Hana
Tem uns vinte minutos que todos estão saindo e até agora nada do Rico sair do estúdio. Sabia que não podia interromper o ensaio, mas preciso muito conversar com ele. Não posso esperar que ele decida aderir ao nosso trabalho. Sei que ele vai fugir o quanto for possível, e algo me diz que não posso confiar que realmente na sua capacidade de discernir o que é melhor.
Mesmo que ele me peça para ficar longe, não tem outra saída a não ser enfrentá-lo novamente. Levanto do sofá e me dirijo ao estúdio. Antes que eu possa entender o que aconteceu estou sendo pressionada contra a parede por um corpo musculoso.
— O que você quer aqui? — pergunta, com a respiração acelerada em meu ouvido, percebo uma agitação nada natural. — Por que fica me perturbando?
— Rico, precisamos conversar.
— Quem você pensa que é para ficar me controlando? Acha que preciso de mulher como você? — Ele se afasta com um olhar transtornado. — Tenho filas de mulheres implorando por um pouco da minha atenção.
— Rico, o que está acontecendo?
— Você só está perturbando a minha mente. Antes de você aparecer estava tudo bem, agora vem com essa história de que estou doente. Cai fora da minha vida, desapareça.
— Rico?! O que deu em você? — Não consigo impedir que ele saia igual um foguete porta a fora.
O que eu fiz? Não sei o que deu nele...
***
Entro no quarto e faço uma coisa que eu não queria, mas terei que fazer.
— Pivete! Como você está? — Em breve o Hugo vai chegar de viagem e mais cedo ou mais tarde saberá tudo que está acontecendo.
— Oi Gugu, estou morrendo de saudade de vocês... Como está a Mai? Está cuidando direitinho dela e do meu bebê?
— Seu bebê? Desde quando o meu bebê virou sua propriedade?
— Não seja chato, Gugo. Você não vai me impedir de paparicar e mimar esse sobrinho. Mas, me diga. Quando você volta? Por favor, não demore, minha vida não é a mesma sem poder perturbar você.
— Diga logo do que precisa irmãzinha, sei que essa bajulação toda não é à toa.
— O nosso novo cliente... — Respiro fundo e conto toda a história, exceto a parte de ter ficado presa e a minha vingança. Isso ninguém precisa saber. Para minha surpresa o Hugo escuta calado, sei que é um bom sinal. O Gugo antigo já teria estourado preocupado com as consequências para o nosso trabalho. Quando me calo ele apenas pergunta:
— Você por acaso está gostando do Rico?
— Gugo, por que isso agora? Foi só uma transa como outra qualquer.
— Pelo que você me contou não foi uma transa, foi a transa. E eu bem te conheço para saber que se me ligou para conversar sobre esse cara, é porque ele está mexendo com você mais do que gostaria.
— Que merda é ter um irmão psicólogo.
— Apenas irmão Naninha... — Sem sombra de dúvida o meu irmão me conhece.
— Eu sei exatamente o que fazer para tratar o Rico, Gugo. Não venho fazendo outra coisa além de estudar tudo sobre esse transtorno, mas, de verdade, não sei como fazer com que ele aceite a minha ajuda.
— Aprenda uma coisa irmãzinha, ele não tem controle sobre as suas ações. Ele é totalmente dominado pela compulsão. Sua mente não vai operar racionalmente. Saiba que ele vai fugir; vai mentir descaradamente o quanto puder para evitar a interrupção do vício ou a retomada. Isso é exatamente igual a qualquer outro vício. Os viciados em drogas não roubam, matam por uma picada ou uma cheirada? O padrão é o mesmo. O que você vai ter que fazer é manter a sua mente aberta. Não julgue, não cobre, ele precisa de apoio e não de pressão. Acho que você começou errado.
— Pode ter certeza. — Ele mal sabe o quão errada eu fui. — Apesar de ter enxergado os sinais da doença, eu estava contra ele e não ao seu lado.
— Exatamente, repense as suas ações e se precisar não cogite em me ligar. O seu irmão sempre vai estar aqui, não apenas o psicólogo.
— Eu sei, Gugo. Te amo.
— Também te amo, pivete.
Preciso de mais informações sobre essa doença. Não posso perder o controle e muito menos a confiança do Rico. Pego o meu notebook e abro uma videochamada para o Fred, ele é o psiquiatra da Liga da Alma e poderá esclarecer tudo que preciso.
— Oi Fred, sei que não agendei o horário para essa conversa, mas se estiver disponível gostaria de esclarecer algumas dúvidas sobre o nosso novo cliente.
— Claro, Hana sempre estarei a sua disposição. — Ele não cansa dessas insinuações, que nunca identifiquei se é por brincadeira ou não. — Eu já estou com algumas informações que a Cristina me passou, parece que temos uma suspeita de transtorno do comportamento sexual compulsivo?
— Exatamente. Eu gostaria de saber mais sobre o diagnóstico, nunca havia me deparado com um caso e estou um pouco confusa com as atitudes dele. Tem momentos que eu acho que está agindo normalmente, em outros vejo coisas exageradas. Você poderia me falar um pouco sobre a doença. Sei que ainda vai demorar para que o convença a ter uma conversa com você, por isso, até lá, tenho que fazer essa ponte.
— Perfeitamente. O ponto principal que diferencia o viciado ou a pessoa que sofre do transtorno é a falta de controle por seus impulsos. É claro que podemos ter vários casos, desde o extremo até o mais leve, que seria a pessoa na fase inicial da doença. A pessoa é incapaz de enxergar riscos ou limites na busca pelo prazer, à medida que o quadro progride, o paciente precisa de muito mais estímulos para se satisfazer. É como a droga, cada vez o viciado precisa de mais. — Ele vai falando sobre a doença e uma angústia prende o meu peito. É doloroso saber que o Rico pode mesmo ser uma vítima dessa compulsão. — Existem sete características que auxiliam no diagnóstico. A pessoa que apresenta pelo menos três delas no último ano, pode ser classificada com compulsiva: Tolerância; é o que já mencionei, ele precisa de cada vez mais estímulo para alcançar o mesmo prazer. Abstinência; ele vai apresentar mal-estar físico e psíquico se tentar parar com a prática. Descontrole; ele vai tentar controlar a situação, mas não consegue. Sofrimento; o doente sofre por não conseguir parar. Isolamento; passa a faltar aos compromissos por conta do vício. Histórico familiar; podem existir outros casos na família ou a pessoa pode ter sido vítima de abuso na infância.
— E existe tratamento? — Preciso saber que existe uma saída. — Como é o tratamento?
— Se você quer saber se existe cura, a resposta é não. Assim como não existe ex alcoólatra. Mas, ao mesmo tempo, existem muitos viciados que levam uma vida perfeitamente normal. O tratamento é terapia, medicamento e acompanhamento profissional. Se o paciente colaborar, pode ter uma vida tranquila.
Depois de encerrar a chamada e ficar um tempo olhando para o nada, já sei o que tenho que fazer.
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Meu Prazer (Liga Do Sucesso - Livro 2) Degustação - Livro Independente
RomanceO que você faria se te privassem do seu maior prazer? Hana Bernard, sexóloga da Liga do Sucesso chega a Goiânia para um trabalho desafiante: Tratar um cantor com a vida sexual desregrada. Por ironia do destino, o primeiro encontro com o seu cliente...