclusive os impertinentes arrepios que sentia ao estar próxima demais do garoto pálido.

Com a mão apoiada em uma das paredes do local, Hermione passou os olhos pela sala, podendo observar calmamente o ambiente. Era nítido como todos estavam animados após a chegada deles, era como se enfim houvessem reacendido a esperança em seus olhos. Eles pareciam saber que algo aconteceria a partir daquele momento e ambos os alunos ali escondidos pareciam estar dispostos a ajudar com o que fosse preciso. Exceto por aqueles cabelos platinados, tão afastados dos outros.

Hermione o observou por alguns instantes, sentindo seu estômago revirar pelo turbilhão de pensamentos que invadiram sua mente. Ele estava parado, encostado na parede em um canto mais afastado, quase como se quisesse passar despercebido aos outros, com os olhos opacos focados em algum ponto em sua frente.

Era visível o desconforto em sua postura, talvez pela discussão que sua presença houvesse causado ao grupo de alunos mais cedo, ou talvez por estar em um local onde havia pessoas que há tanto tempo Draco Malfoy destilara sua fúria, sempre deixando claro sua completa repulsa. Hermione não saberia dizer qual seria o motivo, mas poderia deduzir o óbvio: Draco não tinha mais a postura de antes; aquela postura orgulhosa e infame, a qual intimidava tantas pessoas. Era um espectro vazio, ao qual não amedrontaria mais ninguém, além de si mesmo, com suas dores e remorsos.

Mesmo que quisesse passar despercebido após o episódio do julgamento, ela sabia que seria inviável, já que a própria Sala fez questão de contabilizar mais um brasão, além dos outros três que já se estampavam ali. Dessa forma, uma reluzente tapeçaria verde e prata sobressaiu-se sobre as outras. A única que faltava. A única que provavelmente todos ali depreciavam.

Com um suspiro calmo, Hermione deixou de se apoiar a parede, traçando o caminho até o garoto que observava. Seus olhos cinzas caíram sobre ela rapidamente, enquanto seguia com passos curtos até ele. Não saberia bem o que diria, ou o porquê estava indo até lá, mas imaginava que seria o certo a se fazer.

Hermione apoiou as costas na parede ao chegar ao seu lado, respirando pesadamente, enquanto escorregava até o chão, aliviando as dores em seu peito e pulmão. Com um gemido de sofreguidão ela suspirou. Seu peito se apertava como se tivesse caminhado por horas a fio.

— Por que não está com o Potter e o cabeça-de-cenoura numa aventura emocionante? — ela ouviu Malfoy murmurar amargo e irônico.

Num reflexo, Hermione virou um pouco seu corpo, puxando a bolsinha para a frente para que pudesse abri-la e procurar o que precisava com tranquilidade.

— Está com ciúmes, Draco? — respondeu espontaneamente, ainda mexendo distraída em sua bolsinha.

Hermione só percebeu o silêncio que se instaurou após achar o que procurava. Retirou o pequeno frasco da bolsa e encarou Draco, que mantinha os olhos cinzas sobre os dela com curiosidade. Não foi difícil entender o porquê, Hermione sabia o que havia feito, não só uma, como várias outras vezes. Ela começava a se habituar ao garoto e era como se seu cérebro forçasse uma intimidade que, obviamente, não tinham e nem gostariam de ter um com o outro.

— Desculpe — pediu envergonhada, sentindo subitamente seu rosto esquentar.

— Melhor tomar isso logo, Granger. — Desviou o olhar, enquanto falava em um tom neutro.

Ela não conseguia identificar o que o garoto sentia e não saberia dizer se isso era uma das tantas consequências de carregar o sobrenome que carregava. Hermione também desviou seus olhos, seguindo sua sugestão e virando o líquido incolor por entre seus lábios, sentindo automaticamente uma leveza sobre seu corpo. Era comum que após tomar a água se sentisse daquela maneira, porém sabia que não duraria muito tempo até as dores voltarem ao seu corpo, podendo voltar aos episódios com sangue que Draco a ajudara passar com algum feitiço que ela ainda não conhecia.

Era interessante como Malfoy conhecia tantos feitiços de cura e proteção. Era óbvio que ela tinha conhecimento de sua inteligência, pois dificilmente o garoto tirava notas medianas, e com orgulho sempre mostrara a todos sua eficiência nas aulas durante seus anos em Hogwarts, mas era curioso seu conhecimento sobre feitiços desse tipo.

No entanto, ela sabia também que a mágica não a ajudaria por muito tempo e precisaria encontrar algum tipo de ajuda para o seu problema, não sabendo se aquilo poderia ser resolvido apenas com um medibruxo especializado. Torcia para que sim, mas isso só seria possível acontecer quando aquela loucura de caças às Horcruxes terminasse e finalmente derrotassem Voldemort. Por enquanto, a água do lago a mantinha de pé, assim como Draco Malfoy, que parecia sempre estar atento aos seus mínimos movimentos.

Não era mentira que ela se sentia completamente observada pelo garoto desde o dia que acordara no quarto escuro da cabana. Diferente dela, ele parecia saber cada passo que ela daria e o que cada célula de seu corpo estava sentindo. Draco Malfoy parecia observá-la como nunca ninguém antes a observou, sabendo até mesmo quando tentava disfarçar uma pequena dor que subia pelo seu peito. Lembrava-se brevemente do episódio no Chalé das Conchas, onde a dor se alastrou pelo seu corpo e ainda que tentasse disfarçar, ele sabia. Ele sempre sabia. Ele a entendia como ninguém e isso a dava calafrios esquisitos.

— Obrigada, Malfoy — ela começou, desconfortável. Hermione se mexeu um pouco, tentando se ajeitar no lugar e afastando os tantos pensamentos em sua mente. Respirou fundo antes de continuar, sem olhar para o garoto. — Não sei se já agradeci.

Draco soltou um grunhido desentendido, como se pedisse para que ela explicasse o que estava querendo dizer. O porquê estava pedindo desculpas.

Ela o encarou por alguns segundos, sendo tomada pelos cinzas de seus olhos brevemente, antes de afastá-los novamente, virando seu rosto ao lado contrário. Ela fingiu observar a sala, mas sua cabeça rodava entre as diversas vezes que sentira Draco Malfoy tão próximo como nunca estivera antes e se perguntando o porquê de agradecê-lo naquele momento.

— Obrigada por me salvar. Não só na... — ela pensou antes de falar. — M-mansão — gaguejou, nervosa. —, mas também agora.

O silêncio se instaurou novamente. Ainda que se sentisse envergonhada, sabia que aquele era o momento para agradecê-lo por tudo o que fazia, afinal, a partir dali não saberia o certo o que aconteceria, ou onde precisaria estar quando Harry voltasse com respostas. Hermione mal sabia se sairia viva daquela guerra prestes a explodir e por isso ela precisava tirar o peso de suas costas. Ela precisava dizer tudo aquilo a ele, ainda que seu rosto queimasse e seu estômago revirasse com o constrangimento. Ela jamais imaginou que agradeceria a ele por salvar sua vida, não só uma, mas diversas vezes.

— Eu te disse uma vez, Grager, e direi de novo — ele foi rude em sua fala, quase como se empurrasse seu peito para afastá-la. — Não somos amigos e nem nunca seremos. Você não precisa me agradecer por nada — completou, mais grosseiro ainda.

Hermione retornou a encará-lo, agora não mais constrangida, mas aborrecida. Pode observá-lo olhar para algum ponto em sua frente, com a expressão indecifrável.

Ela ouviu a voz de Rony chamando-a ao longe e, evitando mais hostilidade da parte do garoto, Hermione se levantou, dando pequenas batidas em suas vestes para limpá-las antes de caminhar para longe do local onde ele estava, decidida a não mais encontrá-lo até que tudo aquilo acabasse. Ela não queria encontrá-lo, até que realmente precisasse fazer aquilo.

Spectrum (Dramione)Onde histórias criam vida. Descubra agora